Com pés no passado e olhos no futuro, iDKHOW constrói uma sonoridade única

iDK

Entre o vintage e o moderno, a inventiva e ousada banda de Dallon Weekes e Ryan Seaman cria seu próprio gênero em seu mundo analógico, divagando entre o synthpop e alt rock

O que pode acontecer quando dois integrantes renegados de suas bandas se unem para criar um conceito sonoro novo, porém baseado principalmente em suas referências originais, com uma boa dose de autenticidade e ousadia? O resultado é arriscado e incerto, mas é exatamente o caminho de riscos que o I DON’T KNOW HOW BUT THEY FOUND ME, ou simplesmente iDKHOW, vem seguindo na música desde sua formação em 2016.

O duo composto pelo ex-baixista do Panic! At Disco, Dallon Weekes, e o ex-baterista do Falling in Reverse, Ryan Seaman, vem fazendo barulho no alt rock desde que seu principal single, “Choke“, estourou na cena alternativa, mas foi com o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, “RAZZMATAZZ“, em outubro de 2020, que a banda teve a oportunidade de conquistar seu lugar ao sol de fato.

Explicar a sonoridade do iDKHOW não costuma ser uma tarefa fácil. Usando e abusando de uma estética visual retrô VHS, que parece viajar na cultura pop através do tempo, o duo aposta no rock alternativo com samples oitentistas, que flertam fortemente como o synthpop. O resultado é uma atmosfera musical que divaga entre o indie, synthpop, alt rock e algo que eu chamaria de “post-emo“, uma vez que as influências de suas antigas bandas, principalmente do Panic! At The Disco, se tornam evidentes tanto nas letras como no som.

Talvez a autenticidade seja a principal arma do iDKHOW. O som envolvente de sintetizadores que transparecem o pop oitentista ganha muito mais destaque do que as guitarras em todas as canções, tornando-os uma banda de rock pouco convencional. A banda também prefere usar instrumentos analógicos para criar a sonoridade vintage e dispensar o uso de samples, assim como usa câmeras VHS para não precisar simular com efeitos digitais. Sonoramente, o resultado é muito pop para ser rock, muito indie para ser emo e muito nostálgico para ser moderno. Assim, a originalidade alcançada nas composições é notável, afinal, quantas bandas que você conhece tem tantas referências e ainda sim não se encaixa em nenhuma delas?

“Quando começamos, tínhamos nossa própria linha do tempo e nossos próprios planos para lançar músicas. No primeiro ano ou mais de nossa existência, operamos em total sigilo e negamos que sequer existíssemos ”, lembra Dallon, em entrevista para a revista DORK. “Demorou um minuto para fazer a bola rolar e construir do zero, que é o que queríamos fazer. Não queríamos usar nenhum de nossos outros empregos anteriores para construir um nome para nós mesmos”.

“O bom e velho RAZZMATAZZ”

O primeiro álbum de estúdio do duo, ‘RAZZMATAZZ’ é uma verdadeira viagem da banda através de seu próprio mundo, e isso justifica a demora que levou para que fosse concebido. Dallon e Ryan não queriam simplesmente criar músicas aleatórias dentro de um disco para vender, e sim criar uma narrativa musical imersiva que, naturalmente, envolve o ouvinte em sua história. O disco está impregnado pela atmosfera vintage de uma banda sem medo de ousar, que está profundamente envolvida em seu próprio mundo, e o significado por trás do título é mais do que condizente com I DON’T KNOW HOW BUT THEY FOUND ME. Literalmente, talvez.

A narrativa conceitual e visual do álbum conta a história de uma banda, entre tantas outras, jogada no esquecimento de algum lugar nos anos 80. Weekes conta que costumava a ir parar em locais estranhos navegando pelo Youtube, assistindo vídeos de programas de talentos da TV a cabo de 1982, e desejava fazer parte daquela atmosfera de alguma forma. A partir daí surgiu a ideia de abraçar o conceito de que o iDKHOW é uma banda do início dos anos 80 tendo uma segunda chance de conquistar o sucesso.

“Criar um universo para o álbum não é tão difícil porque eu cresci idolatrando artistas que faziam coisas semelhantes, então você sabe que isso não é nada novo. David Bowie fez isso com ‘Ziggy Stardust’ e os Beatles com ‘Sgt. Peppers’. Eu acho que esses dois são ótimos exemplos de como os artistas podem criar uma narrativa ficcional em torno de um álbum, e isso é algo que sempre me divertiu muito ”, revela Dallon Weekes.

IDKHOW

Entre indie pop vintage, rock alternativo e distopias criativas, Dallon Weekes admite que há ‘easter eggs’ em tudo o que a banda produz, e que a história fictícia é baseada em fatos reais, representados de forma lúdica e metafórica. Um exemplo de seus easter eggs é a caveira branca conhecida como “White Shadow“, que pode ser vista rapidamente e sem um contexto exato em praticamente todos os clipes do duo. Quando perguntado sobre a misteriosa caveira, o vocalista explicou que o White Shadow o segue em todo lugar que vai, que paira em tudo o que ele faz e diz, e que talvez um dia vá embora. Seria White Shadow as inseguranças ou o fantasma do passado de Dallon Weekes? “É certamente representativo de algo que eu realmente não discuti. Talvez eu fale sobre isso especificamente um dia, mas tudo o que estamos fazendo é simbólico ou representativo de outra coisa”.

Além de dar um sentido maior para a sua obra, a arte de criar uma história conceitual e uma realidade alternativa para embasar ‘RAZZMATAZZ‘ fez com que o iDKHOW proporcionasse uma experiência ainda mais imersiva e interativa para seus fãs, que se desdobram em cima de vídeos, músicas e entrevistas para buscar pistas e criar teorias sobre os mistérios que a banda esconde, como o próprio White Shadow. Se o duo cria um ‘caça ao tesouro’ em seus trabalhos para ter maior contato com seu público, o que mais um fã pode querer?

De volta para o futuro com fantasmas do passado

Entre reflexões sobre relacionamentos e a modernidade, algumas canções do I DON’T KNOW HOW BUT THEY FOUND ME refletem críticas sobre a sociedade, popularidade e o lado obscuro da fama. Isso é bastante discutido e ironizado, por exemplo, em “Social Climb“. Tendo em vista que Weekes já foi parte de uma banda grande e influente no alt rock/emo internacional, muito de seu presente é associado ao seu passado como baixista do Panic! At The Disco.

Muito se discute sobre os atritos que Dallon Weekes teria tido com Brendon Urie antes de deixar a banda em 2017, quando teorias e trocas de farpas passaram a evidenciar que o frontman do Panic! At The Disco tinha problemas para lidar com outras pessoas e com o próprio ego, como confirmou em entrevista para a revista THE BRAG em 2016, onde diz que não aguentava mais estar com pessoas. Desde então, fãs especulam se a agradável e sutil letra de “Choke” não teria sido uma resposta de Dallon para as provocações de Brendon Urie.

“Essa é a ideia por trás do ‘Razzmatazz‘ também: Puxar a cortina de muitas das minhas experiências de vida nos últimos 10 anos ou mais. Acho que as pessoas veem o show business e veem LA e Hollywood como um grande e brilhante farol de cultura, e é tão maravilhoso estar lá, é onde eu vivia. Estou de volta à minha cidade natal, Salt Lake City agora.”, revelou em entrevista para a DORK.

“Muitos dos temas e músicas do álbum são sobre o tempo que passei lá e coisas que vi e experimentei. Muitas pessoas estão realmente apaixonadas por Los Angeles, Hollywood e pela cultura de negócios do entretenimento, mas para mim, é esta cidade decadente e estranha que é obcecada por si mesma, quase como a personificação do narcisismo. As pessoas pisam no pescoço umas das outras para conseguir mais um dólar e colocar seu rosto mais perto dos holofotes, e é tão bizarro para mim. Esse não é o mundo de onde venho e esse não é o mundo que eu quero habitar”, completa Weekes.

Em entrevistas, Dallon não esconde que uma das piores partes da experiência no Panic! At The Disco foi a falta de liberdade escrevendo letras para a banda, e esconde menos ainda o quanto está feliz em liderar sua própria banda, onde tem autonomia criativa para colocar todas as suas ideias e experimentos em prática na própria maneira: “Quando você escreve para outro artista, precisa filtrar através de sua marca e através de suas lentes, então o pessoal da rádio chega, e seus gerentes entram, e todos eles têm ideias e as colocam em sua ideia. Na minha experiência, isso acaba transformando sua ideia inicial em outra coisa que pode dar muito certo, mas você não gosta tanto. É bom ser capaz de não ter nenhum filtro ou ter suas ideias diluídas, ou a mensagem e significado por trás delas mudados”, revelou em entrevista para Rolling Stone Brasil.

O futuro é incerto, mas o céu é o limite sobre o que esperar do iDKHOW no futuro. Com a ousadia e criatividade que o duo já demonstrou ter de sobra, o espaço para respirar entre os projetos, sejam eles vídeos ou faixas, permite uma inventividade e experimentação natural que Dallon Weekes e Ryan Seaman estão dispostos e ansiosos para explorar. Quando o mundo para, o universo de I DON’T KNOW HOW BUT THEY FOUND ME continua, assim como seus mistérios escondidos nas entrelinhas e seus segredos ainda não revelados.

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