O amor e suas diferentes formas em “Clarissa”

Em entrevista exclusiva ao ROCKNBOLD, a cantora reflete sobre relacionamentos, a carreira de atriz e os processos criativos de seu primeiro EP.

Por Isabella Vieira e Júlia Baruki

Seja pela sua participação em filmes ou pela sua influência na internet, Clarissa já era conhecida pelo público quando lançou o seu primeiro EP, homônimo, em junho. Mesmo mostrando um pouco da sua vida pessoal para seus mais de um milhão de seguidores diariamente nas redes sociais, no trabalho, a cantora convida o ouvinte a conhecer um lado mais íntimo por meio de cinco composições autorais. 

Sem medo de demonstrar as vulnerabilidades, a artista imprime suas narrativas sobre as diferentes formas de amor nas canções. A mistura de timbres delicados com melodias suaves resultou em um EP envolvente, que cativa logo após a primeira ouvida. Em entrevista exclusiva ao ROCKNBOLD, Clarissa compartilha mais detalhes sobre a criação de seu primeiro projeto autoral na música. 

POR TRÁS DE “CLARISSA”

Com apenas 22 anos, Clarissa conta que usou a música como uma forma de expressar seus sentimentos. Para ela, revelar um lado mais íntimo por meio de suas letras foi um desafio. “É verdade que não é fácil expor um lado tão frágil e pessoal seu de modo geral. Colocar esse lado pro mundo e ainda deixá-lo sujeito à críticas é mais difícil ainda”, relata. 

Ao falarmos sobre amor, as fragilidades que ficam escondidas acabam por ser acentuadas. Segundo Clarissa, o EP veio como uma reflexão sobre seus relacionamentos amorosos ao longo dos anos. “O amor romântico foi muito presente na minha vida, sempre me relacionei com muitas pessoas e, com cada uma delas, busquei crescer e evoluir, mesmo que isso significasse me machucar”, conta a cantora. 

A artista reflete que já se encontrou em diferentes situações dentro de suas relações e quis apresentar um pouco dessas vivências para os fãs. Em “Bem Me Quer, Mal Me Quer”, Clarissa narra sobre um amor que exigia demais e, por isso, não era saudável. “Acho que essa canção marca o fim do meu papel ingênuo e submisso em relacionamentos, é uma música que reconhece as minhas feridas de autoestima e me proporciona um novo capítulo e uma nova visão pessoal sobre o amor”, descreve. 

Um outro lado da experiência de amar para a cantora pode ser visto na canção “O Vento Leva, O Vento Traz”, que fala sobre um romance leve e gostoso de sentir. “A música representa essa minha nova visão sobre o amor, que não precisa mais ser pesado, não precisa doer, além de reconhecer que todos os relacionamentos um dia têm seu fim, mas que isso não é motivo para não se entregar, não viver aquilo, enquanto aquilo for durar”, relata a artista. 

Clarissa também chamou a atenção quando comentou sobre a estreia de “Ela”, música que abre o EP, em seu Twitter. Segundo a cantora, a música veio como uma forma indireta de se assumir bissexual para sua família. “Crescer me inspirando em artistas mulheres e LGBTQIA+ foi algo crucial na minha formação como pessoa e na minha carreira artística. Ver essas personalidades sem medo de ser quem são, quebrando paradigmas, me dava a sensação de que talvez eu realmente pudesse ter um lugar no mundo sem precisar me esconder ou pedir desculpas por ser quem eu sou”, declara. 

A música é uma das mais comentadas pelos fãs nas redes sociais. Ao ser questionada sobre a representatividade que a letra gera, Clarissa conta que esse processo aconteceu de forma muito natural. “Acho que vou buscar sempre poder ser como um exemplo para outras pessoas que também sentem que não pertencem. Não me parece natural não levantar bandeiras que me fizeram ser quem eu sou e me deram tanta força. Existe o medo de errar, é claro, mas prefiro conviver com isso do que não me posicionar ou não representar um grupo que só me acolheu a vida toda”, reforça. 

Além disso, a artista relata que as reações positivas dos fãs serviram como uma motivação para que ela escrevesse mais, mesmo após o lançamento do trabalho. Apesar de difícil, a cantora comenta que o processo de produção e lançamento do projeto foi um presente para ela. “As pessoas realmente tiveram sensibilidade e carinho para escutar e entender tudo que eu queria passar e, para minha surpresa, a recepção do EP foi muito positiva”, conta.

“UMA COISA ACRESCENTA A OUTRA” 

Foto por Mateus Rubim

Antes de sua estreia como cantora, Clarissa já estava atuando em filmes e novelas, com destaque para as participações em “Ana e Vitória” e “Malhação: Vidas Brasileiras”. Sobre os caminhos que a transformaram na artista que é hoje, ela conta que tudo se deu de forma  espontânea. “As artes me escolheram muito mais do que eu as escolhi, por mais cafona que isso soe. Espero sempre poder colocar elementos meus nos personagens que eu interpreto ou escrevo, porque acredito muito que, na vida, a gente tem sempre um pouquinho da gente em todo mundo, e vice-versa”, relata. 

Foi no meio da correria das gravações para o filme “Ana e Vitória” que surgiu a ideia de se tornar cantora profissional. “Quando cantei em estúdio pela primeira vez para gravar o longa, foi quando percebi que era ali que eu me sentia realmente feliz, simplesmente tudo pareceu certo”, narra Clarissa. 

Apesar disso, a artista já divulgava algumas versões de intérpretes renomados, como Bob Dylan, Chico Buarque e Elvis Presley, em suas redes sociais. “Esses covers eram feitos sem pretensão, nunca pensei em levar pra frente porque não me achava estudada e talentosa para ser profissional. Na medida em que as pessoas foram gostando e pedindo por mais, foi quando comecei a fazer com mais frequência, o que me deu mais reconhecimento e, por consequência, trabalhos”, conta. 

Recentemente, Clarissa interpretou a personagem Priscilla no longa Me Sinto Bem Com Você, do diretor Matheus Souza. O filme apresenta um retrato sensível das relações durante a quarentena. “A Priscilla é a minha parte mais insegura, bagunçada e romântica. O mais louco foi gravar um filme sobre a pandemia durante a pandemia, estar vivendo todo aquele caos e contar uma história sobre uma outra pessoa também vivendo aquele caos, posso dizer que foi no mínimo intenso e muito catártico”, compartilha a artista. 

Para Clarissa, apesar de ocorrerem de formas distintas ao mesmo tempo, as carreiras de cantora e de atriz são complementares para o seu processo criativo. “Tem sido ótimo, uma coisa acrescenta a outra, não tenho dúvidas. Poder atuar em clipes meus, que representam músicas que eu escrevi, e poder cantar em filmes interpretando personagens que não sou eu é uma aventura que espero poder viver pra sempre”, declara ela.  

OS PRÓXIMOS PASSOS DE “CLARISSA”

Foto por Mateus Rubim

Na semana passada, Clarissa divulgou o clipe de “Xodó”, canção que fecha o EP. Os três vídeos já lançados pela cantora apresentam gravações únicas, que apesar de não se complementarem, formam narrativas interessantes que dialogam diretamente com o projeto musical. “Eu quero evitar sempre me prender a estéticas, não quero ser associada a uma ideia só porque eu sou muita coisa e tenho muito pra mostrar”, relata a artista. 

Clarissa ainda reforça que as vivências presentes nas composições se estendem para os projetos audiovisuais relacionados à elas. “Ainda temos mais um clipe pra soltar. Apesar de esteticamente diferentes, todos eles carregam histórias escondidas dentro das músicas. Acho legal já começar a mostrar isso desde cedo, enquanto estou no início da minha carreira, pra não ficar aquela coisa engessada!”, conta. 

Nos próximos meses, Clarissa reforça que vai continuar a divulgar seu primeiro EP, mas que já está trabalhando em novas músicas e com alguns outros projetos como atriz. A artista também diz que está torcendo para se encontrar com os fãs após a pandemia. “Quero muito poder fazer e ir em shows, depois que estivermos todos devidamente vacinados, com toda certeza!”, finaliza. Enquanto isso não ocorre, ouça o EP nos principais serviços de streaming. 

Ouça “Clarissa” no Spotify:

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