Quem diz que o pop punk está morto, definitivamente não parou pra ouvir a nova safra de artistas que vivem e respiram o gênero até hoje. Embora uma onda de nomes esteja surgindo resgatando elementos para dar uma nova roupagem ao estilo, há ainda quem não se desprenda de bandas que deram o pontapé inicial no movimento, como blink-182 e Sum 41.
A ideia aqui não é definir o que é “pop punk de verdade” e o que não é. Assim como qualquer outro gênero musical, seja o rock ‘n’ roll ou o próprio pop, o pop punk divide-se em vertentes. Nomes populares da década de 90, como o já citado blink ou o início da carreira do Green Day são hoje chamados de “pop punk old school”, enquanto bandas que surgiram a partir de 2010, como Neck Deep e State Champs, já são colocadas no grupo “underground”, visto que nasceram quando o gênero já saía do mainstream. Nomes voltando ao sucesso agora, como Machine Gun Kelly e Mod Sun, fazem parte do que está aos poucos se consolidando numa cena “pop punk revival”.
Essa contextualização é importante para esclarecer como essa tríade, mesmo que pertencentes ao mesmo gênero, conseguem influenciar diretamente a carreira de novos artistas. É o caso da Seventeen Sunsets, banda de pop punk nacional que mesmo trazendo um som 100% novo e autoral, não desprende-se de toda a história que o gênero deixou para trás. Formada em Curitiba por Leonardo Simões (21, guitarras e vocais), Leonardo Ereno (22, baixo e vocais) e André Santos (20, bateria), o grupo olha com carinho para suas origens ao mesmo tempo que cria um material inédito, além de se consolidar como um dos mais novos nomes da cena emo e independente do país.
A história da banda é muito similar à formação da 5 Seconds of Summer, citada como uma referência pelos próprios integrantes. Isso porque, assim como Luke, Calum e Michael não tinham Ashton (bateria) na formação inicial, Leo e André também começaram sem um baixista. Em entrevista exclusiva ao ROCKNBOLD, a Seventeen Sunsets deu todos os detalhes do surgimento e desenvolvimento de sua carreira, bem como o planejamento para lançar seu primeiro EP de estúdio: Midnight Lights, que chega a todas as plataformas digitais nessa sexta-feira (30).
Assim como diversas bandas de pop punk, a Seventeen surgiu de uma amizade de escola movida por uma única paixão: a música. “A ideia já vem na nossa cabeça há muito tempo”, conta o guitarrista Leo Simões. “Eu estudei junto com o André e o Leo eu conheci na internet”, revela, referindo-se à amizade que surgiu após o lançamento de California, oitavo álbum de estúdio do blink-182. O encontro do trio aconteceu em 2019, num show em Curitiba. “Foi legal pra caramba, mas não tocamos no assunto ‘banda’, essa vontade só surgiu no ano seguinte”, disse o vocalista.
2020 foi um ano essencial para o que a Seventeen Sunsets é hoje. Isso porque, mesmo com outro integrante que hoje já não faz mais parte da formação, Leo e André reuniram-se com o intuito de “ser uma banda cover do blink-182”, como detalha o baterista durante o bate-papo, porém foi apenas na virada para 2021 que a faísca de compor e produzir canções autorais foi acesa. “Atualmente, [o pop punk] não tem muito público, mas um dia nos disseram que a música autoral é o que move o mundo — e isso fez a gente pensar.”
De repente, tudo o que acontecia à volta do grupo serviu como incentivo, principalmente a parceria entre Yungblud e MGK, I Think I’m OKAY, em 2019. “Notamos que [essa cena] ia voltar. Apostamos nisso, e não deu outra”, revelou Leo Simões, citando também como referência o último álbum de estúdio do Neck Deep, All Distortions Are Intentional, lançado no ano passado. “Sentimos que era o momento certo. Já tínhamos desvantagem de estar no Brasil, mas com o gênero indo pro mainstream de novo, vimos uma chance.”
Foi então que em janeiro a Seventeen Sunsets começou a dar vida para seus dois primeiros singles de trabalho: drinking game e the moment i told u, ambos acompanhados de clipe e que resgatam todos os elementos da música pop punk dos anos 2000 que muitos juram ter caído no esquecimento. A vinda de Leo Ereno, o “leo.txt” para o grupo veio logo depois que Leo Simões e André já tinham colocado a mão na massa: agora sem o ex-integrante, precisavam de um baixista a poucos dias de entrarem no estúdio. “O começo foi difícil, a gente mal se conhecia pessoalmente”, revelou o recém-chegado. “Tínhamos nos visto uma vez e mal nos falávamos, bem webamigos mesmo [risos] ir disso pra trabalhar juntos num estúdio foi uma experiência muito legal, um desafio.”
“Em questão de duas semanas pra gente entrar no estúdio o Leo já montou as demos e já fomos fazendo alterações”, complementou o guitarrista sobre seu xará. “Parecia que a gente se conhecia faz tempo.”
Sobre o projeto, o cuidado é nítido desde o primeiro verso, visto que o intuito sempre foi estabelecer uma conexão não só entre todas as faixas (como um storytelling), mas fazer do EP Midnight Lights um universo inteiro que começa nas músicas e transborda para os clipes e toda a arte visual.
Partindo do conceito de festa americana (como as retratadas em comédias do cinema estadunidense do início dos anos 2000), a Seventeen Sunsets introduziu-se ao público com a faixa drinking game, em que já esclarece seu amor pelo período de fim da adolescência logo de pontapé. Seguindo a ideia de que os 17 anos formam a melhor fase da vida e que não há nada melhor do que passar bons momentos com os amigos, a canção acompanhada do videoclipe teve referências tiradas de diversos filmes com a mesma atmosfera: Superbad, Projeto X e American Pie.
“Todas essas paradas rolaram quando a gente tava na presença ou até mesmo na ausência dos amigos”, conta o baixista leo.txt. “A melhor forma que a gente encontrou de expressar isso esteticamente foi nessa vibe de festa, como se o EP rolasse numa festa.”
As artes dos singles se juntam como quebra-cabeças para um conceito que é finalizado na capa de Midnight Lights, que chega como uma cereja no topo do projeto. O primeiro, drinking game, pega os diversos elementos do videoclipe e da ideia criada a partir de comédias norte-americanas, com o título da música escrito a partir da bebida derramada. O copo aparece novamente na arte do EP, mesclado a outros diversas características introduzidas previamente nos clipes, canções e capas do trabalho.
A história se estende para o clipe de the moment i told u, que puxa muito mais referências do pop punk que a primeira faixa. Nele, o baterista André resgata seu talento em artes cênicas para dar vida ao entregador de pizza que, ao realizar tantos deliveries na casa de uma garota, acaba se apaixonando por ela. Assim como em drinking game, as referências aqui também são diversas, bem como utilizadas criativamente: indo desde Darkside, do blink-182 a filmes adolescentes. Com a dedicação mais uma vez tomando o protagonismo do trabalho, a Seventeen Sunsets extrapola seus próprios limites e entrega um trabalho acima do nível estabelecido por eles mesmos: oferecendo uma história divertida e que se conecta com seu próprio universo.
“Tem uma parada que tá intrínseca ao conceito do pop punk que é a diversão”, comenta Leo Ereno. “Está lado a lado com o gênero, é um diferencial diante dos outros estilos.”
Midnight Lights
Todas se concentram numa única coisa, que é o debut EP da banda. Numa capa inspirada pela casa do clipe She’s Kinda Hot, da 5 Seconds of Summer, mesclando a elementos já introduzidos nos vídeos, a Seventeen Sunsets celebra seu fim de festa no telhado de seu primeiro trabalho de estúdio, dando início a uma nova era do pop punk brasileiro.
Na arte, assinada por Valentine Zeghbi, os integrantes estão na companhia do copo americano de drinking game; trajados nas roupas utilizadas nos ensaios da banda; com Freddy Krueger na lateral da casa (dando referência a um dos versos do primeiro single) além de outras características que são tão divertidas de desvendar quanto easter eggs no cinema: tanto o fantasma no skate, o mesmo utilizado para o projeto solo de Leo.txt quanto o número 182 na porta da casa.
Além dos dois singles que antecedem o trabalho, o EP ainda conta com mais três faixas, todas as composições são assinadas por Roberto Fossatti: statement que reflete sobre pertencimento, uma das veias principais do pop punk; a romântica valentine e about that night, esta última que traz o sentimento de se despedir de momentos bons vividos com amigos.
Entre as influências, são inúmeras; e surpreendentemente, nem todas vêm do pop punk. “Pra esse EP a gente pegou um pouquinho de Alkaline Trio, Wallows, Taylor Swift”, conta Leo Simões. “e de bandas como Angels & Airwaves, Stand Atlantic e With Confidence”, esta última cujo som é bem similar ao da banda curitibana.
Futuro
Cantando em inglês e apostando na amplitude do público global, a Seventeen Sunsets mira horizontes além do território brasileiro. Não é a toa, inclusive, que a banda possui ouvintes da Austrália, Reino Unido e Estados Unidos no Spotify.
“A forma como a gente concebe as músicas e o conceito está 100% relacionado com umas paradas que a gente escuta desde sempre”, conta Leo Ereno, brincando com o longo histórico que ele e seus parceiros de grupo têm de relacionamento com o blink-182. “A forma como as ideias saem, como as paradas fluem. É como se fosse a língua que a gente fala.”
O baterista André complementa: “A estética inteira foi pensada num público pra fora”, refere-se ao EP e ao grupo. “Faríamos algo diferente se cantássemos em português, justamente para ser vendido pra cá.”
Pandemia
“A gente brinca que esse EP foi feito por WhatsApp”, diz leo.txt. “A maior parte do processo de composição [foi feita] à distância. Foi muito desafiador, eu trabalhava com produção antes de entrar na Seventeen, mas o que a gente fez foi totalmente diferente.”
“A gente se orgulha bastante nesse sentido. Tudo jogou contra a gente pra fazer esse EP”, conta o baixista referindo-se ao período em que precisou ficar isolado por ter parentes com COVID-19 faltando apenas uma sessão de gravação e às complicações com a mixagem logo no primeiro single. “Quando a gente gravou o clipe [de drinking game] a gente nem tinha a versão final”, complementa Leo Simões. “O período entre drinking game e the moment i told u foi muito corrido pra gente. Começamos a gravar em janeiro; era abril e [ainda] não tínhamos nada.”
Além de tudo isso, a banda ainda contou com a maior dificuldade enfrentada por todos os artistas desde o ano passado: se lançar no meio de uma pandemia mundial, sem shows ao vivo. “A galera nas redes sociais nos acolheu pra caramba. No fim das contas, se não fosse por eles, não estaríamos aqui”, revelou o vocalista.
Futuro
Com exclusividade ao ROCKNBOLD, a Seventeen Sunsets revela que um novo EP já está sendo desenvolvido mesmo antes de Midnight Lights ver a luz do dia. “Queremos lançar em outubro com a temática mais Halloween”, adianta Leo Simões. “As composições já começaram, já estamos com algumas demos; só estamos esperando o lançamento do primeiro EP para dar continuidade a isso.”
Midnight Lights chega a todas as plataformas digitais à meia-noite.
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