Por Ioná Corrêa
O anúncio do álbum solo de Young K foi recebido com emoções conflitantes pelos fãs do DAY6 – os MyDays. A felicidade e a animação em antecipação ao lançamento, visto como uma oportunidade nova e única para o baixista, letrista e compositor demonstrar sua criatividade independentemente da sua banda, vieram acompanhadas de tristeza quando foi revelado que o álbum seria o último lançamento do artista antes de seu alistamento no serviço militar.
Intitulado Eternal, o álbum é não só uma junção precisa e pertinente das emoções que rodearam o seu anúncio, mas também uma resposta consoladora aos receios expressados pelos fãs do cantor. A obra parece que foi dividida ao meio, seja de forma intencional ou não. Sua primeira metade coloca em evidência um aspecto mais intenso da persona artística do cantor, com um som bem mais puxado para o rock e o para o punk e que lembra bastante o estilo pelo qual Young K já é conhecido no DAY6. Já a segunda parte do álbum tem um aspecto bem mais intimista, com canções que nos aproximam mais de quem o cantor realmente é separadamente da banda.
Esse primeiro aspecto mais pesado do álbum está ilustrado especialmente em “not gonna love”, uma faixa bastante influenciada pelo punk com um instrumental agressivo que faz companhia à letra rebelde e anti-amor. A guitarra e a bateria se fazem extremamente presentes, criando uma atmosfera caótica que complementa perfeitamente os vocais ardentes de Young K ao cantar “Yeah I’m not gonna love / Who needs this kind of love?”.
“Best song” lembra bastante o estilo presente nas b-sides mais antigas da carreira do DAY6 – particularmente do segundo álbum, Daydream. O instrumental é carregado pelo piano desde os primeiros segundos da melodia e acompanhado por um beatbox em diversos momentos ao longo da canção, uma escolha peculiar, mas que funciona extremamente bem para transmitir a euforia, o amor e a felicidade que se fazem presentes já na letra da música.
A title do álbum, “Guard You”, também segue a linha intensa das canções presentes na primeira metade de Eternal, embora seja significativamente mais suave que “not gonna love” quanto a maneira em que a temática do amor é abordada. A guitarra e os synths utilizados na composição criam um ar desconcertante, complementado por alguns vocais que são distorcidos ao longo da canção. Enquanto isso, de maneira um tanto quanto contrastante, na letra Young K assume quase que o papel de um anjo da guarda ao fazer promessas grandiosas de proteção a uma pessoa amada.
Esse papel de guardião e fonte de conforto é, por sinal, um no qual o cantor continua a se colocar ao longo de outras canções presentes no álbum. Em “come as you are”, uma faixa permeada de belíssimos falsetes e adlibs executados com perfeição, Young K se oferece para ouvir e consolar as frustrações e preocupações do ouvinte e, com o verso “Until the last sigh / Let me hear it all”, garante que vai estar lá para ajudar até o final. Já em “Microphone” o cantor diz que se prontifica não só a escutar os desabafos daqueles que o procuram, mas também a os amplificar. A canção é uma parceria com o cantor Dvwn, o que ilustra justamente o desejo – já concretizado – que Young K tem de transmitir emoções que vão além das suas próprias através de sua música.
As composições de Young K são famosas por utilizar frases diretas e simples, mas que ainda expressam de forma poética situações e sentimentos com os quais todos podem se identificar. Esse talento do letrista é mais do que evidenciado em “want to love you”, uma obra prima sobre se permitir ser amado e, assim, também amar.
A letra da música é repleta de desejo e de curiosidade, enquanto o instrumental é espaçado e flutuante, dando destaque à voz do cantor. A última seção da melodia é onde a canção realmente brilha: enquanto o vocalista declara “Want to love you / Until you are as happy as I am” o instrumental torna-se cada vez mais intenso até explodir em uma mistura de synths e harmonias, atribuindo à faixa uma atmosfera arrepiante e verdadeiramente única.
Em “goodnight, dear”, a melodia consiste somente de voz e violão, terminando o álbum de forma aconchegante e suave. A música parece um cobertor quentinho, pronta para confortar qualquer pessoa que a escute. A faixa parece quase que um agradecimento por termos o acompanhado ao longo da jornada que foi esse álbum – de início tão intenso, mas que se encerra com o verso “goodnight, dear” sendo repetido a capela numa canção de ninar. É assim que Young K se despede, temporariamente, da forma mais carinhosa possível dos MyDays.
Eternal é uma obra carregada de sinceridade e de emoção, que demonstra todos os ângulos possíveis do talento e da versatilidade de Young K. O álbum é tão atemporal quanto o seu nome sugere, mas não por suas melodias. Por mais que estas tenham sido brilhantemente compostas, são as letras das canções e as emoções que elas transmitem que tornam essa obra, de fato, eterna. Young K em Eternal não se prende às incertezas, nem às despedidas que vêm por aí, mas sim às coisas que permanecem, independentemente de tudo: o seu amor pela música e o conforto que nela é encontrado.
Young K Eternal