Anitta é uma artista admirável. Não há como negar, independente se você gostar do estilo musical ou não. A cantora conseguiu construir a sua carreira com as próprias mãos, se envolvendo em todos os departamentos e executando cada ação com perfeccionismo, seja na composição das músicas, no fechamento de parcerias ou em contratos de divulgação. Anitta, ou Larissa, atualmente com apenas 27 anos, conquistou a tão desejada carreira internacional usando as suas origens no funk e mesclando com referências latinas, afinal o espanhol tem mais chances de ganhar visibilidade no mercado estrangeiro que o português.
Anitta nunca escondeu que participa de tudo relacionado à própria carreira, o que também é admirável e difícil de conquistar, principalmente sendo uma mulher no mercado fonográfico. A indústria da música pop já é conhecida por fabricar seus artistas, limitando suas vontades e suas opiniões, e Larissa nunca quis isso. Ela é a empresa que cuida da própria carreira. Anitta tem muita inteligência, assim como esperteza. Essa conquista a torna grandiosa, mas por um detalhe seu sucesso não é 100% admirável.
Na série documental Anitta: Made In Honório, que acabou de estrear na Netflix, Anitta mostra o lado que somente quem trabalha com ela conhecia: a Anitta empresária. A cantora, dançarina e, claro, também empresária, tem controle de tudo: desde seus sócios até seus funcionários. Entretanto, infelizmente a mesma carrega em sua personalidade uma autoridade que transcende o ego, exigente de uma perfeição inexistente. Mesmo adaptada à modernidade e ao feminismo, Anitta carrega consigo os maiores problemas de uma típica empresa, principalmente de comunicação: ela acredita, de fato, que não há limites em suas relações profissionais, o que fica claro no doc ao vermos a cantora não enxergar problemas em gritar com funcionários e clientes.
Anitta aparece constantemente criticando as pessoas que trabalham ao seu lado, rasgando, literalmente, suas ideias, em meio a gritos estressados e impacientes, chegando até a duvidar da competência de quem ali estava. Esse comportamento é normalizado nas empresas a ponto de serem mostrados no documentário como um mero defeito: “é da personalidade dela“, “ela é assim“, “ela é ariana“. O comportamento controlador e obsessivo é visto com admiração por muitos, mas depois da série documental passou a ser visto de forma repulsiva por outros.
Anitta é dividida em duas pessoas – e não estamos falando da Anitta cantora e a mulher Larissa, mas sim da Anitta família e Anitta empresária. A família faz de tudo para agradar quem está perto, dar uma vida melhor aos seus parentes, reconhecer o irmão que descobriu anos depois que tinha, reconhecer uma nova sobrinha, agradecer aos pais aos tios. É uma mulher simples, carinhosa e protetora. É uma mulher frágil, uma mulher que sofreu um estupro na transição da infância para a adolescência e que luta com esse trauma. A Anitta empresária é dura, grosseira, humilha e “pisa” sem sentir remorso. Não tem compaixão, não tem empatia.
A carreira de Anitta é admirável, mas como ela construiu esse império, não muito. É preciso entender a forma na qual a vida pessoal impacta a profissional para balancear suas atitudes e comportamentos. Anitta não para e nunca parou em 10 anos de carreira. A ambição da profissional Larissa, que até pode ser invejável, não deve desaparecer tão cedo e ainda vamos ouvir falar muito sobre ela, principalmente nos erros, nos acertos e nas polêmicas.
Anitta: Made In Honório alcançou o objetivo de mostrar parcialmente a realidade da cantora, por mais que não agrade a gregos e troianos. Contudo, como ela própria sempre diz: “ela é assim, fazer o quê?”.