Há 10 anos era lançado o Let’s Cheers to This, o segundo de estúdio da Sleeping With Sirens, álbum que, até hoje, é colocado pelos fãs em uma das posições do topo em qualquer ranking da discografia. O próprio vocalista Kellin Quinn diz amar tanto o trabalho que independente do que a banda venha a lançar, o disco ainda permanece em seu Top 3 de gravações, descrito pelo próprio músico como “uma história inteira”.
Antes de iniciar uma análise mais aprofundada do álbum em si, é importante entender o contexto em que Let’s Cheers to This aconteceu: lançado em maio de 2011, o disco chegou pouco mais de um ano após a Sleeping With Sirens se lançar como uma banda independente com o debut With Ears To See and Eyes to Hear, que consolidou o grupo como um nome representante do emo e post-hardcore no início da década de 2010. Dessa vez, Jesse Lawson e Jack Fowler já estavam sendo considerados integrantes definitivos, além da SWS finalmente estar assinada à gravadora Rise Records, o que trouxe um orçamento mais alto e confortável para lançar seu segundo trabalho de estúdio e agradar os fãs já cativados no disco antecessor, além de atingir novos públicos.
Let’s Cheers traz quase a mesma identidade musical que o antecessor, mas aborda temáticas mais maduras e atuais que pudessem alcançar fãs de faixas etárias mais elevadas. Foi logo no segundo álbum da carreira que a banda sentiu que era a hora de trazer questões de saúde mental e traumas familiares para seu repertório. Após um disco que abordava frustrações amorosas na mesma medida que entregava declarações apaixonadas, Sleeping With Sirens, ou mais especificamente Kellin Quinn, decidiu tirar do baú uma frustração paterna que teve logo quando criança e trascendeu-a em palavras para criar a faixa A Trophy Fathers Trophy Son.
“Nossa discografia é uma espécie de coleção de canções que não necessariamente parecem coesas o tempo todo, e eu acho que este álbum é definitivamente um deles”, revelou Kellin Quinn ao rankear os álbuns de Sleeping With Sirens à Kerrang! Magazine.
Embora não seja 100% inovador, vale destacar o quão admirável é uma banda produzir algo tão sólido de primeira (considerando que Let’s Cheers foi o primeiro disco com a Rise Records) e que mantivesse seu público ao mesmo tempo que alcança mais ouvintes. Além disso, por ser atemporal e abstrato, os fãs ainda guardam um enorme carinho pelo trabalho, independente de quantos álbuns a banda venha a lançar futuramente (numa discografia de seis discos em estúdio até agora).
Let’s Cheers to This fez a Sleeping With Sirens ser o meio termo entre o pop punk e o post-hardcore pela presença do baterista Gabe Barham em faixas como If You Can’t Hang, uma das mais famosas da banda. É o álbum que manteve as peculiaridades e a essência de With Ears e abordou uma nova identidade para a SWS — agora mais madura e segura de si e podendo inventar seus próprios conceitos sem perder a legião de fãs que a rodeia.
Kellin Quinn está usando e abusando de sua voz e seus gritos nesse trabalho, mesclando-os com o ótimo backing vocal de Jesse Lawson que se valoriza cada vez mais na mixagem. Embora entregue o screamo, que não é agradável aos ouvidos de qualquer fã de “música emo”, a inclinação para uma sonoridade mais comercial nesse álbum serviu de trampolim para a Sleeping With Sirens tornar-se a banda que é hoje, mesmo que dois dos integrantes que compuseram esse álbum não estejam mais presentes no grupo.
É claro que, lançar um trabalho tão completo num ano como 2011 faz com que a expectativa para o álbum seguinte seja no mesmo nível que o anterior ou até mesmo maior. E, no caso da Sleeping With Sirens, houve uma recepção mista ao disco seguinte, Feel, que afundou ainda mais no pop e soltou a mão da essência emo e post-hardcore que originou a banda.
No final das contas, Let’s Cheers to This hoje pode ser considerado um álbum de pura memória afetiva para os fãs mais antigos, mas ainda assim tem seu destaque na grande discografia da banda (que só tende a crescer), justamente por fugir do genérico e não se igualar a nada lançado na época. É claro que o trabalho não vai agradar os fãs de metal, mas pode muito bem ser uma grata surpresa até mesmo aos que não são mais chegados em screamo e canções mais aceleradas.
Let’s Cheers to This funciona na medida certa: mais pesado onde precisa ser, e mais suave onde melhor se encaixa. Vale a reprodução, mesmo dez anos depois. Ouça agora: