Born Of Osiris traz um pé na nostalgia enquanto olha para o futuro

Born of Osiris abraça pontos fortes da carreira e apresenta disco que surpreende pela variedade e intriga pela complexidade

No começo dos anos 2000, Born Of Osiris integrou o movimento do metalcore com o metal progressivo e, posteriormente, abraçou a transição da sonoridade onipresente no “djent”. Em seu quinto disco, The Simulation, de 2019, o grupo estabilizou-se em estruturas musicais mais acessíveis enquanto dominava os poliritmos que marcam o subgênero. Esse seria o primeiro disco de uma dupla de lançamentos que abordam uma mesma temática.

Com a pandemia, a segunda parte foi adiada, mas esse atraso fez com que o grupo produzisse novas composições e decidisse que o sexto álbum, Angel or Alien, lançado no dia 2 de julho, fosse algo diferente do tema inicial.

A realidade é que o disco se coloca como uma continuação musical lógica do que havia sido apresentado em 2019, mas, além disso, ele consegue englobar tudo que o grupo apresentou de melhor em álbuns passados sem deixar de abraçar uma evolução musical com novos ares.

Após uma breve intro eletrônica, “Poster Child” começa sem mais delongas. A faixa em si não traz nada essencialmente novo ao catálogo do grupo, mas começa de uma forma tão enérgica que é impossível não empolgar com a progressão do instrumental. Mas a grande surpresa fica com o encerramento, que troca os berros por um gentil sintetizador acompanhado de um saxofone.

Na próxima track, “White Nile”, primeiro single do álbum, é destacada a proeminência técnica do grupo com um dos breakdowns mais contagiantes até aqui, pois à medida que ele avança, uma nova carta é tirada da manga, fazendo com que esse trecho não torne o som cansativo. A faixa se encerra com o destaque para ambos os guitarristas trocando o protagonismo no solo.

Os teclados e sintetizadores são usados das mais diversas formas em todas as faixas, seja para ampliar uma atmosfera animada e inspirada em “Angel or Alien” ou para potencializar o frenesi musical no encerramento de “Oathbreaker” ou até para ditar de forma hipnótica toda a jornada em “Lost Souls”.

Notável nas canções é a atenção dada aos grooves e aos breakdowns que se repetem muitas vezes, dada a natureza do gênero; entretanto, o Born Of Osiris alivia essa possibilidade preenchendo os intervalos mais pesados com leads ou trechos no teclado que evitam com que o instrumental se torne previsível e cansativo.

Em “Love Story”, a faixa mais progressiva do disco, toma um rumo inesperado após uma calma passagem atmosférica mantida pelas guitarras que ao encerramento se une ao restante dos instrumentos. “Crossface” fica como a mais precisa em termos de técnica, ao mesmo tempo que trabalha uma melodia inquietante permeando toda a faixa.

A expansão musical também se dá nos campos vocais, seja nas pesadíssimas “Truth and Denial” e “Threat of Your Presence” com a constante troca de protagonismo entre os dois vocalistas em meio ao caos instrumental, ou nas diversas variações e técnicas apresentadas por Ronnie Canizaro. Além disso, a presença definitiva dos vocais limpos em um tom atmosférico como em “Echobreather” ou até mesmo feitos pelo guitarrista Lee McKinney, em “Waves”, demonstram a atenção dada a esse aspecto.

Logo antes do encerramento, temos as duas faixas que mais lembram o catálogo inicial do grupo, na frenética “In For the Kill” que parece ter sido retirada do primeiro EP da banda ou na complexa “You Are the Narrative”, que ao mesmo tempo, parece uma atualização do que o grupo fez em A Higher Place, em 2009.

A conclusão do disco fica pela faixa mais ousada de Born Of Osiris até hoje, “Shadowmourne”, referência à franquia de jogos World Of Warcraft. Iniciando onde a primeira faixa do álbum nos deixou, o saxofone agora se mostra mais encorpado e presente no mix para desenvolver uma faixa que alterna entre seus momentos mais extremos e leves até eclodir em um solo de sax logo antes do encerramento do disco. Inclusive, ouvir a primeira faixa e já pular para a última cria uma sequência interessante com o formato de encerramento e abertura das respectivas músicas.

Quando o disco e tracklist foram anunciados, a preocupação de que 14 músicas fossem muitas e pudessem cansar, dificultando a experiência, foi uma realidade. Mas a enorme variedade musical apresentada faz com que o ouvinte crie uma expectativa positiva à medida que o álbum avança.

Angel or Alien seleciona a dedo o que houve de melhor no passado da banda, sem nunca utilizar da nostalgia como único método de satisfação. A verdade é que esse disco aprimora tudo que já foi bem feito e se demonstra como uma esperada e ideal evolução da banda. Não, o disco não reinventa a roda, mas dá os indícios de que a abordagem deles ao gênero está longe de estar datada ou repetitiva.

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