Taylor Swift em “evermore”: O amadurecimento natural de seu antecessor

Taylor Swift entrega aos seus fãs dois álbuns em apenas um ano. Irmão de “folklore”, o “evermore” vem com todos os acertos de seu antecessor.

Por Bruna Antenore & Júlia Baruki

“evermore” veio como mais um presente nessa quarentena. Assim como seu antecessor, a cantora entregou um álbum menos pop para um ano turbulento, mas dessa vez, em seu aniversário como retribuição aos fãs.

Em julho, Taylor Swift nos apresentou um lado totalmente novo quando nos apresentou com folklore. Anunciado de surpresa, o álbum chamou a atenção dos fãs da cantora por trazer novos elementos para suas músicas, como o dream pop que Jack Antonoff introduziu em “mirrorball” e o indie folk característico do The National na maioria das músicas, e também por conter composições fascinantes, contando histórias completas em suas canções.  Como um abraço carinhoso em um dia difícil, o oitavo álbum da carreira de Taylor nos acompanhou nos altos e baixos dos últimos meses. Cinco meses depois, ela está de volta com evermore

Da mesma forma que sua irmã mais velha, evermore foi anunciado apenas algumas horas antes de seu lançamento. Enquanto folklore mostrou que Taylor realmente possui uma habilidade incrível de em cada lançamento se renovar e extrair o melhor de diferentes gêneros, agora ela afirma que no indie folk é onde seus melhores trabalhos são realizados. 

Colhendo os frutos de sua jornada em 2020, evermore é um passo ainda mais ousado que folklore. Ele é o álbum folk que Taylor nos prometeu em julho: sem possuir uma música escrita propositalmente para ser um grande hit – tal qual “cardigan” -, Aaron Dessner produzindo catorze das quinze faixas, os personagens apresentados nas músicas cada vez mais detalhados e participações especiais arrasadoras como HAIM, The National e Bon Iver voltando para mais uma parceria impecável. É a versão de Taylor para um álbum do The National, totalmente voltada para a cena indie que emergiu no início dos anos 2010 com Justin Vermont e sua turma lançando a música “Holocene” (2011) e Mumford and Sons colocando todo mundo para cantar todas do “Babel” (2013).

O nono álbum da cantora traz novamente o drama e as histórias da vida real transformadas em um belo conto de fadas. A paixão pela sua arte que a cantora entregou com folklore, conseguimos enxergar em evermore, mas de forma elaborada e refinada. O novo lado folk da cantora apresentado em seu oitavo álbum foi apurado e entregue polidamente em arranjos e texturas instrumentais melhores desenvolvidos, aprimorado com o lado intimista da cantora, porém, sem tantas exposições como feito em projetos passados. O álbum faz parte dessa nova era mais leve da cantora, onde sua música se conecta ainda mais com o seu interior e deixa transparecer a leveza despretensiosa, mas ainda assim, genial.

As narrativas de “evermore”

Taylor Swift, evermore.

Enquanto em seu trabalho anterior a artista abre a obra cantando sobre um amor perdido, a nova jornada começa com “willow”, que fala sobre intriga e a complexidade de desejar uma pessoa. Iniciando evermore de forma mais animada, a faixa nos enche de esperança para um álbum romântico, brilhante e distante do sofrimento que ela nos apresentou em julho. Porém, logo na segunda faixa, já há uma quebra de expectativa em relação a essa positividade. “champagne problems” é uma balada ao piano sobre dois amantes com sonhos diferentes, o que os leva a uma proposta rejeitada e os dois corações partidos. 

Já em “gold rush“, o início com vozes etéreas já nos levam para outra atmosfera, onde a cantora admite que talvez esteja cansada de correr atrás de amores, prefere algo leve e tão fácil quanto andar. O instrumental com menos texturas ressalta suas falas, a voz sendo usada como mais um instrumento na melodia. “this the damn season” vem com um instrumental em cordas que trazem a atmosfera melancólica de um amor que deixamos para trás, mas que sempre relembramos, seja pela presença constante da pessoa em nossa vida, seja pelas lembranças que temos em alguns lugares específicos.

tolerate it” é mais uma sobre detalhes banais de relações humanas que a Taylor transforma em momentos mágicos. Uma balada ao piano sobre o desgaste das relações cotidianas e a rotina em que todo relacionamento, hora ou outra, pode cair. Além de ser colocado em segundo plano na vida de alguém após ter recebido e doado muito para a pessoa, receber nada mais do que indiferença.

no body, no crime” é a primeira colaboração do álbum e com as HAIM. Primordialmente, fala sobre uma possível infidelidade e um crime por conta da situação, com sirenes ao fundo do início da canção. A canção flerta com o pop, mas ainda assim é uma balada country. A participação das HAIM trouxe uma união feminina para a música, já que é uma situação de fácil identificação, as vozes delas compondo “no body, no crime” é semelhante as vozes na cabeça que não nos deixam tranquilas quando passamos por esse tipo de situação.

Taylor Swift, evermore.

happiness” foi escrita apenas uma semana antes do lançamento do álbum e na verdade, está longe de transmitir o sentimento que a palavra no título representa. Uma triste reflexão sobre a felicidade da entrada e saída de alguém em sua vida. A felicidade existe no começo, no meio e no fim para aqueles que conseguem enxergar mais que a dor. “dorothea” ela opta por menos efeitos em sua voz, uma canção mais limpa em terceira pessoa sobre um amor em que a menina tenta uma carreira em Hollywood. “coney island” é uma parceria juntamente com o The National, sendo que o Aaron Dessner (membro da banda) participou e influenciou o trabalho da cantora em folklore e o vocal de Matt Berninger esteve presente na música. A melancolia sutil que essa canção transmite é algo característico do indie apresentado pelo The National, mas com uma carga ainda maior de tristeza com a voz masculina no dueto.

ivy” vem com um arranjo sofisticado sobre se apaixonar por alguém casado. Em seguida, “cowboy like me” conta com vocais de apoio de Marcus Mumford. Possivelmente a canção favorita para muitos fãs desse projeto. Um conto de fadas com um toque de blues. “long story short” possui o toque de 1989, talvez como um indicativo de como a regravação desse álbum possa soar com o indie pop/folk de evermore. Uma música timidamente dançante, preferindo o instrumental comedido ao pop contagiante que já vimos anteriormente que a Taylor sabe fazer muito bem.

Como resultado de uma impressão mais pessoal, “marjorie” é sobre a avó da cantora e que era igualmente cantora, Marjorie Finlay, mas de outro gênero, ópera. Antes de tudo, a música apresenta a voz de Marjorie em seu background, carregando uma carga emocional ainda maior para a música, imortalizando a voz e imagem de sua avó de uma forma belíssima. Tanto a letra quanto a forma em que a música foi conduzida é uma maneira de afirmar que quem morre nunca nos deixa e nem deixa este mundo, pois as lembranças e marcas presentes nos vivos, permanece.

closure” traz o experimental ao evermore. Com compassos estranhos, quebra a linearidade e foge do óbvio, talvez o toque mais criativo do álbum. O contraste entre o piano e as batidas estranhas terão mais sentido na sequência, já que logo depois “evermore” vem com os sintetizadores e auto-tune na voz do Justin Vernon, do Bon Iver, banda que utiliza esse recurso em seu trabalho. A escolha reforça o contraste e a dualidade entre a sensibilidade no instrumental e recursos eletrônicos.

Para o evermore, a cantora fez uma nova produção, reavaliando o que deu certo em seu antecessor e nos entregou um folk detalhadamente rico, transbordando nuances – sutis ou não – de outros gêneros e também de seus outros trabalhos. As letras apresentam histórias mais complexas e mais elaboradas, mesmo em um curto tempo. A maturidade atingida pela cantora em seu trabalho intensifica a compreensão de sua arte, relatando histórias em um tom mais comedido, ainda que sentimental, como uma descoberta não somente de si, mas sobre a lucidez que somente a idade por vezes nos oferece. Finalmente, o lado mágico do perdão e respeito pela sua história presente nesse projeto toma conta e nos entrega não somente uma obra-prima, mas também uma intensa reflexão em nós mesmos.

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