Billie Eilish: A rockstar da geração Z

Billie Eilish já era conhecida nas profundezas dos adolescentes amantes de pop alternativo, com suas letras melancólicas e voz harmônica (que, mesmo que não atingindo notas altíssimas ou difíceis, o que muita gente usa como argumento para desmerecer os prêmios vencidos, é capaz de construir camadas excelentes). Mas foi com o álbum de estreia que ela criou essa esfera meteórica ao redor de si.
[ANÁLISE] Billie Eilish, a rockstar da geração Z
[ANÁLISE] Billie Eilish, a rockstar da geração Z

Eu poderia começar essa análise perguntando se você conhece Billie Eilish, o novo meteoro musical, e dizer que se você não conhece, provavelmente morou debaixo de uma pedra no último ano. A verdade é que nem eu conhecia tão bem a tão reconhecida revelação do ano pelo Grammy Awards (a única mulher a conquistar as quatro principais categorias na história da premiação, inclusive). Sim, tudo isso aos 18 anos. 

Eu, no auge dos meus 22, vendo que a americana poderia ser facilmente uma amiga a qual você conhece em uma noite num barzinho ou numa boate alternativa qualquer, tive o prazer de conhecer seu trabalho meses antes que ela fosse considerada a rockstar da geração Z, o público que cresceu na era pós-anos 2000.

Tal qual uma adolescente mediana dessa década, Billie era apenas uma garota fazendo música em seu próprio quarto com a ajuda do irmão (Finneas O’Connell, outro que se revelou um dos principais produtores do último ano; seria a “revelação” algo de família?), como ela mesma comentou no momento que venceu uma das categorias. “When We All Fall Asleep, Where Do We Go?”, de fato, não tem nada elaborado demais. No entanto, o que surpreendeu foi a complexidade as quais essas simples camadas musicais foram construídas.

Billie Eilish ganhou as quatro principais categoriais da noite: Revelação, Melhor Álbum de Pop Vocal, Melhor Música e Melhor Álbum. Foto: Reprodução/Divulgação
Billie Eilish ganhou as quatro principais categoriais da noite: Revelação, Melhor Álbum de Pop Vocal, Melhor Música e Melhor Álbum. Foto: Reprodução/Divulgação

Fã declarada da versão americana de “The Office” (o que só reforça a minha teoria de que ela é mais próxima do seu público como se imagina), Billie tomou a liberdade de até mesmo usar um dos icônicos episódios protagonizados por Michael Scott (Steve Carrell) em suas grandiosas ilusões cinematográficas como “Michael Scarn”. “My Strange Addiction” tem pouco a ver com a temática do episódio em si, mas foi curiosa a sacada de usar o personagem “Billie” como se estivesse, na verdade, conversando com a cantora – no, Billie, I haven’t done that dance since my wife died.

Billie Eilish já era conhecida nas profundezas dos adolescentes amantes de pop alternativo, com suas letras melancólicas e voz harmônica (que, mesmo que não atingindo notas altíssimas ou difíceis, o que muita gente usa como argumento para desmerecer os prêmios vencidos, é capaz de construir camadas excelentes), mas foi com o álbum de estreia que ela criou essa esfera meteórica ao redor de si.

Eilish é dona de uma sensibilidade digna de escritora de best-seller. A própria revelou que algumas de suas músicas são, na verdade, ficcionais, misturadas com situações vividas por ela e o irmão. Isso só prova uma das coisas mais interessantes e, ao mesmo tempo perturbadoras, da adolescência: a capacidade em transformar tudo em algo maior do que realmente é, e menor do que realmente parece ser.

Em seu álbum, Billie questiona aspectos importantes durante a busca pela sua própria identidade num período tão conturbado: em “Xanny”, a cantora confessa o quão ridícula é a obsessão da juventude em usar drogas para conseguir aproveitar os momentos ou se divertir minimamente. Em uma era digital tão depressiva, tão combativa e bipolar entre os grupos sociais, torna-se cada vez mais difícil ser (ou descobrir) quem você é, pois a necessidade de um lubrificante social é cada vez mais indispensável para uma boa convivência.

Ainda que Billie Eilish faça um trabalho primoroso com sua simplicidade, lapidado de forma extremamente delicada e despretensiosa, um aspecto nela desperta em mim uma lembrança muito forte de alguém que, assim como ela, quebrou as barreiras dessa fase pós-adolescência. A década passada foi marcada por outra cantora que seguiu o mesmo caminho, da delicadeza ao síndrome do jovem em seu habitat mais natural, o caos: Avril Lavigne, a rockstar da geração millennial.

O que assemelha Avril Lavigne de Billie Elish não é o estilo musical, tampouco personalidades, mas sim as fases que viveram. De fato, a adolescência e o fim dela, o “olá” para a fase jovem-adulta, é horrível para todo mundo. Muitos de nós, enquanto falamos sobre isso, nos lembramos dando risada dos “micos” e das “paixões das nossas vidas” vividas de forma intensa, talvez até demais. Os momentos depressivos, as fases eufóricas, a descoberta de aspectos sombrios na personalidade de pessoas que juramos que conhecíamos muito bem. Nós mesmos nos assustamos em pensar como crescemos.

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Lavigne tem uma legião de fãs que, na sua época mais jovem, acompanharam vividamente seus amores e suas dores. Eles a viram se apaixonar, casar, divorciar, e hoje, a “black star” traz à tona uma nostalgia um tanto quanto gostosa enquanto mescla com novas experiências em sua carreira. Não se pode supor que Eilish seguirá o mesmo caminho, mas já vimos este filme antes. Segundo ela, o próximo álbum virá “mais maduro”, mas isso também não quer dizer muita coisa – é apenas uma fase.

Isso não a desmerece, de forma alguma. É importante sempre existir ícones que marcam uma geração ou determinado grupo de pessoas. Alguém precisa gritar as angústias e as felicidades por nós. Que seja tão jovem quanto a gente, que nos escute, por mais que, na maioria das vezes, seja “bobeira”. Mais do que isso, precisamos de alguém que nos relembre, sempre, a intensidade da adolescência, que nos dá adrenalina e se ressignifica com o tempo, com novas experiências.

Isso não é um fenômeno novo. Foi como aconteceu com Janis Joplin, ícone da geração boomer. Ou Kurt Cobain, ícone da geração X – e considerado “o último grande rockstar”. Será mesmo?

Tudo bem se você não faz parte do “público-alvo” da época. Ainda assim, é bom apreciar coisas novas, dar espaço aos novos ídolos e entender que cada geração precisa de um porta-voz. Afinal de contas, música é feita justamente para isso: contar histórias que atravessam as gerações.

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