Grupo paranaense valoriza emoções e busca às raízes em meio ao caos da quarentena
Vestidos em diversas combinações de camisas brancas e calças escuras, cinco rapazes se movimentam de forma enérgica pelo pequeno palco, sob luzes que se alternam entre tons de rosa, amarelo e verde enquanto ilustrações caleidoscópicas são projetadas no pano branco estendido ao fundo. Só falta uma coisa: o público. Mas nem isso é capaz de abalar a animação de O Hipertrópico.
Formado em 2019 em Londrina, Paraná como um projeto com Fernando Cacciolari nos vocais principais e Vinícius Carneiro na guitarra, o grupo conta hoje também com Rafael Félix nos sopros, Roberto Moreira no baixo, e Pedro Lot na bateria. Em entrevista exclusiva ao ROCKNBOLD, a banda conversou sobre inspirações, processos e como eles mal podem esperar para finalmente se apresentarem em frente a uma plateia ao vivo.
A ideia para O Hipertrópico veio enquanto Cacciolari morava na Itália e compôs algumas letras como forma de registrar sentimentos daquele período e matar as saudades da terra natal. Ao retornar ao Brasil, procurou Carneiro, amigo de longa data, para ver como poderiam desenvolver aquele material.
“Um dia, ele apareceu do nada lá em casa com as músicas”, relembrou Carneiro. “Eu dei uma olhada, gostei, e logo começamos a trabalhar.”
Lançado em abril de 2020, logo nos primeiros meses da pandemia, o EP homônimo traz letras sentimentais e delicadas, com sons inspirados especialmente pela tropicália e nova MPB. Mas o grupo busca também referências que vão desde o rock clássico, punk rock e pop até o jazz, flamenco, e trilhas sonoras de filmes animados. “Cada um gosta de uma coisa e se completa, isso é bem característico do Hipertrópico”, disse Félix.
As gravações foram feitas em diversos pontos da cidade, começando na casa de um amigo e passando por alguns estúdios locais. Na época, o projeto era encabeçado apenas por Carneiro e Cacciolari, que chamaram amigos da cena londrinense e até um pianista diretamente de Turim, na Itália, para colaborar. Os instrumentos foram captados de forma direta e acústica, o que resultou em uma atmosfera caseira, meio de cabana e “feito em casa”.
Até por isso, o grupo decidiu seguir em frente com o lançamento na data planejada, apesar do imprevisto trazido pela crise sanitária de Covid-19. “Isso de ficar em casa acabou casando com o momento”, disse Carneiro. “E talvez até tenha ajudado a chegar onde chegou, talvez [a banda] não teria essa visibilidade.”
Impossibilitado de fazer apresentações ao vivo, o quinteto vem se dedicando às redes sociais, por onde divulgam não apenas sua música, mas também bastidores do trabalho e curiosidades da área. “[Em tempos normais], a gente já estaria fazendo shows pela cidade e talvez não focando tanto nessa divulgação nas redes”, disse Cacciolari. “A pandemia ‘segurou’ a velocidade, percebemos que [ter uma banda] não é só sobre fazer show”.
Não que eles sejam estranhos aos palcos, muito pelo contrário: cada um já teve experiências em outras bandas locais, se apresentando em bares e festivais – o que torna essa pausa forçada pela pandemia ainda mais agoniante. “Para mim, tocar é algo visceral, é onde me divirto e fico feliz”, contou Carneiro. “Está sendo desesperador.”
Ao mesmo tempo em que sente falta de uma interação mais direta com a plateia, o grupo também vê no isolamento uma oportunidade de introduzir seu trabalho para o público. “A gente está mais ansioso que qualquer pessoa, a gente está há um ano criando expectativas”, disse Félix. “É uma pressão gostosa”.
Enquanto isso, O Hipertrópico também se dedica ao álbum de estreia, que deve sair ainda em 2021. Com canções compostas em conjunto por Cacciolari, Carneiro e Félix, o trabalho deve seguir uma vibe um pouco diferente do EP, com faixas mais introspectivas que exploram temas como origens, mudanças e a condição humana.
O disco também trará experimentações com outros gêneros musicais mais dançantes, como funk, reggae e até uma referência sertaneja com um berrante. “É bem sobre isso, sobre voltar às origens, às raízes do interior”, comentou Cacciolari em meio a risos.
“O legal desse [trabalho] é que a gente pode fazer do nosso jeito, fazer um conteúdo muito autêntico – e é isso que a gente quer passar”, completou. “Música é um registro histórico, não só pessoal”.
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