Chad Kenney: um dos ícones da cena eletrônica de LA e a arte de se reinventar na pandemia

Photo @dashgrey
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Chad Kenney costumava ser um DJ em algumas baladas em Los Angeles, California, e agora é diretor criativo da Brownies & Lemonade, uma produtora independente gigante na cena local de LA, que serve como ponte e conexão para muitos artista novos e grandes festivais de música eletrônica. A ideia da empresa surgiu quando começaram a fazer house parties em Los Angeles, já que os bares e baladas nos Estados Unidos fecham às 2h da manhã. Eles começaram por diversão, enquanto estavam na faculdade e ao perceberem que as festas ficaram cada vez mais populares, e todo mundo “descolado” queria ser parte disso, eles viram ali uma boa oportunidade de negócio. Hoje, a produtora é altamente respeitada na cena eletrônica, conta com milhares de eventos locais, e foram pioneiros na produção de festivais de musica eletrônica. Até que surgiu a pandemia, em 2020.

O que é Brownies & Lemonade para quem não é de Los Angeles?

Eu diria que dentro da comunidade de musica eletrônica / dance somos provavelmente a maior empresa de eventos independentes. Há muitas grandes empresas que fazem festivais maiores, mas servimos como a ponte para os novos artistas desconhecidos e os grandes festivais de música, meio que sempre sendo um facilitador da carreira de jovens artistas e com isso temos conseguido chamar a atenção e fazer amizades na indústria porque eles amam a comunidade, já que os lembra de quando começaram. O que realmente mudou as coisas para nós foi quando começamos a contratar artistas do Soundcloud porque esses jovens nunca foram para LA, muitos deles não têm agentes, não tínhamos muito dinheiro, então podíamos levá-los para LA e era isso, eles dormiam no sofá – às vezes na casa dos meus pais – foi assim que começamos, muitos deles se tornaram famosos. Sempre os vimos como pessoas, não apenas negócios e é por isso que todos eles se lembram de nós hoje.

E o que é preciso para vocês perceberem que um novo artista é bom?

Muito disso vem do conceito de ser um tastemaker. O negocio é que nós, os caras que estão atrás da B&L, basicamente só ouvimos o que sabemos que seria bom para nossa marca e prestamos atenção em outros fatores como o momento nas redes sociais, certos lançamentos que eles fizeram. Às vezes acontece de um artista em que acreditamos não dar certo, mas nós amamos a música. Mas, como qualquer coisa que seja um investimento de tempo e energia, como ações por exemplo, é difícil prever.

E atualmente, como você busca novos artistas?

Uma coisa que eu acho muito difícil é que as pessoas hoje em dia levam os números nas redes sociais muito a sério, quando essa não é exatamente uma boa métrica para saber se um artista é bom ou não. Talvez eles sejam bons, sérios, talentosos, mas simplesmente não têm um grande publico ainda. Basicamente, quando começamos, não vendíamos ingressos, era grátis. Mas no final das contas, as pessoas iam às festas porque gostam da B&L, então não importava muito o quão grande o artista era, nós apenas escolhíamos os artistas porque gostávamos da música. Então, acho que mantemos um equilíbrio, de artistas que precisam de uma vitrine e artistas que vão atrair um público, porque se você dizer que números não importam de forma alguma, essa não é uma ideia de negócio muito boa.

Chad Kenney
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Eu vi algo que você disse em uma entrevista prévia de 2019 que achei muito interessante: “quanto mais ocupado eu fico, melhor me sinto”. Então quando a pandemia aconteceu, tivemos que ficar confinados, não podíamos ter shows e eventos, como você se sentiu?

Foi difícil. Foi demais por causa de todas as oportunidades que perdemos: íamos para as Olimpíadas de Tóquio, tínhamos grandes planos para nós e tudo se foi instantaneamente, ninguém jamais se preparou para algo assim, nunca pensei que haveria algum ano aonde Coachella não aconteceria. Então tivemos que nos ajustar. Poderíamos sentar e reclamar das coisas que perdemos ou apenas ajustar e criar trabalho a partir do nada. E eu acho que quando você não tem trabalho, você tem que se concentrar em outras áreas, como família, saúde, você mesmo. Não foi fácil. Isso vai ser um dos momentos mais difíceis para muitas pessoas. Por isso, tentamos ajudar o máximo possível e, no ano passado, arrecadamos US$ 600.000 para ajudar a causas relacionadas ao covid-19 e diferentes causas sociais.

A transmissão ao vivo online (Digital Mirage) foi muito bem, você acha que foi por causa do senso de comunidade que vocês construíram ao longo dos anos?

Sim, absolutamente. E eu acho que a quantidade de pessoas que realmente fazem parte da nossa comunidade, que poderiam vir aos nossos shows é de apenas algumas milhares de pessoas porque eles têm que estar perto da cidade ou das cidades que nós vamos, então a primeira transmissão ao vivo, Digital Mirage – o primeiro que fizemos – abriu espaço para muitas pessoas ao redor do mundo, era grátis e tivemos grandes artistas que participaram, o que não apenas elevou nosso número de seguidores, mas também fez com que as pessoas ao redor do mundo se sentissem parte da comunidade, como se tivessem ido a um show do B&L. Então é definitivamente uma opção de continuar fazendo isso para o futuro, já que ir aos shows pode ser um grande compromisso e se você realmente só se preocupa com a música, ir a um show não é a opção mais divertida se você não ver isso como um evento social. Então transmissões ao vivo são ótimas porque você ainda pode conseguir ver o show, não deixar sua casa e também ser mais criativo. Eu não acho que eles serão o método preferido para assistir a um show, mas isso (livestreams) não vai embora tão cedo.

E também tem o fator de planejar um evento ao vivo que vocês teriam que gastar muito mais dinheiro e tempo, já que pode levar até um ano para planejar algo assim, então com as transmissões ao vivo eu assumo que é uma maneira mais fácil e rápida de fazer um show acontecer?

Absolutamente. Se você tivesse que contratar fisicamente os nomes do line-up do primeiro Digital Mirage, seria impossível. A quantidade de dinheiro que gastaríamos em hospedagem, transporte e etc, para trazer esses artistas para LA custaria milhões e milhões de dólares e levaria mais de um ano. Mas a desvantagem é que não é possível viver da mesma forma que nos shows físicos ao vivo – que vem da venda de ingressos – e vender ingressos para um evento digital não é a mesma e não tem o mesmo valor. Mas foi muito mais fácil colocar esses artistas juntos.

Chad Kenney
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Vocês começaram do nada, sem dinheiro, sem um manual, então qual foi mais difícil para vocês, o início do B&L ou o processo de shows ao vivo digitalmente?

Eu pessoalmente acho que foi um pouco mais difícil fazer a transmissão ao vivo pela primeira vez. Porque há milhares de pessoas assistindo e era a nossa primeira vez, então a pressão era muito mais intensa, haviam muitos problemas técnicos e haviam 50.000 pessoas assistindo e então subitamente cai para 20.000 e você vê 30.000 pessoas saindo, é difícil. Você consegue imaginar isso? Eu apenas ficava no meu quarto, balançando para frente e para trás, então tivemos que aprender e a próxima vez foi tecnicamente perfeito. Então isso, o conteúdo digital, foi muito mais difícil para nós. Agora temos um programa semanal na Twitch e queremos expandir isso, falar sobre novas músicas, produção musical, o que deve ser muito divertido.

E qual conselho você daria para um criativo que quer estar na indústria da música, mas também quer
se divertir?

Acho que o principal é que, agora, há muitas coisas como NFTs e streams, muitas tendências diferentes e muitos deles criam uma sensação de que você não está fazendo o suficiente. O que direi para todos que se sentem inferiores é que: você não vai conseguir se tornar um mestre de todas essas coisas, não é realista. Portanto, tenha uma visão, uma voz, saiba o que é e use-a. Essa é a única coisa que você pode fazer, caso contrário, você ficará estagnado e não terá nada de autentico sobre você. Eu sei que muitas pessoas querem ver os resultados imediatamente, mas você tem que encontrar o amor no processo. A jornada é o que faz tudo valer a pena. Portanto, meu conselho para os criativos: sejam pacientes e encontrem o amor no processo.

Chad Kenney Chad Kenney Chad Kenney Chad Kenney Chad Kenney

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