Posicionamento Musical: One True Reason fala sobre o momento político, trabalho e futuro

O ambiente musical é, e sempre vai ser, um poli ambiente, onde música, política, movimentos sociais e, principalmente, lutas diárias se encontram. O hardcore é justamente isso: uma junção de críticas sociais, posicionamento político e fúria com a sociedade. É nesse sentido, e mais do que nunca em tempos sombrios onde governos tentam a todo custo doutrinar a sociedade com discursos de ódio a cada esquina, que movimentos artísticos e sociais são importantes, para ajudar a dar um respiro e uma esperança de união para aqueles que não simpatizam com o que é pregado.

Nesse sentido, o hardcore antifascista entra, com força sobre-humana, na luta contra essas doutrinas de ódio, e não só ele, como outros estilos ligados ao rock. Podemos citar bandas engajadas politicamente, e que seguem essa linha do antifascismo: Rage Against The Machine, onde os membros são ativos em protestos e movimentos ligados ao mundo quando assunto é repressão social e política; os caras do Pearl Jam, que levam a mesma integridade e luta nas veias, e também, os caras do Anti-Flag, que trazem um punk sujo e cheio de críticas.

No nosso cenário também contamos com bandas engajadas no movimento antifascista, e que pregam em suas letras e ações essa bandeira. Podemos citar como exemplo os caras do Surra (trashpunk), Paura (hardcore), Escombro (hardcore), e os velhos conhecidos do Dead Fish (hardcore), onde todos fazem parte, ou pelo menos já participaram de alguma edição do evento “Hardcore contra o fascismo”, idealizado justamente para propagar a mensagem de esperança em tempos difíceis, levando conhecimento e música para as ruas de São Paulo, com intuito de ocupar as ruas de todo Brasil. Outra banda destaque nessas vertentes é o One True Reason, paulistanos que desde 2003 espalham a palavra correta aos ouvidos daqueles que querem ouvir. E foi com eles que a equipe do Rocknbold trocou uma ideia sobre o momento que estamos vivendo, posicionamento dentro da música, e algumas coisas da banda em si. Confere aí o papo com o vocalista Diego Silvera!

Foto: One True Reason / Pedro Henrique

Rocknbold – Pra gente começar, como foi o surgimento da One True Reason?

Diego Silvera – Alguns membros da banda já tinham alguns projetos musicais, mas a banda “One True Reason” propriamente dita, surgiu em meados de 2003, depois que eu (na época baterista) e o atual guitarrista, Alexandre, entramos para a banda, aí que decidimos todos juntos pelo nome e em compor em inglês, influenciados diretamente pelas bandas que curtimos naquela época e curtimos até agora, como Strife, Madball, Terror, Hatebreed, etc.

Rocknbold – A One True Reason tem 4 trabalhos de estúdio, qual deles vocês consideram o mais maduro e por quê?

Diego Silvera  – Nós começamos bem novos e sem experiência nenhuma, a cada ensaio/show a gente amadurece, e acredito que a cada cd tentamos fazer algo mais sério e alinhado com as vivências de todos os membros. Então acredito que o último álbum ‘Defiance’ é o que está mais alinhado ao amadurecimento da banda. Tanto na parte instrumental, quanto nas letras.

Foto: One True Reason / Pedro Henrique

Rocknbold – O último single, “Burn”, vem com uma mensagem de oposição a diversas práticas sociais como a homofobia, a xenofobia, o racismo, fascismo. Qual a importância de se tratar disso na música e, principalmente, nesse tempo que estamos vivendo?

Diego Silvera – Pra gente é muito importante se posicionar sempre e mais ainda no momento sombrio que estamos vivendo. Acreditamos que a letra de “Burn” é praticamente o grito entalado na garganta de uma grande parcela da população que não aguenta mais tanto retrocesso e opressão.

Rocknbold – Fazendo um link com a pergunta anterior, ano passado vocês participaram do evento “Hardcore contra o fascismo”. Esse evento é um alívio para o momento que estamos vivendo?

Diego Silvera – O Hardcore contra o Fascismo é essencial, pois o hardcore por si só sempre foi um movimento de contestação e questionamento. Nessa época é muito importante ocupar espaços, ir pra rua, mostrar que não estamos passivos com tanta opressão. Participamos também de outro hardcore contra o fascismo no extremo sul de São Paulo na periferia, e acho que esse é o grande intuito do primeiro evento, incendiar os corações e incentivar a reprodução por todos os cantos de São Paulo e Brasil.

Rocknbold – No último álbum, mais especificamente na quinta faixa intitulada “In This Hell”, vocês contaram com a presença do Andrew Neufeld, vocalista da banda canadense Comeback Kid. Sabendo que eles são referência para o hardcore mundial, qual foi a sensação?

Diego Silvera – No momento que a gente recebeu os arquivos de voz que o Andrew gravou na casa dele durante uma mudança foi bem emocionante. O Comeback Kid, sempre foi uma referência pra gente, já tivemos oportunidade de dividir o palco com eles no Brasil, Argentina e Chile. Ter esse registro dele no nosso cd nos deixa muito felizes.

Rocknbold – E pra gente fechar, quais os planos da One True Reason para o futuro?

Diego Silvera – Nossos planos são os mesmos que nesses últimos 17 anos:  se juntar, fazer o barulho que a gente gosta independente de tendências ou modas, fazendo da banda uma válvula de escape do dia a dia. Por conta da pandemia de Covid-19, nossos planos mais pontuais foram adiados, que seria gravar algum EP e mais singles. Agora estamos todos focados em passar por este momento com saúde e principalmente saúde mental, evitando qualquer risco para nós e as pessoas que nos rodeiam. Quando tudo isso passar, e vai passar, estaremos aí todos juntos, fazendo barulho, gritando lado a lado, e fazendo aquela aglomeração que o cidadão de bem não gosta haha.

Queremos agradecer pelo espaço e desejamos a todos muita força! E lembrem que podemos estar isolados em casa (idealmente), mas ninguém está sozinho!

Se posicionar é muito importante, mais uma vez, principalmente, em momentos como esses que estamos vivendo. Use da música, independente do estilo para se expressar e, também, expressar descontentamento, medo, angústia, e o que mais sufocar nesse período. A música é a mais bela das expressões artísticas (pelo menos ao meu ver), use e abuse dela! E pra você que curtiu o pensamento dos caras e quer conhecer o som, deixo o último trampo de estúdio deles aqui em baixo. Força pra todos, e como o Diego disse: NÃO ESTAMOS SOZINHOS!

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