Os dois maiores nomes da nova geração musical de Belo Horizonte juntaram forças na última sexta-feira (26) para dividir com o restante do país a canção Nunca Fui Desse Lugar, marcando a primeira parceria entre Daparte e Lagum. Interpretada pelos mineiros, a composição é de Julio Anfer, amigo em comum de ambas bandas e figura presente em ensaios e shows há muito tempo.
A canção estava guardada na gaveta desde 2016 e quase chegou a fazer parte do álbum Coisas da Geração, lançado em 2019 pela Lagum. Gravada há quase um ano, Nunca Fui Desse Lugar traz um pouco da identidade de cada banda, ao mesmo tempo que traz a impressão de tirar cada um dos artistas de sua zona de conforto.
A faixa chega acompanhada de um clipe dirigido por Túlio Cipó, gravado em um casarão antigo em Belo Horizonte. Com fotografia lúdica, quase analógica, as tomadas variam entre elementos e detalhes de cada um dos ambientes, passando pelos integrantes de ambos grupos e, em paralelo, acompanhando a história do casal protagonista em um momento crítico de seu relacionamento.
Nunca Fui Desse Lugar aborda pertencimento, vontade de se entender e de se achar dentro de si mesmo e de relacionamentos com outras pessoas, mergulhando por incertezas e viajando por picos emocionais de ponta a ponta.
“A ideia sempre foi de ser um single”, revelou o guitarrista e vocalista João Ferreira ao ROCKNBOLD. Com a pandemia de COVID-19, a Daparte optou por adiar o álbum previsto para o ano passado e, no fim de 2020 dividiu com o público o EP Como Não Se Lembram que recentemente ganhou um clipe para a faixa O Eterno em Caraíva. O feat Nunca Fui Desse Lugar é o primeiro lançamento do ano da banda, e de acordo com o músico, o processo de colaboração com o Lagum foi muito natural. “Quando decidimos ter uma participação no álbum, o primeiro nome que apareceu para nós foi o do Lagum e então Nunca Fui Desse Lugar foi a primeira música que surgiu na nossa cabeça.”
Aliás, além de ser o primeiro trabalho de 2021 e a primeira colaboração coterrânea da banda, Nunca Fui Desse Lugar também marca a primeira faixa não composta por um dos integrantes na carreira da Daparte. E mesmo interpretando palavras terceiras, João afirma que desde o início o som pareceu familiar. “Ela me lembra a Daparte e o Lagum em muitos momentos. A gente pegou um material e colocou um pouco da nossa identidade, é como se a gente tivéssemos colorido um livro juntos. Foi interessante gravar algo que não tinha saído da gente.”
A direção de arte de Lorena Maruch combinada à direção de fotografia, edição e montagem de Túlio Cipó foram cruciais para entregar uma dinâmica visual que mergulha em um conceito de opostos em toda a sua narrativa. Essa proposta é vista logo no início em que Pedro Calais e Juliano Alvarenga estão amarrados de costas um para o outro e, mais tarde, um músico é visto deitado enquanto o outro está em pé. O conceito repete-se no nítido/desfocado na cena do quarto no segundo pré-refrão, e logo é visto também no formato claro/escuro no jogo de xadrez e no vestuário do casal principal.
Ao ROCKNBOLD, João Ferreira revelou que, assim como diversas obras, suas canções e clipes possuem multinterpretações e estão longe de terem uma verdade absoluta. “A gente tem uma onda de colocar muitos substratos para interpretações”, começa o músico. “Eu acho bonito demais quando uma peça de arte torna o intérprete também um artista e a pessoa começa a criar em cima daquilo, gerar uma história.”
Na mesma cena em que Pedro está deitado no chão e Juliano em pé, o vocalista da Daparte colore a cabeça de um manequim preso em uma gaiola. Assim como qualquer outra parte do clipe, o momento também está aberto para sentidos e conexões pessoais, mas foi pensado como uma referência ao comportamento humano de criar expectativas sobre outras pessoas, às vezes até irracionalmente. “Ele [Juliano] está pintando no rosto do manequim alguém que ele criou, projetando uma pessoa que ele quer ver. A gente faz muito isso e acabamos prendendo os outros na imagem que criamos. No fim das contas a gente só conhece a impressão que a gente tem”, revelou o compositor.
Parcerias Locais
O feat com o Lagum marcou a parceria entre dois dos nomes mais fortes atuais da música de Belo Horizonte, mas mesmo com um 2021 longo e repleto de novidades pela frente, João Ferreira não descarta explorar os artistas vizinhos em futuros projetos. “Não consigo dizer se temos planos concretos, mas eu acho que eventualmente vai acontecer”, adianta. “Temos a sorte de estar num momento de BH em que muitos artistas interessantes, talentosos e criativos estão surgindo. Com certeza em algum momento a gente vai acabar celebrando isso.”
2021 é o ano da Daparte?
Os fãs da Daparte têm muito a celebrar. Mesmo com o álbum sendo adiado para esse ano, a banda mergulhou criativamente em composições e muita música durante a quarentena e entregaram em dezembro o EP Como Não se Lembram, com quatro faixas inéditas. Pouco mais de um mês depois, os mineiros apresentaram o feat com Lagum, e já adiantam nas redes sociais e grupos de fãs que não vão parar por aqui.
“a gente sente que está num timing e num momento muito legal, que as pessoas têm curtido conhecer a gente e a gente tem curtido conhecer as pessoas”, diz João. “Não sei até que ponto a falta de shows e contato físico prejudica ou ajuda a banda, então ainda é muito incerto. Mas eu torço para que seja um ano bom para nós.”
“Tá tudo acontecendo de uma maneira tão bonita, eu tô muito feliz já de lançar música e fazer parte da vida da galera. Pra mim, já tá rolando uma realização pessoal”, finaliza o músico.
Daparte é João Ferreira (voz e guitarra), Juliano Alvarenga (voz e guitarra), Bernardo Cipriano (voz e teclado), Daniel Crase (bateria), e Túlio Lima (também chamado de “Cebola”, voz e baixo). Lagum é Pedro Calais (vocal), Otavio Cardoso (também chamado de “Zani”, guitarra), Jorge (guitarra), Francisco Jardim (baixo) e anteriormente Tio Wilson (bateria). Ouça Nunca Fui Desse Lugar: