Halsey e o flerte com o rock em “If I Can’t Have Love, I Want Power”

Halsey if i can't have love | capa

Halsey entrega mundos complexos em todos os seus álbuns, crescendo e se desafiando em cada novo projeto. No dia 27 de agosto entregou para seus fãs seu novo trabalho If I Can’t Have Love, I Want Power, uma aventura que contou com uma experiência no cinema utilizando sua música como guia, mas que não obteve singles anteriores e nem prévias, criando grandes expectativas. Em uma aventura entre autodestruição e vulnerabilidade, Halsey nos transporta para um universo fantástico gótico, onde poucas composições anteriores da cantora chegaram.

Primeiras canções

A abertura já aponta o que está por vir. A melodia do tempo medieval de tabernas com contos e ensinamentos complementa o trabalho de vocais tão poderosos quanto a cantora em “The Tradition”. A letra faz crítica como mulheres são vistas e como os homens são tratados como garotos, mas em um tempo passado, onde concluímos que poucas coisas mudaram: “And they said boys were boys | E eles disseram que meninos eram meninos”. Mesmo após conseguir a vida que sempre desejou, continua triste e sofrendo.

“Bells In Santa Fe” apresenta a ilusão do poder traduzida numa batida eletrônica progressiva com toque industrial. Mesmo com a sonoridade agitada, muitas vezes os vocais de Halsey não acompanham o frenesi, mas vai sendo distorcida ao longo da canção.

“Easier Than Lying” possui um ritmo frenético guiado por uma bateria crua e estridente, além dos riffs agressivos de guitarra e encerramento com sirenes. Visceral e diferente das músicas de rock entregues anteriormente em sua carreira, principalmente por contar com Trent Reznor e Atticus Ross na produção e desenvolvimento do álbum. A letra melodramática faz com que a música flerte com o metal gótico em certos pontos. “Lilith” quebra a tensão musical em algo que flerta com o hip hop em um flow mais suave que a anterior e com baixo em evidência. A letra trouxe confissões não tão positivas em contraste com a voz doce da cantora nessa música, com distorções parciais em momentos específicos. O tema central é a luta entre o amor e o desejo de poder.

O caos doce e eletrônico de “Girl Is A Gun” mascara a letra sobre não ser como as outras, mas de um jeito autodestrutivo. O instrumental divertido e dançante desacelera antes do último refrão e retorna explosivo. “You Asked For This” tem um toque de rock dos anos 90 e a letra sobre ser forte vendo um curso que não quer para sua vida. A melodia beirando o ponto de ruptura , assim como o eu lírico. Demonstra seus desejos nos últimos versos com violência e tristeza, seguindo o caminho da autodestruição. O ponto de ruptura transforma-se em um rock melódico que distorce e segue sendo abafado até o último segundo da música.

Maternidade

“Darling” é uma canção suave de ninar com violão por Lindsey Buckingham (Fleetwood Mac). Apresenta os sentimentos maternos de proteção, além momentos de confissão e desabafos. Mesmo na doçura, Halsey apresenta sua ruína ao cantar “Foolish men have tried / But only you have shown me how to love being alive | Homens tolos tentaram / Mas só você me mostrou como amar estar viva”. Ainda sobre maternidade, “1121” foi a data em que descobriu a gravidez. Apesar de ter analogias sobre a transformação corporal da gravidez, a autoimagem e a mudança na forma que se vê é muito forte na música e parece acompanhar Halsey a muito mais tempo. Não somente pela transformação da maternidade, mas como irão reagir sobre seu corpo pós-gravidez. O instrumental industrial é melancólico, a agressividade vem na evocação potente dos versos pela voz da cantora.

Últimas faixas

Em “Honey”, Dave Grohl deixa sua marca no álbum em uma bateria memorável e vigorosa numa faixa de rock alternativo que beira a euforia. A cantora mostra outro lado de si mesma na letra em uma mescla agridoce das delícias e dissabores de ser quem é e o peso de se conhecer tão bem. “Whispers” começa em um piano tranquilo para um vocal acelerado, beirando a perturbação. A tensão sutil construída em um pano de fundo transforma a melodia em uma tensão sufocante através de batidas eletrônicas perturbadoras, entre sussurros de Halsey no refrão em um fluxo de pensamentos sobre o desespero de não ser validada e amada.

“I’m Not A Woman, I’m A God” tem uma progressão de batidas frenéticas que criam uma sensação de hipnose ao ficar em looping no fundo. A letra apresenta a linha tênue entre o poder e o fracasso. A destruição e auto-aversão caminham juntas culmina nos gritos reverberados no último refrão.

“The Lighthouse” é um conto sombrio como as histórias de antigamente, mas que ela incorpora em sua vida sobre homens controladores que não compreendiam que o vulnerável da situação era ele, onde aprendeu a ferir para não se machucar. “Ya’aburnee” significa “você me enterrar”. O sentimento profundo de viver o suficiente para não ver o outro partir antes de você. O instrumental gera tensão leve em pouca textura, dada basicamente pelos instrumentos de corda. De maneira calma, apaziguadora e com uma reflexão melancólica, Halsey encerra o álbum que caminhou por diferentes vertentes do rock.

A intensidade que a cantora adicionou em sua obra não é algo incomum em sua arte, mas sim a forma que se reinventou trazendo uma sonoridade que já explorou antes de forma que seus fãs ainda não tinham visto. A jornada entre o amor e o poder encontrou um novo elemento, a serenidade. A expectativa para o quarto álbum era de exatamente experimentar novas vertentes, mas Halsey fez isso com maestria ao se entregar completamente no projeto musical que poderia transformar sua carreira e deu luz à sua obra mais importante até o momento.

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