Katy Perry em Smile: A síndrome do Pagliacci no pop

Katy Perry amadurece a ideia de “pop com propósito” em Smile, sucessor de Witness.
Katy Perry em imagem promocional de "Smile".
Katy Perry em seu novo álbum “Smile”| FOTO: Divulgação.

Um dos grandes nomes do pop desde o final da década de 2000 traz seu novo álbum. Katy Perry em Smile explora e traz elementos de álbuns anteriores, mas desde Prism, algo não funciona tão bem. Venha conhecer um pouco mais desse projeto!

A cantora Katy Perry conquistou muitos fãs desde seu primeiro álbum usando este nome (seu primeiro álbum foi o autointitulado como Kate Hudson, lançado em 2001). One Of The Boys trouxe diversos hits, um visual diferente, letras irônicas, divertidas e mostrou que Katy tinha algo precioso sendo construído, mas ainda precisava passar pelo teste do segundo álbum.

Trabalhos Anteriores: Do Pop Perfection de Teenage Dream ao Witness

Katy Perry no clipe de "California Gurls", um dos singles de seu segundo álbum.

Teenage Dream foi lançado em 2010 e foi um sonho para muitos fãs da cantora. O projeto seguiu na linha de letras divertidas, um pouco mais ácidas e apimentadas, o que também ajudou a cativar novos admiradores ao redor do mundo. Os singles marcaram a vida de muitas pessoas com os hits: “California Gurls”, “Last Friday Night”, “Firework”, “ET” e claro, “Teenage Dream”. Além de transcender com esse álbum, provou que o sucesso do primeiro projeto não era apenas uma feliz coincidência.
O álbum até hoje é relembrado como o Pop Perfection da cantora.

Prism veio em 2013, também apelando para a estética fantasiosa e extremamente bem produzida que Katy sempre gostou de explorar (e que faz isso muito bem). Os cinco singles escolhidos para esse projeto foram bem escolhidos, “Roar”, “Unconditionally”, “Dark Horse”, “Birthday” e “This Is How We Do”. O mais complicado e o que rendeu comparações foi por Katy não conseguir manter o nível que desenvolveu com o seu trabalho prévio, mas já dava indícios do futuro de sua carreira. Um amadurecimento sutil em seu trabalho, mas necessário, ainda embalado por hits marcantes.

Witness, antecessor de Smile, traz uma Katy Perry mais madura sobre seu próprio trabalho e foi lançado em 2017. O baixo rendimento comercial também se deu ao fato de se distanciar de apenas entretenimento para tentar causar algum impacto na vida de seus fãs. O duplo sentido e um lado mais sombrio da artista afastou os fãs, o mais próximo do pop que ela apresentava anteriormente foi com o single “Swish Swish”, ao contrário de “Chained To The Rhythm”, “Bon Appétit”, “Hey Hey Hey” e “Save As Draft” (S.A.D.), músicas mais sérias, mas ainda assim, dançantes.

Smile: O álbum não tão otimista quanto seu título.

Katy Perry em "Smile"
Katy Perry “Smile”. | FOTO: Divulgação.

Primeiramente, a data de lançamento do sexto álbum de estúdio da cantora foi divulgado pela inteligência artificial Alexa, da Amazon. A data divulgada para a estréia era 14 de agosto. Entretanto, por problemas inevitáveis de produção (como alegou a cantora), o álbum adiou o lançamento em duas semanas. A nova data sendo 28 de agosto, na mesma semana em que Teenage Dream completou 10 anos. Apesar disso, criou o #SmileSundays, lives que aconteceriam todo domingo por 30 minutos desde 2 de agosto. Os horários não eram definidos, mas seria repassado aos fãs – isso se sua filha não nascesse antes. Katy Perry então teve duas realizações semana passada, já que Smile veio apenas dois dias depois do nascimento de sua primeira filha, Daisy.

Primeiramente, nesse álbum a principal mensagem é sobre encontrar a luz no fim do túnel, compreender sua jornada e cantar sobre os altos e baixos de sua vida. Por outro lado, o termo “pagliacci” do título é apenas para reforçar o fato de que Katy sempre cantou músicas divertidas, com letras irônicas, fazendo o público dançar, vestindo roupas exuberantes, mas mesmo assim, continuava triste, como se algo estivesse faltando.

O início pessimista

As primeiras músicas de Smile demonstram o início pessimista da jornada. “Never Really Over” foi lançada em maio de 2019, quando não imaginávamos que um álbum estava a caminho. O tema central são as relações românticas que não conseguimos deixar ir, sentimentos que vão e voltam rapidamente, mas mesmo tratando de um assunto não tão leve, o ritmo dançante não desacompanha a cantora.

“Cry About It Later” talvez seja a música em que percebemos que, mesmo amadurecendo, o jeito de lidar com algumas situações continuam na mesma. A letra segue o tom pessimista, uma das maneiras de adiar as pequenas grandes tristezas da vida adulta. A batida é excelente para dançar chorando, não seguindo a recomendação da cantora na letra (desculpa, Katy). “Teary Eyes” se encaixa no momento em que estamos vivendo, pessimista desde o primeiro verso. Reflete como estamos vivendo, o sentimento de nos manter firmes, mesmo pensando sobre tudo o que vivemos anteriormente, principalmente agora que temos tempo demais disponível para reflexões.

Tentando compreender as emoções

A parte Happy/Sad do álbum começa em “Daisies”, quarta faixa do projeto. Uma balada pop suave no início, mas que cresce exponencialmente até seu refrão, canta com uma força vocal no refrão como se essa música fosse sua libertação.

“Resilient” traz o lado otimista na reflexão de Katy, mas é mais lenta em comparação com as músicas anteriormente apresentadas. O primeiro momento de quebra de ritmo do álbum, uma versão mais comedida e limpa de “Firework”. “Not The End Of The World” lembra “Part Of Me” em sua primeira parte, como se fosse uma batalha interna sobre o misto de sentimentos. Até mesmo o título é adequado para o momento atual, uma canção otimista que tenta ver sobre uma nova perspectiva o que estamos vivendo. nesta parte, vemos que Katy está tentando aprender a visualizar outras perspectivas de suas emoções e se conhecer melhor.

“Smile”: O final feliz está a caminho?

A faixa que carrega o título do álbum está na segunda metade do projeto. “Smile” ganhou um videoclipe com tema circense, que também definiu a direção de arte do álbum. Na canção, aprender a sorrir novamente após adversidades é o tema central. lágrimas, rejeição e não ser genuinamente você, mas estar disposto a enfrentar tudo isso para tornar-se melhor. A melodia de um pop dançante e ingênuo disfarça as tormentas e sofrimentos expressos na letra.

“Champagne Problems” é o clipe mais recente. De modo que não poderia faltar num álbum pop, mais uma boa música para dançar pensando no “crush” (ou com ele). A letra é sobre encontrar um amor que prevalece mesmo nos períodos mais adversos, que sobrevive as tempestades. “Tucked” similarmente se aproxima dos trabalhos anteriores da cantora, não tão cativante quanto “Peacock”, uma música divertida que lembra o clima de verão do Hemisfério Norte, uma letra divertida onde amar não é mais um sofrimento e sim algo leve, alegre e espirituoso.

Assim como a anterior, “Harleys In Hawaii” é divertida e leve, mostra a Katy que já estamos acostumados, as letras com duplo sentido como uma boa escorpiana. O single foi apresentado em outubro do ano passado e a capa se assemelha com o conceito do álbum Blood, de Lianne La Havas. A batida é mais lenta e sensual, mas ainda assim dançante, com efeito de que, se tocasse em uma balada, as luzes diminuiriam e tentaríamos chamar atenção do crush.

Amadurecimento e reflexões finais no álbum

“Only Love” é uma redenção de Katy, uma carta de reparação e reconhecimento de seus erros, uma letra mais pessoal que mostra seu amadurecimento. Uma música mais lenta, com um toque de gospel, só para ilustrar, lembra em alguns elementos a música “Pray” de Sam Smith.

“What Makes a Woman” foi single promocional em agosto de 2020 e é dedicada a sua primogênita. A letra assemelha-se a um fluxo de pensamentos rápidos e contínuos. Encerra o disco de forma lenta, com a letra reflexiva, sobre prosseguir buscando seu verdadeiro eu, por analogia, uma incógnita ainda não respondida.

O projeto mostra o amadurecimento da artístico e pessoal da Katy Perry. A vida não é só alegria e o mundo pop pode sim trazer tristezas e amargor de forma leve, como a cantora sempre fez. A tênue linha entre o pop com propósito que ela queria trazer em Witness ficou mais palatável em Smile, por conta de ainda assim ser perfeito para dançar, sendo o maior trunfo do álbum.

A nostalgia que ela trouxe nos ritmos para nos fazer lembrar de músicas de projetos anteriores foi bem explorada, trazendo em uma época de revival dos anos 80 um revival em sua própria discografia. Busca em hits anteriores uma chance de seguir relevante no cenário musical, mas demonstra uma zona de conforto em sua carreira. Mesmo assim, entrega tudo aquilo que esperamos de uma artista pop e da nova Katy: um álbum divertido, com tom reflexivo em algumas canções, mas sem perder a essência irônica e divertida.

Ouça agora mesmo Smile!

 

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