O baldado retorno do McFLY

Após anos em hiato, banda britânica lança primeira nova faixa desde retorno; “Happiness” funciona como uma tentativa válida de homenagear sua fanbase, mas falha ao tentar se modernizar comercialmente
Após anos em hiato, banda britânica lança primeira nova faixa desde retorno; “Happiness” funciona como uma tentativa válida de homenagear sua fanbase, mas falha ao tentar se modernizar comercialmente

O McFLY, composto por Tom Fletcher, Danny Jones, Dougie Poynter e Harry Judd, quatro jovens extremamente talentosos, carismáticos e com uma presença de palco indiscutível, conquistou uma multidão de fãs ao redor do mundo no início deste século, principalmente no Brasil. O ápice da banda britânica foi entre os anos 2004 e 2008, período onde produziram seus melhores trabalhos e até chegaram a se aventurar no cinema, participando do filme Just My Luck estrelado por Lindsay Lohan e Chris Pine. Além de atuarem no longa, o mesmo contém músicas dos dois primeiros álbuns do quarteto, o que ajudou a fama dos britânicos crescer nos Estados Unidos.

5 Colours In Her Hair“, lançado em março de 2004, foi o primeiro single da banda, com um ritmo alegre e dançante ele estreou em primeiro lugar nas paradas britânicas. Em seguida, foi a vez de “Obviously“ alcançar o topo. A faixa, baseada em fatos reais sobre o relacionamento de Tom e sua atual esposa Giovanna), é uma baladinha romântica, do tipo que fica grudada na cabeça. Além dos dois singles, alguns dos principais hits da banda, como “That Girl” e “Hypnotised” fazem parte do primeiro álbum de estúdio dos britânicos intitulado Room On The 3rd Floor, uma referência ao quarto de hotel onde Danny e Tom o compuseram. O álbum estreou em primeiro lugar no UK Albums Charts, ganhando disco de platina duplo. O quarteto quebrou o recorde de banda mais jovem a ter um álbum em primeiro lugar, até então pertencente aos Beatles. As 11 faixas do disco falam em sua maioria sobre estar apaixonado e não ser correspondido, apostando no violão e riffs característicos da surf music, com notável influência dos Beach Boys.

Após começarem com o pé direito, o McFLY continuou mostrando que eram capazes de grandes feitos no mercado musical. Com uma aura mais obscura, devido a problemas pessoais que alguns membros da banda vinham enfrentando, em 2005 foi lançado Wonderland, o segundo álbum de estúdio da banda.

Vendendo mais de 300 mil cópias, o disco debutou em primeiro lugar nos charts do Reino Unido e ganhou também disco de platina. Nele os vocais de Danny e os solos de guitarra ganharam força, além de aventurarem-se no uso de outros instrumentos, como o piano na melancólica “She Falls Asleep” e violinos na balada “All About You”, um dos singles do álbum que alcançou o topo das paradas no Reino Unido e Irlanda. Os outros três singles também tiverem bons resultados, “I’ll Be Ok” ficou em primeiro no UK, já “I Wanna Hold You” e o duplo “Ultraviolet/The Ballad Of Paul K” ficaram em terceiro e nono lugar, respectivamente.

Como após a tempestade sempre vem o arco-íris, em novembro de 2006, o McFLY voltou às raízes com seu terceiro álbum de estúdio Motion In The Ocean. O álbum queridinho dos fãs da banda trouxe a sonoridade animada do primeiro álbum de volta, porém com os instrumentos musicais mais marcados e uma diferença vocal notável, principalmente de Jones. Nesse disco o quarteto continuou falando sobre suas desilusões amorosas, além de também focar em temáticas mais positivas.

Mais uma vez, mostrando sua força, três dos quatro singles do álbum ficaram em primeiro lugar nas paradas britânicas, sendo eles “Baby’s Coming Back/Transylvania”, “Don’t Stop Me Now/Please, Please”  e “Star Girl”. Esse último, um dos maiores hits da banda, é o dono do trecho “galaxy defenders stay forever” que deu o nome ao fandom do grupo. O quarto single, também teve um ótimo resultado, “Sorry’s Not Good Enough/Friday Night” ficou em terceiro nos charts.

O quarto trabalho de estúdio do grupo, Radio:Active chegou ao público em julho de 2008 sendo o primeiro a ser lançado pela própria gravadora da banda, a “Super Records”, após o grupo ter rescindido contrato com a Island Records.

Diferente dos anteriores ele não teve uma performance muito boa nas paradas, ficando em oitavo no UK Albums Charts. No “R:A”, a banda surpreendeu o público trazendo músicas mais agressivas, com vocais mais altos e melodias mais agitadas e rápidas. Os solos marcaram presença em quase tocas as canções além dos vocais terem atingido um outro nível, mostrando que Jones e Fletcher não eram apenas vocalistas propícios para boybands genéricas.

Falando sobre aceitação na indústria fonográfica, o primeiro single “One For The Radio” tem uma bateria bem marcada e conta com o grito de guerra “We don’t care”, muito usado nas apresentações ao vivo da banda. “Falling In Love”, uma balada romântica característica da banda, foi lançado no Brasil com single promocional e teve uma aceitação muito boa por aqui, tocando em várias estações de rádio e com o videoclipe sendo exibido nos principais canais de TV. “Do Ya/Stay With Me” foi o single oficial dos britânicos para o “Children In Need”. Mostrando a popularidade da banda por aqui, a faixa fez parte da trilha sonora da novela “Três Irmãs”. E por último, uma das melhores faixas da carreira do quarteto, “Lies”, trouxe um pouco da áurea obscura de volta, tanto em sua sonoridade quanto em sua letra. O baixo de Dougie marcou grande presença na canção, que contém um solo do instrumento, mas o destaque fica por conta dos riffs da track que, para muitos, é um dos melhores da década de 2000. A música também fez um grande sucesso no Brasil, dando as caras na trilha sonora de outra novela, “Caminho das Índias”.

Em 2010 o McFLY volta para a gravadora Island e lança seu quinto trabalho de estúdio. Produzido por Dallas Austin, que já havia trabalhado para nomes como Madonna, Britney Spears e Michael Jackson, o Above The Noise surpreendeu os fãs, porém dessa vez, de maneira negativa.

Ao se distanciar daquilo que a banda havia fazendo nos últimos anos, o disco não teve uma aceitação positiva pelo público, e até mesmo pelo próprio quarteto. Abusando de sintetizadores e elementos eletrônicos, o “ATN” ganhou um certificado de prata pela British Phonoghraph Industry pelas 60 mil vendas do mesmo. As letras dançantes, continuam a falar de relacionamentos amorosas, mas dessa vez o grupo aborda festas e até mesmo o fim do mundo. O álbum teve três singles, “Party Girl”, “That’s The Truth” e “Shine A Light”, que foi produzida por Taio Cruz. Porém, nenhum deles chegou sequer ao top 5 das paradas.

Em 2011 a banda passou por um momento extremamente difícil. O baixista Dougie Poynter teria tentado cometer suicídio e após isso internou-se em um centro de reabilitação para tratar de seus vícios em drogas e álcool e sua depressão. Após Poynter receber alta, o McFLY voltou a realizar shows principalmente na Europa, e estiveram presentes no Z Festival no Brasil em 2012, sendo a ultima passagem da banda no país.

Em 2013 foi lançado o livro autobiográfico da banda, o “Unsaid Things… Our Story”. No mesmo ano, o quarteto comemorou seus 10 anos realizando uma série de shows no Royal Albert Hall tocando seus maiores sucessos, e o que aparentava serem seus próximos singles “Love Is On The Radio” e “Love Is Easy”. A apresentação contou com a participação de James Bourne e Matt Willis, membros do falecido Busted. No show eles performaram alguns sucessos da banda ao lado do McFLY e em uma brincadeira se intitularam McBusted.

No final de 2013 os britânicos resolveram levar a ideia do McBusted pra frente, e formaram o supergrupo. No ano seguinte lançaram o álbum autointitulado e fizeram uma turnê na Europa e Oceania. De inicio a ideia foi bem recebida pelos fãs, mas após alguns meses eles começaram a criticar a atitude dos membros, principalmente Fletcher, por não darem mais atenção ao McFLY. No final de 2015, os integrantes anunciaram que o McBusted deixaria de existir dali em diante. Na segunda metade de 2016, o McFLY realizou a “Anthology Tour” que passou por quatro cidades do Reino Unido, com cinco shows em cada. A proposta da turnê era de apresentar todas as suas músicas, cada uma das apresentações seria especialmente sobre um álbum da banda. Com o fim da turnê, a banda entrou em hiato.

Posteriormente os membros focaram em seus projetos pessoais e suas famílias. Danny foi jurado no The Voice Kids UK, Tom lançou uma série de livros infantis, Dougie montou outra banda e atuou em um filme e Harry publicou o livro “Fit, Get Happy”. Neste último ano em questão, vários grupos retornaram a ativa, desde My Chemical Romance até Jonas Brothers. Com o McFLY não foi diferente.

No segundo semestre de 2019, o quarteto anunciou seu retorno através de um vídeo no Instagram, onde diziam o quão importante era fazer parte daquilo, além de anunciarem um show em Londres em novembro do mesmo ano. Mas não parou por aí, para amenizar a ansiedade dos fãs o grupo lançou uma faixa inédita por semana, até o dia do show. Essas faixas foram aquelas que eles gravaram e não incluíramos nos álbuns anteriores. As canções compuseram o The Lost Songs lançado logo no início de 2020, ano em que a banda faria uma turnê no Brasil, mas essa, infelizmente, teve de ser remarcada devido ao coronavírus.

Entretanto, nem tudo em 2020 foi ruim. Os ingleses anunciaram após anos de espera seu novo single, “Happiness”. A faixa estreou no último dia 30 em todas as plataformas digitais. Além da track, o quarteto anunciou seu novo álbum de estúdio, Young Dumb Thrills, que tem data prevista para novembro deste ano.

Com melodia inspirada no samba, “Happiness” entrega já na intro a influência do gênero brasileiro. A faixa é bastante expressiva (e vale ressaltar que pra isso foi usado o sample da canção “Bela e a Fera“, do pouco conhecido grupo No Embalo Jovem de Nonato e seu Conjunto). A mistura do ritmo com a melodia da banda traz algo diferente do que os fãs estão acostumados à ouvir, porém expressa um leve gostinho de nostalgia, já que relembra bastante o terceiro álbum de estúdio do grupo.

Contudo, a composição da letra chega a ser decepcionante tendo em vista que a expectativa nela era grande. A banda entregou um pouco mais do mesmo que vemos por aí, falando sobre felicidade de forma superficial. O refrão gruda na cabeça e é um dos destaques da track, porém, chega um momento em que o mesmo se torna repetitivo e até um pouco enjoativo. O pré-refrão também merece menção, pois cria o clima perfeito para que o chorus soe grande e cheio, por mais que, para alguns fãs, ainda tenha sido uma tentativa fracassada da banda tentar se modernizar comercialmente.

“Happiness” está longe de ser uma das melhores canções de Tom, Danny, Dougie e Harry, muito pelo contrário. Em compensação, ela também não entra no grupo das piores da carreira. A expectativa era alta, principalmente se pararmos para analisar o fato de que os britânicos não lançavam algo novo há quase seis anos. Na tentativa de se atualizarem à indústria fonográfica atual, o McFLY infelizmente entregou mais do mesmo em uma faixa que não diz muito, nem sobre os caminhos que a banda quer seguir em seu próximo trabalho e muito menos sobre as fases atuais de qualquer um de seus membros. De qualquer forma, é um tiro “não tão no escuro” válido ao ainda tentar ser a trilha sonora de uma geração que felizmente parece não se contentar mais com obviedades genéricas. E para agradá-la eles vão precisar de muito mais.

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