A nostalgia parece estar em todo canto atualmente. Ao redor do mundo, artistas têm buscado inspiração em algumas das mais icônicas eras e movimentos, combinando referências de outros tempos para criar algo próprio. No caso de Martini Police, essa fonte vem diretamente do rock psicodélico e funk dos anos 1970, servindo de base para a criação de seu mais novo EP, Vibre Delivery Service.
A banda italiana é atualmente composta pelos irmãos Riccardo (vocais, guitarra e teclados) e Giovanni Colombo (bateria), com os amigos Lorenzo Villa (guitarra) e Matteo Martini (baixo). Os quatro cresceram em Brianza, uma região próxima a Milão e Bergamo repleta de florestas e áreas verdes, oferecendo uma conexão com a natureza vital para o grupo – o que também influenciou nas boas vibrações presentes no trabalho deles.
O quarteto cita The Beatles e Grateful Dead como algumas de suas maiores inspirações estéticas e sonoras, e o próprio nome “Martini Police” indica a mistura de referências clássicas com o rock contemporâneo e raízes da banda. A frase foi tirada diretamente de uma canção do álbum Tranquillity Base Hotel & Casino, do Arctic Monkeys, grande inspiração em termos de sons e arranjos. Martini, claro, é também o nome da famosa bebida italiana.
“Pensamos que ‘Martini Police’ era uma imagem muito poderosa”, eles contam. “Apesar de que, sendo sinceros, não bebemos muito Martini!”
Vibre Delivery Service foi gravado ao vivo e apresenta um som realmente vibrante, com momentos mais groove como em “From The River (A Feeling)” e um olhar otimista mesmo quando partem de eventos mais tristes, como em “The Garden”, canção que imagina uma conversa com Lilly, cachorra da família Colombo que faleceu em 2020.
Em entrevista exclusiva via e-mail ao ROCKNBOLD, a Martini Police nos conta um pouco sobre inspirações, processo criativo e como foi trabalhar em seu novo EP. Confira:
Como vocês descreveriam a Martini Police em uma frase?
Martini Police é um passeio psicodélico na natureza com seus melhores amigos, apreciando a vista em meio à névoa de maconha, pouco antes de descer até um porão cheio de guitarras, baterias e amplificadores, ou dirigir para um show com um pouco de Grateful Dead ao vivo tocando ao fundo!
Seu trabalho traz uma sensação bem vintage mesmo – como a banda decidiu por essa estética? Foi algo que vocês cresceram ouvindo?
Nós definitivamente crescemos ouvindo bastante música old school: todos nós curtimos aquela onda de rock psicodélico dos anos 1960 e 70, dos Beatles ao Grateful Dead. Mas também ouvimos obsessivamente projetos contemporâneos que amamos, como Papooz, Babe Rainbow, Parcels, Mild High Club, Feng Suave e muitos outros.
Somos fascinados pela forma como essas bandas conseguiram transpor suas influências retrô para um contexto psicodélico moderno. E aí é claro que queríamos por essa sensação e abordagem vintage em novas canções, também gravando Vibre Delivery Service ao vivo, mas, no fim das contas, somos principalmente atraídos por formas de misturar o bom e velho gosto vintage com uma forma fresca e contemporânea.
A banda realmente enfatiza performances ao vivo e sessões de jam e improvisação, até mesmo em seus EPs. Por que vocês preferem essa abordagem, ao contrário de gravar em um estúdio, por exemplo?
Nossa identidade musical ganha forma através da energia de nós quatro tocando juntos, e esse foi também o ponto de partida ao gravar Vibre Delivery Service. Gravar em estúdio permite adicionar mais elementos, mas pode ser difícil recriar aquela energia do ao vivo sem gravar todos os instrumentos simultaneamente.
Nosso novo EP definitivamente preserva a abordagem que também temos em shows ao vivo, onde cada parte do nosso poder musical é liberada através de improvisos no palco. Além do que, é também muito mais divertido tocar juntos do que simplesmente tocar cada parte separadamente!
Quais eram suas ideias iniciais para o EP Vibre Delivery Service?
Essas cinco faixas representam a mudança real de perspectiva pela qual passamos ao evoluirmos nossa formação para uma banda de quatro membros. Canções como “From The River (A Feeling)”, “Meant to Go” e “The Garden” nasceram sob a boa estrela de nossa sinergia musical e pessoal, desde nossas primeiras semanas tocando juntos.
Mas “Horny Boy” e “Sunday League” foram escritas há muito tempo, quando ainda éramos apenas um trio. Ao colecionar e juntar essas canções em Vibre Delivery Service, queríamos apresentar uma imagem nesta nova fase da Martini Police, introduzindo novos sons e a abordagem que será central em trabalhos futuros também. Nós também tínhamos certeza [de que queríamos] gravar em nosso porão, para manter aquela energia coletiva honesta que se tornou nossa marca registrada em shows ao vivo.
As canções de Vibre Delivery Service têm um som e atmosfera brilhantes mesmo quando falam sobre temas como insegurança, ansiedade, ou mesmo quando inspiradas pela morte de uma companheira da família. Como vocês chegaram nisso?
Nós sempre queremos ser honestos e reais nas letras que escrevemos, mesmo quando não é fácil cantar sobre temas fazem nos sentirmos frágeis, inseguros ou tristes. A atmosfera que envolve nossas canções certamente vem da catarse que experimentamos quando tocamos juntos, mas também quando conversamos sobre esses sentimentos e reflexões, primeiro como amigos antes de colegas de banda.
“The Garden” foi escrita na “última noite no jardim” da cachorra de Ricky e Gio, Lilly, que se foi no verão de 2020: queríamos “exorcizar” aquele sentimento de culpa e tristeza, imaginando sua animação pelo pós-vida e, ao fazer isso, transformarmos o que aconteceu em um hino de entusiasmo pela vida em geral. Acreditamos que é essencial encontrar nosso próprio caminho para enfrentar as adversidades mais duras da vida: os sons vibrantes e arranjos alegres com certeza nos ajudam a deixar nosso ponto claro.
Falando nisso, como é seu processo criativo?
Nós não seguimos uma caminho predeterminado ao escrever nossas canções e música, toda vez tem algo que torna cada trabalho diferente, mesmo no processo. Geralmente começamos com a música: uma linha melódica ou riff de guitarra é o suficiente para construir algo novo, mas em muitos casos nós simplesmente começamos a improvisar e encontramos nosso caminho.
Algumas canções levam meses ou anos para se tornarem reais, já em outras é apenas questão de uma noite de escrita, mas não tem melhor ou pior porque é a própria canção que nos guia, cada vez através de lugares sônicos diferentes.
Sobre as letras, muitas vezes algum de nós chega com uma ideia para refrão, ou um verso inteiro, ou mesmo apenas um tópico. E aí discutimos juntos e encontramos as melhores palavras que se encaixam ali. Mas novamente, não existe certo ou errado para nós: algumas canções vêm de uma única mente, outras de um brainstorming coletivo.
Quais são seus planos para 2022 depois de lançar Vibre Delivery Service?
Estamos muito animados com o lançamento e ansiosos para tocar essas canções para nosso público ao vivo! Preparamos um show especial e estaremos em turnê pelo norte da Itália nas próximas semanas com a “Vibre Delivery Tour”, seguindo com alguns shows na temporada de verão. Também queremos tocar pela Europa no outono e, quem sabe, na América algum dia!
Seria demais ir ao Brasil, mas por enquanto queremos agradecer aos brasileiros pelo suporte e amor que estão mandando para nós: buone vibre!