Não havia motivos para comemorar na última sexta-feira 13 do ano, no Sesc Belenzinho. Aos fãs e amigos presentes, aquele poderia ser mais um show, mais um momento de diversão numa noite de sexta, e mais uma oportunidade de reencontrar amigos para cantar. Entretanto, toda despedida é diferente quando sabemos que é a última.
Formada por cinco amigos, a banda Alaska surgiu na cena do rock underground paulista em 2012. Seu primeiro álbum, “A Onda”, foi lançado em 2015, ano no qual o rock nacional parecia estar passando por uma renovação. Novas bandas nacionais se tornavam populares não só na internet, como também em realities globais, e arrastavam multidões para seus shows em conjunto por todo país. Foi em uma destas apresentações de várias bandas onde tive a oportunidade de conhecer a Alaska, em 2016, da melhor forma possível: ao vivo.
Ao longo dos anos de estrada, a banda Alaska se aventurou por diferentes elementos em suas composições. Se “A Onda” trazia um som mais sólido, pesado e energético, cheio de solos e riffs, “Ninguém Vai Me Ouvir”, de 2018, traria algo mais dançante, experimental e psicodélico, tal qual uma calmaria após a tempestade. No segundo álbum é fácil notar alguns elementos e inspirações das bandas The 1975 e Tame Impala, sem deixar de lado a originalidade e leveza nas melodias.
O fim das atividades como banda foi anunciado através de uma publicação no Instagram em outubro, onde também anunciaram os últimos dois shows de despedida, no Rio de Janeiro em São Paulo. Na nota oficial, a banda esclarecia que a decisão do fim foi mútua, uma vez as obrigações como banda inibia o tesão de criar e tocar. Desta forma, este seria o momento de cuidar das relações como amigos, não colegas de trabalho, encerrar um ciclo louco, gratificante, e seguir rumos diferentes.
Neste mês, a banda lançou o single “Queima”, que é não só a última música da banda, como também um manifesto sobre o fim, falsidade, mentiras e competição na cena musical que mais suga do que estimula a arte. Mais explícito, impossível. Quem não entendeu ainda, não vai entender nunca mais.
Confesso, tive inveja e sim, quis fazer parte. Mas nunca mais deixo ninguém medir minha própria arte. É gente demais, mentindo demais. To querendo demais, esse é meu erro. Em quantas listas tenho que sair no ano? Quem devo crucificar, e pra quem passo pano?
QUEIMA
De volta a sexta-feira 13 no Sesc Belenzinho, o último show da banda Alaska começou pontualmente às 21h com ingressos esgotados e o teatro cheio – mas não só de fãs, de amigos. De pessoas que se tornaram mais do que números nas redes sociais, e de todos os cantos do Brasil. De uma família que acompanhou o parente nos altos e baixos até o fim da vida. Todos tinham ciência de que aquele show marcava o fim de um ciclo e o início de novos caminhos de cada um dos cinco integrantes. O clima era fúnebre, como um funeral entre amigos no último rolê.
Não demorou para que a emoção tomasse conta. Era possível ver pessoas emocionadas logo nas primeiras canções, cantadas – ou berradas – a plenos pulmões. Até mesmo a interação da banda com o público, entre uma música e outra, parecia ter um tom de voz embargado, com desabafos e piadas aqui e ali para aliviar a tensão. André Ribeiro, o vocalista, comentava como sempre sonhou em ver tanta gente reunida em um teatro cantando músicas da Alaska. Era uma pena que aquilo estava acontecendo justamente na última apresentação. As canções sobre despedida, fim e saudades ganharam um novo significado. Era impossível não se arrepiar, no mínimo.
Na última música do show, “Vista”, que não curiosamente é também uma das primeiras da carreira, o público, que já não se encontrava em seus lugares conforme pedido da organização do Sesc, foi convidada a invadir o palco para fazer parte daquele momento, e dividir mais de perto aquela energia por uma última vez.
A banda se despediu em meio a lágrimas, abraços, canto e agradecimentos pela oportunidade de terem feito tantos amigos e lembranças durante a estrada, pela chance de fazer parte da trilha sonora de tanta gente, e por ter feito tanta gente cantar e se emocionar.
No fim das contas, quando a cortina se fecha e não há mais diferença entre artista e pessoas comuns, acredito que cada um dos integrantes da banda (André Ribeiro, Wallace, André, Vitor e Nicolas) descem do palco com a sensação de dever cumprido, prontos para trilhar novos caminhos. Já eu, saio do Sesc lamentando que uma banda tão boa, humilde e promissora esteja colocando fim em sua estrada, enquanto bandas formadas por homens escrotos estão por aí, firmes e fortes fazendo sucesso com arte e letras vazias.