“DiX”, primeiro álbum ao vivo de Tiê, marca não só os dez anos de carreira, como também o crescimento da cantora

Foto: Giulia Sperandio
Foto: Giulia Sperandio

No último sábado (30), a Casa Natura Musical recebeu a cantora Tiê para uma apresentação única, intimista e memorável. O show em São Paulo encerrava a agenda de 2019 da turnê comemorativa “DiX”, que também é nome do seu projeto mais recente.

DiX – ou “Dez”, em francês – nomeia o primeiro álbum e DVD ao vivo de Tiê, que comemora dez anos de carreira. A apresentação contou com a participação dos artistas Pedro Salomão e Quinho, além da abertura de um fã da cantora, Renan Scharmann, como ato de abertura.

Apesar das participações especiais, é importante ressaltar que no show em questão, o que mais encantava na apresentação, além das músicas, é a conexão que a cantora tem com seus fãs. A impressão que Tiê passava no palco era de que estava se apresentando para amigos, olhando para cada um no fundo dos olhos. tanto quando desceu do palco para cantar em meio ao público, como quando chamou um fã chamado João para cantar “Amuleto”. Até mesmo os comentários, entre uma música em outra, demonstrava a simplicidade e carinho da cantora com seu público.

Ao fim da apresentação, Tiê nos recebeu em seu camarim para uma breve entrevista:

Eu achei incrível essa conexão e troca de energia que você tem com seus fãs. A gente ficou sabendo que você tem esse projeto em que você convida fãs para cantar com você, assim como foi com o Renan. Como funciona esse projeto e esse convite aos fãs?

Eu posto na internet, às vezes tem cidade em que não aparece ninguém, às vezes aparece, e eu acho que todo mundo deveria ajudar em qualquer coisa em que a gente faça. E a gente tem que fazer aonde dá para fazer. E, querendo ou não, é uma pequena forma de abrir um espaço, porque às vezes é isso, É só um espaço que já pode abrir portas. Alguém que pode ver ele, linkar com trabalho com ele, despertar alguma coisa nele. Então é só uma chance, então por que não, né?

E mais uma vez parabéns pelos dez anos de carreira, foi uma estrada e tanto! E como foi a gravação do DiX como seu primeiro álbum ao vivo e tudo mais? Quais foram os principais desafios?

Foi interessante gravar ao vivo, foi bem diferente do que estúdio. Você tem uma chance para fazer e depois você fica ouvindo aquilo que foi gravado na hora. Então realmente dá uma outra emoção, no estúdio você fica remoendo mais o trabalho. Neste a gente remoeu antes, a gente ensaiou muito e depois vai e grava. Mas foi tudo bem, acho que esse é o momento mais tumultuado da vida em geral. Então, por isso, talvez até a felicidade que eu sinta com o DiX é diferente do que eu senti com o Sweet Jardim, quando eu lancei porque é isso. A gente tá num momento com essa crise do mundo, essa loucura, cada dia uma barbaridade, uma notícia, então não há muito tempo para ficar comemorando de alegria. Tenho ficado muito triste e isso reflete no meu trabalho. Eu fico mais distraída, eu fico cansada, tipo hoje, em que eu errei letra. Essas coisas fazem parte. Mas também tem a maturidade de ter um trabalho de dez anos.

E ao longo destes dez anos, como evoluiu e o mudou o seu processo criativo?

Eu acho que não tem explicação. Eu sempre faço por encanto as minhas histórias, mas eu sou uma compositora de poucas músicas, o que eu tenho é mais ou menos o que eu uso, e às vezes eu funcionei bem sob pressão, com músicas de encomenda, por exemplo “Deixa Queimar”, que foi para uma série da Globo, “Carcereiros”, e eu fiz pensando no personagem, ao mesmo tempo pensando em mim. Então varia muito, agora, neste momento em que eu to triste fiz um monte de músicas, e de repente são todas contando a minha história, e ao mesmo tempo já tem outro personagem além, então varia um pouco. O que eu acho é isso, o mundo tá mudando, em vários aspectos, a tecnologia também. Luz e sombra. Existem várias coisas boas, como a gente ter liberdade para mostrar música para quem quiser, você acha seu nicho, essa é a parte da luz, da divulgação. E a sombra é que tá todo mundo doente, com problema de tanta ansiedade. Onde vai parar essa nossa vida de internet, não sabemos, mas é isso.

E se você pudesse falar com a Tiê de dez anos atrás, o que você diria a ela? Qual conselho você daria?

Eu não sei. Às vezes eu acho que estou até menos matura do que eu era, eu to mais velha, mais cansada, to reclamando mais. Eu iria falar para não se arrepender e tentar fazer as coisas. Eu acho que eu fiz e dei o melhor de mim sempre, então eu iria falar para talvez pegar mais leve, mas isso é algo que eu ainda não aprendi. Mas quem sabe daqui dez eu tenha alguma coisa para falar? Mas por enquanto é isso, não desista.

E nestes dez anos, quais foram os momentos mais gratificantes e os mais desafiadores ao longo da carreira?

Gratificante mesmo são os fas, crescerem juntos, poder ver a cara deles e reconhecer, reencontrar. Isso é o mais legal. Poder ver as pessoas cantando junto é o que não tem preço, e o que me move a fazer mais. E dificuldades, como a gente sempre tem muita informação sobre tudo, sobre todo mundo, a gente tenta sempre não se comparar, porque cada um é cada um, mas é difícil. Então acho que a dificuldade é essa, não pesar tanto no meu trabalho. Ele poderia ser mais leve, mas não é. Mas é uma dificuldade porque eu acabo ficando muito introspectiva, sentindo muito as coisas, então às vezes eu acho que sofri muito mais do que precisava sofrer com coisas que eu não tenho controle.

E novamente falando sobre a conexão que você tem com os fãs, como você se sente a respeito da responsabilidade escrevendo a trilha sonora da vida deles? Além de claro, dos seus sentimentos.

Eu tento não pensar, na verdade. Não posso pensar neles, eu tenho que pensar na minha verdade para escrever, ou então ela não vai ser verdade. Então, quando eu pensar em alguém, se ela vai gostar ou não, já não vai dar certo. Então eu tento fazer o mais sincero do meu olhar, e aí a pessoa vai se identificar ou não. Se eu pensar se o outro vai gostar ou não, eu já vou estar moldando isso de um jeito diferente. Não é natural meu, e eu acho que o que a gente tem de mais rico é que cada um é único. Nesse mundo nunca vai ter ninguém igual a você, então a gente tem que trazer isso pra fora.

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