No dia 10 de outubro de 2006, era lançado The Crusade, terceiro álbum de inéditas do Trivium. The Crusade foi uma obra marcante na carreira da banda, com uma sonoridade oposta ao que havia sido feito em seus primeiros lançamentos, o pesado Ember To Inferno (2003) e o ótimo Ascendancy (2005), ambos calcados no metalcore.
O Trivium já fazia barulho no cenário da música pesada, se destacando entre as bandas de metalcore da época, principalmente por sempre flertar com o heavy metal em suas composições. O vocalista Matt Heafy alterna com maestria entre vocais guturais e melódicos, trazendo um equilíbrio único para as canções, sendo sempre um dos pontos altos dos álbuns.
Outro destaque na sonoridade da banda é o instrumental, que sempre entregou um nível de qualidade acima da média, tornando a experiência musical em algo completo e prazeroso de se apreciar.
Com dois discos explorando o metalcore, o Trivium se destacou na cena e se tornou referência no gênero, principalmente com o lançamento do Ascendancy, que carrega as principais características do estilo, atreladas a identidade musical marcada pelos solos e pinceladas de metal clássico.
Em The Crusade, a banda surpreendeu os fãs ao se desprender do metalcore executado em seus primeiros trabalhos, mergulhando de cabeça em suas influências thrash e heavy metal. No álbum, Matt abandona os guturais e deixa os vocais limpos dominarem as músicas, colocando agressividade em momentos pontuais.
A abordagem clean dos vocais foi uma das mudanças que teve mais impacto no projeto, já que Matt sempre trabalhou muito bem a troca de vocais nas músicas. Mas isso acabou mostrando como Matt era competente e um exímio vocalista. Sua performance vocal no disco lembra o jeito de cantar de James Hetfield, vocalista do Metallica, que sempre foi uma grande inspiração para Heafy.
A banda não escapou das comparações com o Metallica, já que tanto os vocais quanto o instrumental apresentaram semelhanças com a icônica banda de thrash metal, mas é importante ressaltar que o Trivium sempre deixou sua personalidade prevalecer em todas as suas músicas. A banda nunca escondeu sua admiração pelo Metallica, que assim como o Iron Maiden, sempre foi uma grande influência, principalmente na era Ride The Lightning/Master of Puppets.
É inegável que o Trivium conseguiu fazer a transição para a sonoridade thrash com muita competência e segurança. Nem parece o mesmo grupo que lançou o Ember To Inferno alguns anos antes, soando totalmente confortável com sua nova identidade musical. Isso é o reflexo de uma banda que sabe homenagear suas influências sem se perder e esquecer suas raízes.
O instrumental é sinônimo de qualidade no caso do Trivium. O álbum entrega o melhor do thrash e heavy metal, com uma dose de modernidade que faz toda a diferença. É como se o Trivium atualizasse suas referências, deixando soar mais atual, conversando com o que estava sendo feito na época. O disco entrega peso, melodia, velocidade, solos e riffs alucinantes.
As letras de The Crusade tratam de temas variados. Algumas faixas abordam assassinatos famosos, como Entrance of the Conflagration, sobre Andrea Yates, que matou seus cinco filhos. Outras falam sobre o conceito de união, como a canção The Rising, além de também passar pela mitologia japonesa, em Becoming The Dragon, tema que seria explorado mais a fundo em seu trabalho posterior, o épico Shogun (2008).
The Crusade foi um marco na trajetória do Trivium, responsável pela sua mudança sonora e por abrir novos caminhos para a banda. O álbum ampliou o alcance do grupo, pegando fãs de metal moderno e metal clássico, colocando o Trivium como um dos nomes mais promissores de sua geração. Em The Crusade, a banda explorou suas influências e se permitiu mudar, sem perder sua identidade e confiança. O disco segue sendo um dos mais coesos em sua discografia, se tornando uma das principais obras do thrash metal moderno.