Bandas que conquistaram espaço no rock a partir de 2010 provam que o gênero está bem longe de morrer
O dia do Rock, celebrado na última segunda-feira (13), costuma ser uma data em que os fãs do gênero utilizam para relembrar grandes nomes que marcaram inúmeras gerações, como Pink Floyd, AC/DC, Nirvana, Rolling Stones, entre muitos outros. Nós, do ROCKNBOLD, decidimos homenagear o gênero esta semana entrando em uma viagem no tempo para falarmos sobre a cultura rock and roll, que mudou a vida de diversos tipos de público durante todos esses anos. Todo o conteúdo está disponível aqui no nosso site e em nossas redes sociais.
Atualmente, muitos se questionam qual rumo o rock tomou. Em 2014, Gene Simmons, baixista do KISS, causou uma polêmica mundial declarando em uma entrevista que “o Rock está finalmente morto”, referindo-se à falta de apoio e incentivo das gravadoras com os artistas do gênero.
Essa afirmação abriu uma série de discussões nas redes sociais, que levou algumas pessoas a prestarem mais atenção em artistas que estavam surgindo naquele mesmo ano – e que poderiam ser a salvação do estilo. Afinal, a década de 2010 foi muito importante para o rock continuar na ativa, sendo marcada pelo surgimento de diversos grupos muito influenciados por bandas clássicas do gênero, porém com uma proposta um pouco diferente. São bandas dispostas a arriscar, fugir do mainstream e conquistar um público ainda pouco familiarizado com o estilo. E que, claro, têm muito a dizer e mostrar.
Vale lembrar também que não é fácil para esses novos nomes acharem seu lugar ao sol em um gênero musical que muitos dão como acabado. Até porque, qualquer tentativa nesse sentido encontra “fogo amigo” até mesmo entre os fãs de bandas mais antigas, o que mostra que essa nova fase do rock precisa ser recebida de mente aberta. Nenhum deles veio com a promessa de revolucionar o gênero ou salvar algo, afinal de contas, também para muitos, o rock está bem longe de ser considerado extinto. O que acontece hoje em dia é que estamos diante de diversos artistas dispostos a explorar cada uma das vertentes do gênero.
Um nome bem popular nessa safra é o Greta Van Fleet, banda formada em 2012 na cidade de Frankenmuth, no estado norte-americano do Michigan. Criada por três irmãos e um amigo, o grupo lançou o primeiro single, Highway Tune, em 2017, o que foi o pontapé inicial para uma série de EPs que resultariam no disco de estreia, Anthem of the Peaceful Army.
O grupo já coleciona algumas realizações, como seu primeiro álbum garantindo o Top 3 na Billboard 200; quatro indicações ao Grammy de 2019, com o EP From de Fires vencendo a categoria de Melhor Álbum de Rock; e, no mesmo ano, foi atração do Lollapalooza Brasil, esgotando os ingressos para o sideshow de São Paulo em minutos. Além disso, o site Loudwire chegou a eleger o Greta Van Fleet como o artista da década passada.
A banda traz enormes influências do rock mais clássico para suas músicas, o que é admirável se considerarmos que seus integrantes têm vinte e poucos anos. Porém, as opiniões sobre trabalho do grupo acabam sendo bem divergentes: por um lado, o Greta é aclamado por uma legião de fãs que sentia falta do rock à moda antiga; por outro, há quem jure que o grupo não passa de uma cópia do Led Zeppelin (sim, fogo amigo).
Essa comparação – que por si só deveria ser considerada elogiosa – se dá por vários motivos: os riffs, a dinâmica entre a guitarra e o baixo, bateria e, é claro, a voz de Josh Kiszka, que pode lembrar muito a de Robert Plant. A banda já chegou a declarar que o Led Zeppelin é sim, uma de suas inspirações, assim como Eric Clapton, Jimi Hendrix, Elmore James, entre muitos outros artistas. A realidade é que bandas como a formada por Page e Plant foram tão icônicas, que hoje é praticamente impossível seguir nesse gênero sem buscar referências das décadas anteriores. Mas, se considerarmos que o próprio Led foi diretamente influenciado por grupos como CREAM, The Who e, principalmente, o Yardbirds, de Jeff Beck e cia., ser comparado a eles deveria ser mais um motivo de orgulho do que uma crítica ao Greta Van Fleet.
Essa comparação também acontece entre o Queen e o The Struts, conjunto inglês formado em 2009, mas que só lançou o primeiro single em 2014, e vem caminhando para ser um grande ícone no Glam Rock. A banda inclusive já fez uma turnê com o próprio Greta Van Fleet, e chegou a encontrar o grupo de novo no Lollapalooza 2019. Além disso, já abriu shows para o The Who, Guns N’ Roses e The Rolling Stones, este último antes mesmo de lançarem seu o disco de estreia, Everybody Wants.
O grupo também cita o Queen como uma de suas grandes inspirações, mas a comparação parte do público quando o assunto é o vocalista Luke Spiller, que assim como Freddie Mercury, possui um comportamento performático, uma energética presença de palco, figurino chamativo, corte de cabelo ou até o jeito de tocar piano. Na review do segundo disco de estúdio da banda, YOUNG&DANGEROUS, a Rolling Stone chegou a comparar o vocalista com, além de Mercury, Noel Gallagher e Julian Casablancas.
Diferente do Greta Van Fleet, as posições dos dois álbuns de estúdio do The Struts na Billboard 200 não foram as melhores: Everybody Wants atingiu seu pico na 99ª posição, enquanto YOUNG&DANGEROUS ficou em 102º.
O grande diferencial da banda, apontado tanto pelo público quanto pela mídia, são as apresentações ao vivo. Dave Grohl chegou a afirmar que o The Struts foi o melhor artista que já abriu um show do Foo Fighters, mesmo com Kaiser Chiefs, Biffy Clyro, Death Cab For Cutie e Queens of the Stone Age fazendo parte desse histórico. Além disso, diversos portais e críticos chegaram a eleger a apresentação do The Struts a melhor do Lollapalooza 2019, lembrando que foi o primeiro show da banda em terras brasileiras.
Ainda acha que o rock está morto? Abaixo o ROCKNBOLD lista mais algumas das melhores bandas da última década e que continuam dando gás ao gênero:
Royal Blood
O Royal Blood já abriu shows para o Arctic Monkeys (banda que divide o título de indie rock e rock alternativo), seu álbum autointitulado lançado em 2014 chamou atenção não somente da BBC, mas garantiu vaga em diversos festivais como o Glastonbury, T in The Park e o Reading Festival. Com How We Did Get So Dark (2017), a banda se consagrou na cena do gênero, com os singles “Lights Out” e “I Only Lie When I Love You“, foram atrações do festival Lollapalooza Brasil em 2018 e é mais uma banda que confirma o fenômeno do estilo nos festivais ao redor do mundo. O duo, composto apenas por um baterista e um baixista, inovou ao levar uma sonoridade muito inspirada pelo grunge e pelo blues rock à mídia comercial em pleno ano de 2017.
Blues Pills
Os suecos do Blues Pills parecem ter bebido diretamente da fonte de Janis Joplin e Led Zeppelin: influenciados pelo blues rock e com os vocais estridentes de Elin Larsson, eles ainda não parecem ter atingido o mainstream do rock mundial, mas continuam fazendo barulho pela Europa desde que assinaram com a Nuclear Blast Records, em 2013. O grupo é aclamado por onde passa por suas apresentações ao vivo. O primeiro álbum, homônimo, de 2014, Lady In Gold (2015) e Holy Moly! (2019) mostram toda a versatilidade do grupo que poderia facilmente ter sido um dos maiores nomes de Woodstock.
Wolf Alice
Adaptando as letras viajantes e as guitarras pesadas da década de noventa para um novo público, o Wolf Alice surgiu no cenário londrino em 2010. Liderados por Ellie Rowsell, o quarteto já tem dois álbuns em sua discografia. “My Love Is Cool” os fez despontarem no cenário local e chamou a atenção do público do rock alternativo. A nostalgia com um toque do século XXI fez com que eles fossem indicados ao Grammy em 2016 na categoria de melhor performance rock pela faixa “Moaning Lisa Smile”. Em “Visions Of A Life” a voz de Ellie continua a se misturar brilhantemente com os drives de guitarra. Dentro das 12 faixas, eles exploram gêneros como punk, grunge e shoegaze de um modo ousado e sem perder a essência do grupo.
Twenty One Pilots
A dupla Twenty One Pilots vem para reafirmar o estilo alternativo nos palcos que atraem multidões. Seu segundo álbum de estúdio, Vessel, de 2013, começou a chamar atenção dos fãs do subgênero com músicas de temas variados e sonoridades entre o mais suave (“House Of Gold“) às mais agitadas (“Car Radio” e “Guns For Hands“). Identificados também com o Lolla, eles já se apresentaram no evento aqui no Brasil duas vezes. Com Blurryface conquistaram um público ainda maior. Outro pontapé na carreira foi a música “Heathens“, que fez parte da trilha sonora do sucesso de bilheteria Esquadrão Suicida. Trench, o último álbum de estúdio lançado, garantiu o lugar do duo no mainstream e nos palcos ao redor do mundo, participando de diversos festivais e colecionando prêmios.
Alabama Shakes
O Alabama Shakes é uma das unanimidades do rock atual. Formado em Athens, no próprio Alabama, o grupo tem como vocalista e guitarrista a extraordinária Brittany Howard, responsável por vocais irretocáveis e performances cheias de feeling e energia. Imersos no blues rock e na soul music, eles já receberam diversas indicações ao Grammy por seus dois álbuns, Boys & Girls, de 2013, e Sound & Color, e saíram vencedores de três prêmios em 2016. As principais inspirações do grupo são Led Zeppelin, Sister Rosetta Tharpe, David Bowie, Freddie Mercury e Tina Turner. Recentemente a banda entrou em hiato e Brittany se lançou em carreira solo.
Bring Me The Horizon
Outra banda que não cansa de surpreender os fãs, mesmo na quarentena, é o Bring Me The Horizon. Eles continuam produzindo e entregando material de qualidade aos entusiastas do rock and roll moderno. Um pouco mais agressivo que os artistas anteriores, o BMTH conquista uma legião nos festivais onde passam, misturando metal com elementos eletrônicos e sintetizadores. Eles estão na ativa desde 2004, mas após trocarem de gravadora e lançarem Sempiternal (2013), a banda vem crescendo exponencialmente o número de fãs. Com That’s The Spirit (2015) e Amo (2018), caíram ainda mais no gosto do público com singles marcantes como “Happy Song“, “Throne“, “MANTRA“, “Mother Tongue” e “Parasite Eve“. A banda também tocou no Lollapalooza Brasil, na edição de 2019, e foi um dos melhores shows do festival.
Cage The Elephant
Os norte-americanos do Cage the Elephant iniciaram suas carreiras em 2006. Dois anos depois, lançaram o álbum homônimo de estreia que até teve boa recepção de crítica e público com “Ain’t No Rest For The Wicked” e “Back Against The Wall“, mas foi na primeira metade da última década que eles conquistaram de vez sua cadeira cativa no mainstream do rock alternativo. Influenciados por grandes nomes da vertente psicodélica, lançaram Aberdeen (2010) e o divisor de águas da carreira, Melophobia, que contém o single arrebatador “Cigarette Daydreams“, uma faixa psicodélica semi-acústica que remete aos tempos brilhantes de Bob Dylan e The Who. O sucesso e aclamação crítica ainda acompanham o grupo lado a lado nos tempos atuais com os mais recentes Tell Me I’m Pretty e Social Cues.
Nothing But Thieves
Os britanicos do Nothing But Thieves foi mais uma das agradaveis surpresas da década. A banda, formada em 2012, assinou com a RCA Records em 2014 e, desde então, vem agradando bastante com seu rock alternativo, carismático e potente. Em 2015, o quinteto lançou seu primeiro disco de estúdio homônino que foi bastante elogiado e bem recebido pela crítica, que enxerga potencial no quinteto inglês. Dois anos depois, em 2017, a banda lançou outro excelente disco, o “Broken Machine”. Ambos trabalhos são bastante fieis a proposta da banda, que une alt, um pouco de indie ao som sujo inglês, sem arriscar ou experimentar muito além desta fórmula. Essas características foram reforçadas também em seu trabalho mais recente, o EP “What did you think when you made me this way?”, de 2018.
St. Vincent
Recentemente o rock alternativo e o pop rock mostraram que vieram pra ficar, principalmente nos palcos de grandes eventos. Com sons cada vez mais marcantes, estes subgêneros chamam a atenção do público pela sonoridade em gravações no estúdio até o palco em que se encontram – que, querendo ou não, continua sendo uma das principais vitrines de exposição para artistas. Hoje, os fãs dedicados optam por cantarem faixas a plenos pulmões enquanto dançam do que propriamente focarem em questões mais técnicas.
Mesmo iniciando sua carreira nos anos 2000, foi apenas na década seguinte que St. Vincent passou a ser colocada entre os grandes nomes do alt rock. No início da década ela impressionou seus fãs ao lançar “Strange Mercy”, um disco com riffs memoráveis e letras irônicas e intimistas. Depois, formou uma dupla com David Byrne e lançaram “Love This Giant”. No entanto, foi em 2014 que sua carreira decolou, quando lançou seu álbum homônimo, citado como um dos melhores discos daquele ano por revistas como Time e NME. Além disso, com ele, St. Vincent foi a primeira mulher em vinte anos a receber o Grammy de melhor álbum alternativo. Abraçando as distorções de guitarra e adicionando mais sintetizadores ao seu som, Masseduction chegou ao público em 2017. Seu quinto trabalho solo é o mais abrangente de sua carreira, onde a música eletrônica encontra o rock para discutir temas como sedução e poder.
Fever 333
Um dos queridinhos do cenário “underground”, o FEVER 333 chamou a atenção de cara com o seu primeiro EP em 2018, o Made an America. Com um som agressivo, focado no rap metal/rapcore/hardcore punk, lembrando bandas como o Rage Against The Machine e até o Linkin Park, e letras relacionadas a política e questões sociais, como o racismo, o trio norte-americano já fez turnê por várias partes do mundo, como o próprio Estados Unidos, Japão e até na América do Sul, onde deu uma passadinha no Lollapalooza Brasil 2019, sendo uma das primeiras atrações do evento. Eles lançaram apenas um disco completo, o elogiadíssimo Strenght In Numb333rs, em 2019, que conta com grandes sucessos da banda, como “Burn It” e “One of Us“.
Bury Tomorrow
Com um metalcore moderno, revolucionário e sempre com um olho no futuro, os britânicos do Bury Tomorrow se apresentaram ao mainstream do gênero ao lançar seu segundo trabalho de estúdio, intitulado The Union of Crowns, em 2011. Desde então foram diversas aparições nos maiores festivais de música pesada, além daqueles que abrem espaço para o metalcore, como por exemplo o Download Festival, Reading and Leeds Festival, Slam Dunk, entre outros. Em 2014 foi indicada ao prêmio de revelação britânica pela revista Kerrang! Magazine, mostrando o potencial e o caminho que estava sendo trilhado pelo quinteto. Hoje são seis trabalhos de estúdio, tendo o último, Cannibal, sido lançado no último dia 3, e aclamado como um dos melhores álbuNs do gênero em 2020.
Tame Impala
Talvez uma das maiores bandas do século XXI, o Tame Impala surgiu em 2010 com Innerspeaker, seu disco de estreia, composto, produzido e gravado pelo multi instrumentista Kevin Parker. Misturando influências do rock e do pop psicodélico, a “banda de um homem só” alcançou o mainstream com Lonerism (2011) e a odisseia dançante de “Feels Like We Only Go Backwards“, mas foi com Currents, de 2015, que Kevin se viu no auge da carreira. O hit “The Less I Know The Better” viralizou de forma estratosférica, atingido todas as faixas etárias e levando linhas de baixo groovadas, sintetizadores, efeitos eletrônicos e vozes com reverb à todos os públicos. No ano passado, o visionário e virtuoso músico lançou The Slow Rush, o melhor álbum de sua carreira. Além de ter produzido, ele gravou quase todos os instrumentos do disco, se tornando um dos artistas mais aclamados e respeitados da indústria atual.
Foo Fighters
Quem ainda também parece ter muita lenha para queimar são os veteranos do Foo Fighters. A banda, que iniciou suas atividades em 1995 após o trágico fim do Nirvana, conquistou o posto de maior banda de rock dos anos 2000 não por acaso. Após o sucesso meteórico de seus primeiros trabalhos, Foo Fighters (1995), The Colour And The Shape (1997) e There Is Nothing Left To Lose (1999), eles parecem ter entendido sua missão na indústria. De lá até aqui são seis álbuns de estúdio, alguns DVDs, uma série documental na HBO, vários prêmios Grammys, centenas de shows lotados e aclamação pública e crítica, mas foi com Wasting Light, de 2011, que a banda parece ter feito sua obra de arte. Faixas como “Walk”, “These Days”, “Rope”, “White Limo” e “Arlandria” parecem ser os melhores exemplos de como se fazer rock no século XXI. Os dois últimos álbuns da banda, mais experimentais, não agradaram muito aos fãs, mas foram sucessos de crítica. Ao vivo, Dave Grohl continua colocando na palma das mãos centenas de milhares de pessoas com facilidade, tornando as performances do grupo em espetáculos musicais que marcam a vida do público apaixonado por música ao redor do mundo. Você goste ou não, eles foram, são e ainda querem ser por muito tempo a maior banda de rock and roll dos últimos anos.
Nomes como Rival Sons, King Gizzard & the Lizard Wizard, MGMT, Foals, Two Door Cinema Club, Foster the People, Portugal. The Man, Of Monsters And Men, Catfish and the Bottlemen e YUNGBLUD parecem ganhar cada vez mais espaço enquanto exploram e misturam novas influências e sonoridades, sejam elas psicodélicas, progressivas, indies ou alternativas. Muitas outras também merecem uma atenção especial, como IDLES, Fontaines D.C., Fever 333, Shame, PUP, Dirty Honey e White Reaper, que vêm mostrando um trabalho sólido quando o assunto é o bom e velho rock!
Então, caro leitor, enquanto essa galera continuar apaixonada e tendo algo para dizer, vai ser bem difícil afirmar que o gênero que consagrou Gene Simmons está morto. Com todo respeito ao Kiss, claro.