Royal Blood desacelera no enigmático “Back To The Water Below” – REVIEW

Após polêmicas com públicos de festivais aversos ao rock n roll, a banda se demonstra honesta, embora melancólica em seu quarto LP

Nove anos se passaram desde que os britânicos do Royal Blood lançaram os primeiros singles do que viria ser o seu primeiro disco de estúdio, autointitulado, com a promessa do que parecia ser revolucionário numa época em que o rock estava demodé. A proposta de uma banda sem guitarras despertou então a atenção de artistas gigantes da cena, e em pouquíssimo tempo, o duo de Brighton estava em lineups de festivais de peso – como o Rock in Rio, em 2015, onde dividiu o palco principal com Gojira, Mötley Crüe e Metallica. Ao longo dos anos de estrada, apostaram fortemente em riffs pesados de baixo, cheios de efeitos para simular guitarras, criando um som enérgico e autêntico nos dois primeiros discos. Em seguida, deram um verdadeiro drift 360 para pegar uma curva em direção ao rock dançante no autêntico “Typhoons“, de 2021. Agora, Mike Kerr e Ben Thatcher parecem sem rumo definido em seu mais recente lançamento: Back To The Water Below.

A dupla teve em sua trajetória o privilégio de ser quase um nepo-baby do rock. Além do apoio de Matt Helders, baterista do Arctic Monkeys, a banda foi rapidamente abençoada por Josh Homme, líder do Queens of The Stone Age, que mais tarde viria a assinar a produção da faixa “Boilermaker“. O duo abriu mão de trabalhar com outros profissionais no novo LP e produziu o trabalho sozinho. Mike Kerr admite que a maioria das letras surgiu despretensiosamente, sem a real intenção de resultar em um novo disco: “Eu me peguei olhando para o piano com as letras na minha frente e escrevendo músicas de uma forma muito pura, sem riffs, sem me gravar”, revela o frontman para a DIY Magazine.

Para onde ir após atingir o topo, ou o auge de sua criatividade? Para onde rumar quando todos os caminhos do rock parecem já ter sido escritos? Como superar as expectativas dos fãs e da mídia? “Back To The Water Below“, que pode ser interpretado como “De Volta Para Águas Profundas”, sugeriria uma produção de volta às raízes, mas se tem uma coisa com que esse álbum não se parece são as faixas do Royal Blood no início de sua carreira. Ainda sim, Mike e Ben seguem invictos na missão de não fazer mais do mesmo. O álbum, um tanto quanto desacelerado em comparação com seus antecessores, apresenta doses homeopáticas de energia e ousadia no uso assertivo de sintetizadores somados ao uso pontual de riffs, principalmente em solos, mas nenhuma intenção de soar grandioso ou megalomaníaco. O uso do piano ganha um destaque pouco visto em sua discografia, apresentando um carisma melancólico, embora sofisticado.

Sofisticação não costumava ser um adjetivo aplicado ao Royal Blood. O som mais polido lembra bastante os rumos trilhados recentemente pelos também britânicos do Arctic Monkeys em seus dois últimos álbuns – o que talvez desaponte uma porcentagem de fãs da dupla de Brighton. Resquícios do som sujo característico da banda ainda podem ser encontrados em faixas como “Tell Me When It’s Too Late“, e o lead single “Mountains At Midnight“. As demais tracks se demonstram intensas dentro de seus próprios limites, o que não empolga muito, e muito menos convida o público a mobilizar rodas de mosh pit como de costume. Faixas como “How Many More Times” quase flertam com o britpop clássico do Oasis. “There Goes My Cool“, em décadas atrás, poderia ser uma produção dos Beatles – o que não é exatamente um elogio. O resultado é um álbum de 10 músicas onde a maioria delas é difícil de se destacar ou distinguir porque soam iguais.

O lirismo profundo de Mike Kerr e a percussão intensa de Ben Thatcher ainda estão ali, porém em uma versão mais despretensiosa e refinada, ainda com produção e mixagem impecáveis. Back To The Water Below é, sem dúvidas, um prato cheio para quem não gostou do dançante Typhoons. O novo disco é exatamente o seu oposto. Não é pop e nem tão sujo quanto de costume, mas se demonstra honesto ao traduzir o momento em que a banda se encontra: talvez um período mais introspectivo, mas jamais perdido. Não é uma obra do acaso – é exatamente o que o duo queria fazer. O carisma e a beleza do álbum estão mais em seus solos e menos na sua vontade de mobilizar multidões, como fizeram muito bem nos últimos três LPs. O resultado pode não suprir expectativas, mas sem dúvidas apresenta uma nova faceta dentro da versatilidade da banda. Não é ruim, mas às vezes, o preço de ser autêntico é dar meia volta e criar um disco morno, ou até esquecível.

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