10 anos de One Direction: Um panorama das boybands e sua desconstrução

Após dez anos de One Direction e sua separação, tanto a banda quanto seus membros continuam relevantes na indústria musical. Acompanhe e relembre a trajetória dos 5 garotos que saíram de um reality e conquistaram o mundomudando o futuro das boybands!

Por Beatriz Vaccari, Bruna Antenore, Júlia Baruki, Ludmilla Krieger e Mariana Soares

No dia 23 de julho, o Rocknbold reuniu o talento de suas redatoras para proporcionar aos fãs do One Direction uma homenagem à altura do aniversário de dez anos do grupo; mergulhe nesse mar de memórias e emoções com a gente e reveja o início das boybands e o universo pós fenômenos Harry, Liam, Louis, Niall e Zayn

Se em algum momento da sua vida você já comprou um CD de um grupo formado por rapazes bonitinhos, bem arrumados e que cantavam sobre amor de uma forma delicada e fofa, parabéns, você já foi fã de uma boyband. Dos anos 60 para cá, esse formato de banda já foi reformulado algumas vezes, mas a essência é sempre a mesma: dos Beatles à One Direction, as boybands colecionam inúmeros fãs e mudaram a forma do público consumir música. 

O estilo desses grupos vai além de suas músicas, já que possuem toda uma imagem pensada para atrair o público. O vestuário, a forma de cortar o cabelo, os clipes e as coreografias são pontos cruciais para a fama deles. Eles serão capa de todas as revistas teen, ditarão moda e serão os garotos dos sonhos da maioria das adolescentes. 

A principal banda da história do rock começou dentro dos moldes de uma boyband. Sim, os Beatles viram seu sucesso decolar a partir do momento em que manifestações extremas de admiração começaram a acontecer, originando a Beatlemania. A partir do lançamento do filme “A Hard Day’s Night”, os garotos de Liverpool realmente abraçaram o apelo comercial que uma boyband possui, pois usaram a exaltação de suas fãs como material promocional. 

O filme abre com os integrantes fugindo de milhares de fãs para conseguirem embarcar em um trem, mas isso não é caracterizado de uma forma ruim, como se essa perseguição a eles fosse algo negativo. Pelo contrário, em toda a cena, eles aparecem com seus cabelos e roupas combinando e sempre com um sorriso no rosto. A conexão com as fãs está sempre presente, eles viram um produto além da música. 

Outra característica de uma boyband é que, normalmente, há um manager por trás deles pensando em cada passo do grupo. Mesmo tendo liberdade criativa para suas composições, Brian Epstein coordenou a imagem pública dos quatro integrantes até 1967, quando veio a falecer. Dentro de sua gerência, os Beatles criaram sua própria marca: os ternos combinando, os cortes de cabelo, o fã-clube e os filmes.  Além disso, cada integrante passou a ter sua própria característica encantadora, de modo que, existia um tipo de garoto para cada tipo de fã. 

Em 1966, o Fab Four parou de realizar turnês, tendo o último show ocorrido no Candlestick Park, em São Francisco. O motivo principal era a exaustão, eles não aguentavam mais a gritaria insistente e alta em todas as suas apresentações. Tanto que, em muitos momentos, eles não conseguiam ouvir o som de seus próprios instrumentos. A cena do rock inglês na época ficou marcada por esse estilo de como se vestir e se portar, tanto que bandas como The Animals, The Rolling Stones e The Kinks, se aproveitaram do hype dos Beatles.

Nos Estados Unidos, para embarcar na onda das bandas britânicas, surgiram os Monkees. Entre 1966 e 1968, eles possuíam um programa de televisão próprio que tinha como objetivo apresentar para os norte-americanos os quatro garotos engraçados e bonitinhos que também sabiam cantar músicas alegres. No entanto, ao contrário dos Beatles, The Monkees era monitorado em cada etapa de produção. Existia toda uma equipe por trás deles responsável por escrever os hits grudentos, além de uma banda de apoio com os melhores músicos de Los Angeles. No final, o papel dos membros era só cantar e serem figuras encantadoras para as fãs.

Ainda nos EUA, grupos como os Beach Boys e os Jackson 5 também tiveram suas carreiras totalmente controladas. Nesses casos, a dominação vinha da própria família, onde o manager era também o pai de alguns deles. Murry Wilson foi o manager de seus três filhos até 1964, quando os Beach Boys começaram a querer tomar novos rumos longe do surf rock. Já na família Jackson, Joe Jackson decidia as etapas produtivas de seus filhos, entre eles, Michael Jackson.

Entretanto, o momento de ressignificação do termo boyband para como é considerado hoje, veio na década de 1980. Grupos como o Menudo e New Kids On The Block seguiam os moldes de terem o vestiário combinando, músicas pop contagiantes e uma legião de fãs histéricas atrás deles, mas também adicionaram a dança em seu repertório. Além de serem garotos bonitinhos e carismáticos, eles também arriscavam passos de dança. Assim, o grupo porto-riquenho alcançou a marca de um milhão de discos vendidos no Brasil através do disco “Mania” de 1984 e os garotos estadunidenses venderam mais de setenta milhões de discos em menos de uma década em atividade. 

Na década seguinte veio a dominação total de todas as paradas musicais através de duas boybands: Backstreet Boys e *NSYNC. Os dois grupos junto com a Britney Spears foram os responsáveis pela explosão do pop na década de 1990, que fez o gênero ressurgir, através de baladas cheias de vocais harmoniosos e coreografias elaboradas. Os dois grupos eram da gravadora Jive Records e eram gerenciados por Lou Pearlman, de modo que a competição entre os dois era vista como favorável para o lucro da gravadora. 

Mesmo sendo “rivais” da atenção adolescente, as duas boybands seguiam a mesma fórmula: Primeiro, tínhamos que cada integrante representava um arquétipo, do rebelde ao romântico, passando pelo bobalhão, eles continuavam mostrando que sempre existiria um integrante para cada tipo de fã. Segundamente, as músicas eram as mais românticas possíveis, para derreter o coração das ouvintes. Em terceiro lugar, o elemento da dança que já havia sido introduzido na década anterior volta, mas agora de forma muito mais elaborada. 

Para adicionar à lista, uma novidade da época foi o investimento da imagem dessas boybands através de videoclipes até hoje emblemáticos. No caso do *NSYNC, a cena inicial deles como marionetes em “Bye Bye Bye” virou um marco no pop. O esforço era tão grande que o clipe de “Larger Than Life” dos BBs custou mais de dois milhões de dólares para produzir. Mesmo após décadas do lançamento de “A Hard Day’s Night”, os Backstreet Boys adicionam elementos parecidos no clipe de “I Want It That Way”. Na parte final do vídeo, os cinco integrantes aparecem cantando tranquilamente no meio de fãs que estão gritando seus nomes, cantando junto com eles e mostrando cartazes para cada um dos membros da boyband.  

Com a virada do século, também houve uma mudança na forma como as boybands eram. Os adolescentes da época já não estavam tão interessados em artistas pop, visto que o cenário do rock voltava com força. Inspirados em Green Day e Blink – 182, o trio britânico Busted lançou seu maior hit “Year 3000” em 2002. A faceta pop punk das boybands se tornou um sucesso, alcançando o topo das paradas. Na mesma onda, apareceram no cenário o McFly e os Jonas Brothers – que até regravaram “Year 3000” em 2006.

Sempre ligados a suas fãs e investindo muito em publicidade, as boybands ainda passaram por uma remodelação com a formação da One Direction. Mesmo com pose de mocinhos, os cinco garotos não entravam no modelo dos anos 2000, mas também não queriam ser um grupo reconhecido somente pelos seus passos de dança e vozes combinando. Dessa forma, em seus anos em atividade, o grupo alcançou o topo das paradas várias vezes, se tornando um marco na música pop mundial. 

The X- Factor: onde tudo começou

No ano de 2010, em cada cantinho da Grã Bretanha surgiam 5 peças fundamentais do que viria a ser uma das maiores boybands dos últimos tempos. Niall, Louis, Harry, Liam e Zayn fizeram suas audições como cantores solo para o até então grandioso programa britânico de caça talentos The X Factor, obtendo sucesso e prosseguindo para a próxima fase com a aprovação dos jurados e convidados. Cada um com seu carisma e suas histórias divergentes, os garotos de 16, 17 e 18 anos já chegaram conquistando corações dos telespectadores — e alguns deles não eram estranhos ao programa. 

A história de Liam Payne, em particular, merece destaque: ele já havia participado do programa 2 anos antes, chegando até a fase da “Casa dos Jurados”, na qual Simon Cowell (o diretor e principal jurado do programa)  tomou a decisão de mandá-lo para casa por não estar completamente preparado — ainda. A eliminação veio com um pedido: que o garoto de apenas 14 anos voltasse 2 temporadas depois, mais preparado e maduro, pois seu potencial com certeza não poderia ser desperdiçado. E assim ele o fez: seu retorno triunfal rendeu aplausos de pé por sua rendição de “Cry Me a River” (Michael Bublé), e um “grandioso sim” de Cowell — que parecia bastante orgulhoso da decisão que tomou alguns anos antes.

Louis Tomlinson também não era um rosto novo e chegou a audicionar duas vezes antes de finalmente conseguir sua vaga na terceira tentativa, cantando “Hey There Delilah”. Pouco se sabe sobre suas outras audições, mas uma coisa é certa: o timing para todos os integrantes foi impecável. Niall Horan chegou a dividir os jurados com sua performance de “So Sick”, mas foi salvo por ninguém menos que Katy Perry, que o presenteou com seu terceiro sim (dentre 4 jurados ) e uma chance no programa. Zayn Malik não queria sair da cama para sua audição naquela manhã, mas que bom que o fez: sua apresentação acapella de “Let Me Love You” o rendeu a aprovação de todos os jurados. O que nos leva, naturalmente, a Harry Styles, que chegou ao palco um pouco nervoso, mas ainda sim confortável e nos entregou uma adorável versão acapella de Isn’t She Lovely”. O garoto  de 16 anos que trabalhava em uma padaria não tinha ideia do que a aprovação de Cowell e Nicole Scherzinger seria apenas o começo de sua jornada na música.

Aparentemente, tudo havia dado certo para todos eles… Até que seus nomes não foram chamados quando a lista de competidores aprovados no Bootcamp foi convocada. Havia o sonho dos 5 garotos acabado ali? O mundo inteiro sabe a resposta: foi apenas o começo. Não muito depois, os 5 estranhos foram colocados juntos em uma banda — ideia de Simon e Nicole — e ali, no dia 23 de julho de 2010, surgia a grandiosa One Direction.

A banda logo conquistou uma fã base sólida em suas primeiras semanas no programa, que só cresceu ao longo de sua participação. Seus “vídeos diários”, feitos especialmente para os fãs e para documentar sua jornada no programa, eram ansiosamente aguardados a cada semana, e neles os garotos apresentaram ao mundo, aos poucos, suas personalidades. Foi criado um consenso entre as fãs, definindo cada um deles por um traço específico: Louis era o engraçado, Niall era o risonho e fofo, Liam era o responsável, Zayn era o misterioso e Harry, o galã. Junte isso ao fato de que esses 5 garotos tinham tudo para não ser uma boyband tradicional: sem coreografias, roupas combinadas e cabelos iguais e aí estava: o próximo fenômeno mundial surgia em frente à milhões de olhos atentos.

“Eu acho que vocês são a próxima grande boyband!” Louis Walsh exclamou animadamente após uma das proveitosas apresentações da banda. Cada vez mais aclamados, os adolescentes conquistaram espaço rapidamente não só no programa mas fora dele, o que os fez chegar até a final… em terceiro lugar. Ao serem perguntados sobre o futuro da banda, Zayn, com lágrimas nos olhos, declarou que aquele definitivamente não era o fim deles. E ele estava certo: Simon Cowell, como era de se esperar, os deu outra chance, vendo a proporção que a banda rapidamente havia tomado. Seu contrato com a Syco Music foi assinado exatamente um dia depois da final do The X Factor. Após um ano agitado, os 5 meninos voltaram para suas casas no feriado de fim de ano com um contrato assinado, um livro lançado  sobre sua jornada no TXF — Forever Young; um álbum no horizonte para ser gravado e uma mini turnê agendada com seus companheiros de programa. A X Factor Live Tour durou apenas dois meses, mas serviu como experiência de palco para os 5 garotos que agora tinham um álbum para ser gravado e lançado no mesmo ano. 

Uma nova fase: do primeiro álbum ao estrelato

Começava a partir daquele momento um esplêndido ano para a banda (2011). Com o aumento de sua fã base e da One Direction Mania, os agora chamados “directioners” se multiplicavam cada vez mais e ansiavam por lançamentos da banda. No dia 11 de setembro de 2011 seu primeiro single, “What Makes You Beautiful” foi lançada como lead single do Up All Night, primeiro álbum da banda, lançado em novembro do mesmo ano. A música pop chiclete (que curiosamente possui sample de “Summer Nights”, do musical Grease)  foi um sucesso, alcançando primeira posição nos charts em diversos países.

Após seu acordo com a gravadora americana Columbia Records, a banda finalmente seria lançada nos EUA. Com versões normais com apenas 13 canções até versões deluxe com 15 e até 18 músicas, Up All Night os consagrou como o primeiro grupo britânico a debutar em #1 nos Estados Unidos com seu álbum de estreia. Aos poucos, a febre britânica invadia o outro lado do oceano, e logo mais, o mundo inteiro. Parecia que Beatlemania havia se morfado na One Direction Fever décadas depois; as boybands e todo o glamour do mundo pop estavam de volta e haviam criado força estrondosa com o crescimento da One Direction.

Sua turnê de estreia para a promoção do álbum, Up All Night Tour, teve início em dezembro de 2011, inicialmente com datas apenas para a Irlanda e Grã Bretanha mas logo sendo expandida para a Austrália, Nova Zelândia e América do Norte. Sendo um completo sucesso, um dos shows chegou a ser gravado e transmitido em janeiro de 2012 pela BBC, logo sendo lançado em DVD no mesmo ano. 

O ano de 2012 foi bem mais agitado para a banda. Em fevereiro, eles participaram de sua primeira grande premiação, o BRIT Awards, tendo sido nomeados em 3 categorias e levando para casa o prêmio de “Best British Single”, uma categoria votada por fãs. Foi um grande marco em sua carreira e fruto de seu sucesso no Reino Unido. Sua segunda turnê, a Take Me Home Tour, foi anunciada logo depois do evento.

Com sua estreia na América do Norte com o primeiro álbum, era necessário se consolidar em território americano, a com isso surgiu a necessidade de promover a banda para expandir o público. Depois de algumas aparições na TV, a One Direction se juntou ao grupo Big Time Rush para abrir 10 de seus shows na turnê Better With U, com intuito de ganhar público para seus shows. Em uma entrevista de 2014, um dos membros do BTR revelou que dividir o palco com o quinteto não foi tão agradável porque eles roubavam o holofote dos americanos: “A única razão pela qual fizemos turnê com eles foi porque compartilhamos a mesma gravadora e eles estavam nos usando para promover a banda nos Estados Unidos. Nós não achamos justo […]”. Era mais uma prova do quanto o grupo cresceu rapidamente fora do território britânico e apenas o começo de um grande ano para eles.

Em agosto, a banda foi convidada a cantar seu hit “What Makes You Beautiful” no encerramento das Olimpíadas, em Londres. O evento, transmitido para o mundo inteiro, continua sendo um dos mais memoráveis do grupo.  Em setembro, eles provaram mais uma vez serem os novos queridinhos da “América”, participando da grande premiação americana MTV Video Music Awards e levando para casa três grandes prêmios, além de performar seu single “One Thing”. E o mês não parou por aí: alguns dias depois, foi lançado o primeiro single do segundo álbum da banda: “Live While We’re Young”. Era o início da aguardada era Take Me Home.

Após lançarem o álbum 4 dias antes do previsto por conta de um vazamento na internet, a música, juntamente com o clipe, foram muito bem recebidos pela crítica e pelos fãs, chegando a quebrar o recorde da Vevo de clipe mais visto nas primeiras 24 horas. A letra já demonstrava um ligeiro crescimento em relação ao primeiro álbum, tratando de um tema mais maduro e ligeiramente sexual — mesmo que na época não fosse claro para boa parte das fãs adolescentes. Os riffs iniciais são um aceno claro à “Should I Stay or Should I Go” do The Clash, e aos poucos a sonoridade integralmente pop da banda foi florescendo com influências rock no segundo álbum do quinteto, abrindo caminho para Midnight Memories — que viria a ser seu álbum com mais influências rock e consolidação de sua autonomia lírica. Além disso, os membros começaram a participar mais ativamente da composição de suas músicas, sendo creditados em várias delas.

Take Me Home teve três singles, todos eles com clipes. A banda apostou na diferença de sonoridade em cada um deles, mudando a vibe no segundo: “Kiss You” tem uma pegada mais divertida ainda, com menos elementos de guitarra mas uma batida que com certeza toma conta da mente de quem a escuta. O clipe foi gravado em estúdio com telas verdes, brincando com vários cenários, elementos divertidos e com direito a uma homenagem ao clássico clipe de Elvis, “Jailhouse Rock”. O terceiro e último single é foi a romântica “Little Things”, escrita por Ed Sheeran e uma das favoritas dos fãs até hoje. Quem nunca gritou “you sing!” junto com Niall assistindo a alguma live da música que atire a primeira pedra!

Como havia de se esperar, a Take me Home Tour foi um sucesso mundial. Os ingressos se esgotaram rapidamente mesmo a turnê tendo sido anunciada antes de seu segundo álbum ser lançado. A banda australiana 5 Seconds of Summer abriu os shows da Europa, América do Norte, Austrália e Ásia, consolidando uma grande parceria entre os membros (que durou duas turnês)  e colocando os 4 australianos no radar.

O início de 2013 começou agitado para a banda. Poucos meses após o lançamento do seu segundo álbum, Take Me Home, a banda lançou uma versão das músicas “One Way Or Another” de Blondie e “Teenage Kicks” do The Undertones, que teve os lucros doados para a Comic Relief, organização que angaria fundos para países africanos e combater a pobreza no Reino Unido, e um clipe gravado em Gana, Londres, Nova Iorque e Tóquio. O medley tem uma melodia típica de um pop rock e a partir dele já podíamos perceber uma evolução no som da boyband, que apresentou sua versão no BRITs deste ano, quando eles ganharam o prêmio da categoria Sucesso Global. 

Em agosto, foi lançado o primeiro documentário do grupo, o One Direction: This Is Us, dirigido por Morgan Spurlock. O longa conta parte da vida pessoal e profissional de cada um dos integrantes, misturando cenas desde a participação dos cinco no The X Factor até a turnê do seu segundo álbum durante os seus 92 minutos. 

E mesmo com 131 shows na turnê, houve um grande momento memorável dessa era foi o 1D Day, que aconteceu dia 23 de novembro quando Niall, Harry, Louis, Liam e Zayn passaram 7 horas ao vivo de um estúdio televisivo de Los Angeles com atividades, jogos, participações especiais e, principalmente, falando sobre o terceiro álbum que seria lançado poucos dias depois.  O evento deu aos fãs um dos vídeos preferidos do fandom, uma versão de “Talk Dirty To Me” do Jason Derulo.

Logo depois foi lançado o terceiro álbum de estúdio, intitulado Midnight Memories, fazendo com que o One Direction se tornasse o primeiro grupo britânico a alcançar o topo da Top 200 da Billboard com três álbuns seguidos desde 1967, além de ser primeiro lugar em mais 31 países. Esse trabalho marcou a transição da banda para um pop rock bem mais maduro, contendo músicas com uma maior presença de guitarras, como “Little Black Dress”, “Little White Lies” e a própria homônima do disco. Apesar disso, em nenhum momento o grupo perdeu sua essência pop e manteve em suas letras as temáticas adolescentes, baladas românticas, refrões marcantes e, é claro, clipes grandiosos. Nisso não podemos deixar de citar o vídeo do single “Best Song Ever”, que contou com fantasias, personagens e muita diversão dos integrantes. Outro clipe que merece destaque dessa era é o de “Story Of My Life”, o qual aborda um pouco da vida e família dos cinco integrantes, mostrando seus familiares e fotos antigas, o conjunto perfeito para emocionar todos os fãs da banda. 

Para a divulgação do álbum, o grupo realizou a Where We Are Tour em 2014, contando com o show de abertura dos australianos do 5 Seconds Of Summer na Europa e Estados Unidos. Essa parceria entre as bandas definitivamente foi o impulso para a carreira do 5SOS, já que quando foram convidados eles possuíam apenas um EP e alguns vídeos no YouTube. Após um tweet de Louis Tomlinson comentando sua admiração pelos garotos, mais fãs passaram a se interessar pelo seu trabalho também. 

Totalizando 69 apresentações e com 23 músicas na setlist, foi nessa turnê que os fãs brasileiros foram finalmente contemplados. Em maio de 2014 a One Direction pousou em solo brasileiro pela primeira (e única) vez, se apresentando no Rio de Janeiro dia 8 e em São Paulo nos dias 10 e 11, com o show de abertura na boyband brasileira P9. O show no Rio de Janeiro contou com uma grande surpresa para os directioners, Harry Styles mostrou sua tatuagem em homenagem ao Brasil levando todos à loucura. Já em São Paulo, tivemos o cantor desejando feliz dia das mães para todas que acompanhavam os filhos durante o espetáculo. 

Durante a sua passagem por Milão, o grupo gravou o DVD da turnê, intitulado Where We Are Concert Film no estádio de San Siro, que apresentou o show completo e alguns momentos dos bastidores para a felicidade dos fãs que não puderam assistir ao vivo ou gostariam de reviver as apresentações do grupo. O longa foi exibido apenas durante dois dias de outubro nos cinemas, mas em dezembro já podia ser adquirido nas lojas físicas e online. 

Como de costume nos anos anteriores, em novembro foi lançado Four, o quarto álbum do grupo. Nesse projeto, os britânicos contaram com a colaboração de outros artistas para a composição das músicas, como John Legend, Ed Sheeran e integrantes da banda McFly. Assim como o grupo e os fãs, ao decorrer do disco as músicas e os conteúdos amadurecem cada vez mais, ali já podemos perceber em “Night Changes” a questão de envelhecer, assim como uma tentativa de fingir ser um indie rock dançante em “No Control” e até pegadas oitentistas em “Stockholm Syndrome”, mas mesmo diante disso as músicas divertidas e animadas características da banda não foram deixadas de lado, como percebemos com “Girl Almighty”. Nessa era tivemos como single apenas “Steal My Girl” e “Night Changes”. Apesar de seu grande sucesso entre os fãs, as críticas não vieram tão positivas.

Para a promoção do álbum foi feita o que viria a ser a última turnê do grupo, a On The Road Again que iniciou em fevereiro do ano seguinte na Austrália e durou até Outubro. O que as fãs não sabiam era o que estava por vir nos próximos meses, incluindo o último show de Zayn Malik como integrante do grupo dia 18 de Março, em Hong Kong, e logo depois o anúncio oficial do grupo sobre a sua saída da banda. O cantor alegou estar muito estressado e que desejava ser um “um cara normal com privacidade” (o que não faz sentido se considerarmos que exatamente um ano depois ele lançou seu primeiro álbum solo Mind Of Mine). No comunicado eles lamentaram a saída, mesmo entendendo, e avisaram que continuariam a turnê como um quarteto e estavam trabalhando no quinto álbum. 

Alguns meses depois de sua saída, em entrevistas, Zayn criticou o estilo genérico das músicas e imposições dos empresários que os impediam de explorar a sua criatividade, além de ter discutido com Louis Tomlinson no Twitter. Nesse momento, ele já havia assinado contrato com a gravadora RCA.

Em outubro a banda encerrava a turnê e anunciava a tracklist do primeiro álbum como quarteto pela sua conta oficial no Snapchat. O Made In The A.M. conta com 17 músicas e, mais uma vez, foi lançado em novembro, tendo “Drag Me Down”, “Infinity”, “Perfect”, “History”, “End of the Day”, “Love You Goodbye” e “What a Feeling” como singles. 

Diferentemente dos outros quatro trabalhos, esse não teve uma tour para a divulgação, mas sim uma pausa que as fãs não esperavam. Em 2016 foi anunciado que os integrantes tirariam férias durante aproximadamente 18 meses e utilizariam esse tempo para se dedicar aos projetos solos. No entanto, o que sabemos é que esses 18 meses duram até hoje e as carreiras como artistas solo alavancaram assim como a da própria banda. Em 2020 Louis, Niall e Harry estariam em turnê se não fosse pela pandemia e todos os integrantes (incluindo Zayn) já possuem álbuns e uma legião de fãs que veio, ou não, do fandom da One Direction. 

A individualização dos membros

Seguindo exemplos como Justin Timberlake e Paul McCartney, a era da carreira solo chegou para todos os integrantes da One Direction. Zayn assinou com a RCA Records em julho de 2015 e no final de janeiro de 2016 já estava dividindo com o mundo não só seu primeiro single, “Pillowtalk” que veio acompanhado do videoclipe, como também seu novo nome artístico com letras em caixa alta. Além de ser bem recebido pelos fãs e pela crítica, Malik ainda marcou a história da Billboard Hot 100, sendo o primeiro artista masculino britânico a estrear na primeira posição do ranking norte-americano. 

Em março, seu disco de estreia Mind of Mine foi lançado entregando 18 faixas na versão deluxe, com quase uma hora de duração. No Metacritic, o trabalho acumula uma avaliação 69 de 100, com críticas da mídia muito positivas e elogiando tanto os vocais quanto a maturidade em suas composições. 

Zayn Malik também despontou nas trilhas sonoras de grandes estreias do cinema, como Cinquenta Tons Mais Escuros com “I Don’t Wanna Live Forever” em uma parceria inédita com Taylor Swift; Ghostbusters com a faixa “wHo”, também presente em seu disco e a regravação de “A Whole New World” para a versão live-action de Aladdin, em 2019.

Em 2018, o cantor anunciou que lançaria seu segundo trabalho de estúdio intitulado Icarus Falls. Com seis singles previamente disponibilizados nas plataformas digitais, o disco chegou com impressionantes 27 faixas e estreando na Billboard 200 na posição 61. Apesar de ter conseguido boas críticas, acabou não tendo o mesmo sucesso comercial do seu trabalho de estreia.

Zayn também chegou a lançar um livro de sua autoria que levava seu nome. De acordo com ele, o processo de escrita foi bem terapêutico e a leitura conta com diversos desabafos e revelações do artista, principalmente no que se refere ao seu período como integrante da One Direction.

Após a saída de Zayn Malik da banda, Louis, Harry, Niall e Liam continuaram em turnê durante mais oito shows e logo entraram em estúdio para gravar até então o último lançamento da One Direction, o álbum Made in the A.M.. Sem campanha promocional, o grupo liberou o clipe de “Drag me Down” em julho de 2015, sendo o primeiro material audiovisual sem a presença do agora ex-integrante. A banda também chegou a anunciar o single “Infinity” e liberar o clipe de “Perfect” naquele mesmo ano, este último atingindo o Top 10 da Billboard e fazendo o grupo quebrar o recorde dos Beatles com cinco músicas a entrarem direto nas primeiras dez posições das paradas.

Made in the A.M. chegou em novembro de 2015 e teve boa recepção da crítica e ficou atrás apenas de Take me Home no banco de avaliações do Metaritic, pontuando 65 de 100. Comercialmente, foi registrado como o sexto mais vendido álbum daquele ano. O disco não ganhou uma turnê própria, o que fez muitos fãs suspeitarem de um possível término da One Direction antes mesmo dele ser lançado. Em agosto de 2015, Niall Horan veio às redes sociais para informar sobre a pausa em 2016.

O irlandês foi, inclusive, o primeiro depois do hiato a lançar um trabalho autoral. O single “This Town” foi lançado em setembro de 2016 e estreou na Billboard 200 na posição 20. Alguns meses depois, Horan lançou “Slow Hands” em maio de 2017 e declarou estar trabalhando num disco solo. Flicker foi apresentado aos fãs mais tarde naquele ano, com o single “Too Much to Ask” e a turnê Flicker Sessions 2017 antecipando o lançamento. O disco debutou na primeira posição da Billboard 200 em novembro.

Em setembro do ano passado, Niall declarou estar trabalhando no seu segundo disco de estúdio e lançou o single “Nice To Meet Ya” um mês depois, sendo seguidos de “Put A Little Love On Me” e “No Judgement”. O disco Heartbreak Weather chegou em março de 2020 conquistando boa parte da crítica e estreando na quarta posição da Billboard 200, porém devido à pandemia causada pelo novo coronavírus, a turnê acabou sendo cancelada.

Harry Styles foi o integrante que mais prosperou desde o hiato da banda. Assim como Niall, também possui dois discos autorais e conquista cada vez mais fãs e boas declarações da crítica. Seu disco homônimo chegou a ser considerado o melhor de 2017 em diversas publicações. A Rolling Stone descreveu o disco em sua crítica como algo que “reivindica território [de Harry] como um verdadeiro príncipe do rock & roll, sunshine superman, um dançarino cósmico em contato com seu lado introspectivo acústico.”

Como se não bastasse, o cantor conseguiu se superar ainda mais com o lançamento de Fine Line, em dezembro de 2019. O disco foi antecipado pelo single “Lights Up” e um de seus maiores sucessos saiu logo depois de seu lançamento, “Adore You”. O segundo trabalho de Styles garantiu um surpreendente 76 de 100 nas avaliações do Metacritic, com quase todas as reviews afirmando a mesma coisa: Harry Styles está mais maduro e confiante sobre si mesmo e sua música.

Por outro lado, Liam Payne, uma das mais marcantes vozes da One Direction, não teve o mesmo sucesso que o ex-colega. No início da carreira solo, ele se dedicou em abrir a empresa de composição Hampton Music Limited, uma vez que já estava pendendo para o seu lado criativo no fim da banda.

“Strip that down” chegou em 2017 alguns meses depois do cantor assinar com uma nova gravadora e aparecer em músicas de outros artistas como convidado especial. O single é considerado um sucesso comercial e chegou a entrar no Top 10 da Billboard; as músicas “Bedroom Floor” e “Get Low”, essa última com o DJ Zedd, chegaram logo depois, também tendo uma boa recepção do público.

Naquele ano, Liam já trabalhava em seu primeiro álbum e o descreveu para a imprensa como sendo “muito eclético”, além de marcar o lançamento para setembro de 2018 e adiar o mesmo após disponibilizar o EP First Time. Ele justificou a mudança da data dizendo que seu disco precisava de “alguns ajustes”.

Após sondar o lançamento de LP1 para este ano, este acabou sendo disponibilizado em dezembro de 2019. Sua recepção foi um misto de críticas positivas, negativas e uma má estreia na Billboard 200, na posição 111. No Metacritic, foi o álbum com a pior avaliação do site, com sete resenhas ou mais de 2019 no site. LP1 recebeu críticas pesadas do público em geral por fetichizar mulheres bissexuais na faixa “Both Ways”.

Por fim, Louis Tomlinson foi o último dos cinco a lançar seu primeiro disco de trabalho. O inglês chegou a lançar diversos singles, começando por “Just Hold On”, com o DJ Steve Aoki; “Back to You”, sua parceria com Bebe Rexha e as músicas “Just Like You” e “Miss You”. Quando disponibilizou o single “Two Of Us”, em março de 2019, Louis aproveitou para anunciar que a música participaria de seu álbum, que seria lançado no início de 2020. Posteriormente, ele ainda liberou mais faixas do disco, “Kill My Mind”, “We Made It” e “Don’t Let It Break Your Heart”.

Walls chegou em janeiro deste ano logo após o lançamento do single que dá nome ao disco. Atualmente, o músico é o que possui menos ouvintes mensais no Spotify se comparado ao restante do ex-grupo. Seu álbum estreou na posição 9 da Billboard 200, embora a recepção da crítica tenha sido mediana. A Rolling Stone, por exemplo, observou que Louis não chegou a “se libertar em Walls; segundo seus fãs, muito disso pode ser dado ao mal relacionamento e restrito contrato do músico com a Syco Music. Tomlinson anunciou em julho desse ano que não renovaria com a gravadora e que já começou a escrever seu segundo disco de estúdio.

O Futuro Das Boybands

O One Direction foi a boyband que definiu a sonoridade para outras boybands que surgiram na mesma década, assim como os Beatles e tantos outros nomes que surgiram previamente na indústria. Além de ditarem tendência na moda, apresentaram tendências no mundo da música pop ocidental. Por conta da sua fórmula de sucesso aparentemente de fácil percepção, outras bandas como 5 Seconds Of Summer (no início de sua carreira), Emblem3 e aqui no Brasil, o Fly apresentavam características semelhantes ao One Direction em alguns aspectos. As letras sobre relações interpessoais e a sua rebeldia comedida conquistou fãs ao redor do mundo, mas o que aconteceu após o hiato na indústria? 

Os fãs gostando ou não, a banda tinha uma equipe de marketing muito forte e certeira, que sempre ajudou e coordenou a trajetória do grupo, mesmo com a liberdade criativa na escrita e composição dos álbuns. A banda conseguiu contemplar uma ampla faixa etária e conversavam com o público de diferentes idades. Esse público se dividiu não somente estilo musical e na carreira solo que cada um trouxe, mas também nas outras sonoridades que a indústria fonográfica oferecia naquele período.

Com isso, o mundo ocidental carecia de boybands do universo do gênero pop com uma carreira já solidificada e com números grandiosos como o One Direction, desse modo, observamos o boom do K-Pop e sua invasão no mercado musical ocidental e também pelo sentimento de necessidade dos fãs de suprir o vazio que os cinco meninos deixaram em cada um. 

Notamos também o movimento de retorno de grandes boybands do início do século XXI, como McFly e Jonas Brothers. As fãs com mais idade, já possuem independência financeira e conseguem aproveitar melhor esse novo momento dessas bandas. A experiência pode contar com a possibilidade de viajar para assistir um maior número de shows da turnê, merchandising e até mesmo meet and greet, caso tenha essa opção de pacote. 

A evasão do fandom também abriu portas para um outro gênero: o indie. A divisão do público também ofereceu à essas fãs a oportunidade de conhecerem bandas como Wallows e Inhaler. Além da boyband que contempla os fãs mais velhos, com sua sonoridade de hip-hop e R&B alternativo que conquista cada vez mais seu espaço em seu nicho: o Brockhampton.

A música é uma arte ampla e variada, que contempla a todos que conseguem encontrar seu gosto pessoal para obter a identificação sonora necessária entre artista-público. 

Assim como observamos no nosso especial da semana do rock, a música faz seu movimento cíclico ao longo das décadas e em todos os gêneros musicais e as boybands não acabarão, é apenas um tempo de pausa, assim como o hiato dos meninos da escada para que os artistas mais atentos e sensitivos, que conseguem encontrar e analisar seu nicho: mapear o que está funcionando, conseguir conversar com seu público-alvo, traçar um caminho de identificação até seus fãs para que deste modo, consigam capturar toda a alma jovem e anseios de uma geração e carimbar sua marca no mundo da música.

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