Muitos são os exemplos de artistas que aproveitaram o período de quarentena para transcender em suas composições e encontrar inspiração nas mais detalhadas e específicas coisas. Porém, há também quem preferiu utilizar dos dias em casa para traduzir em palavras os sentimentos mais claros e unânimes da população mundial, como a saudade dos amigos.
O canadense Wayfie, de apenas 23 anos, traz uma proposta mais próxima da realidade de cada brasileiro em suas músicas. Com I Just Wanna See My Friends, o cantor oferece uma atmosfera de aconchego numa letra fácil e simples, mas que acerta o timing e serve como um longo abraço em tempos difíceis.
A canção surgiu entre quatro paredes, com produção lo-fi, acordes de violão e muita saudade num só coração. O clipe, por sua vez, traz uma fotografia de pouca luz dentro de casa que entra em contraste com as imagens gravadas ao ar livre, em que o diretor Jevan Crittenden brinca com os opostos em cores, luz e movimento, justamente para dar referência às emoções de Wayfie na música.
“Fui forçado a ficar no meu quarto por duas semanas em que fiquei isolado [por ter contraído COVID-19], e isso me forçou a perceber que quando estou sozinho com meus próprios pensamentos, e sou forçado a sentar e escrever como me sentia”, revelou o cantor em entrevista ao ROCKNBOLD. “Não acho que teria descoberto [meus pensamentos] assim se a pandemia não tivesse ocorrido. Antes do período pandêmico eu estava enterrado no trabalho de produção musical. Eu assumia tantos projetos que não conseguia pensar no que estava acontecendo na minha cabeça. Era uma maneira de evitar sentir quando eu estava sentindo.”
A pandemia de COVID-19, inclusive, deu o tempo e a coragem para Wayfie de dar o pontapé inicial numa carreira de cantor, interpretando suas próprias composições e produções. Fairytale, que foi lançada em janeiro, teve uma ótima repercussão no exterior, e agora o cantor aposta no público brasileiro para dar continuidade em sua carreira musical.
“A diferença [de compor para mim] é que quando eu escrevo para outros artistas, meu principal objetivo é tentar chegar mais perto e retratar sentimentos honestos, e não o que as pessoas pensam que eles deveriam estar escrevendo sobre”, revela o cantor. “Para a minha própria escrita, eu meio que tratei da mesma maneira. Então, eu acho que a única diferença é apenas como eu me sinto versus como qualquer outra pessoa se sente.”
“Sendo capaz de cantar minhas próprias músicas eu tenho uma oportunidade única de dizer como me sinto”, complementa, deixando claro que assim como as pessoas do outro lado da tela, também coloca muita pressão em si mesmo — principalmente durante a quarentena, em que ser produtivo virou uma das principais preocupações do ser humano.
“Acho que a pressão vem… [risos] sim! Eu definitivamente coloco muita pressão sobre mim mesmo!”, começa Wayfie, desmentindo a si mesmo. “Sou sempre muito seletivo com o que digo, a forma como minhas palavras são proferidas, sou muito específico sobre as palavras que escolho. Então, na minha escrita, sou ainda mais seletivo.”
“Então sim, pode haver pressão. Acho que no final do dia você tem a chance de comunicar uma mensagem em uma música. Você está tentando vender algo para alguém, com apenas alguns segundos para chamar a atenção do público. E então, a partir daí, uma vez que você tenha a atenção deles, como você mantém essa atenção? E como você realmente os mantém envolvidos?”, detalha.
Wayfie ainda comenta, mais tarde no bate-papo, como as pessoas tendem a colocar artistas em patamares diferentes, seja subestimando ou superestimando a profissão. “Quando você se torna um artista, requer muita coragem, para se apresentar vulnerável ao mundo. Você está de boa vontade enfrentando o julgamento de todos, acho que acabei subestimando o quão desafiador isso pode ser, sabe, de uma perspectiva emocional e até mesmo da perspectiva criativa.”
“Quando se trata de criar algo, a última coisa que você realmente deveria considerar é o que todo mundo pensa sobre isso”, continua o cantor e compositor. “Por mais que eu esteja nervoso e passando por desafios que eu não esperava, também estou animado porque cresci muito como indivíduo desde que decidi me compartilhar com o mundo.”
Influências e liberdade criativa
Wayfie é um grande fã de rap. E de Alexander 23, Kanye West, Fiona Apple e até da canção “Hey Jude”, dos Beatles. Referências e variedade não faltam para compor seu gosto musical, e é impressionante como o cantor consegue trazer referências para todos eles em uma só única faixa — como se fossem easter eggs, num filme.
“Não consigo necessariamente me ver atuando como um artista aleatório, mas eu definitivamente sinto que é inevitável que essas influências se espalhem na minha música”, relata o cantor.
Futuro
Wayfie é um artista que coloca mais os pés no chão quando se trata de perspectiva. Apesar de querer alçar altos voos, o cantor evita fazer planos a longo prazo justamente pela dificuldade de tocá-los no momento. “Acho que quando passo muito tempo olhando para longe, isso me distrai do que tenho bem na minha frente”, revela. “Para que eu tenha um desempenho eficaz, acho que preciso estar bem no presente, no momento.”
Mesmo assim, ainda há um sonho ou outro que o cantor quer realizar: “tenho sonhos com todos os meus artistas favoritos”, explica. “Além de desenvolver relacionamentos com pessoas que eu acho que poderiam trabalhar juntas para fazer uma arte muito bonita.”
Carinho brasileiro
Além de ter alguém perto que conhece muito bem o país (Mika, seu manager que nasceu na cidade de São Paulo), Wayfie acredita ter pego sinais que deve investir mais no público brasileiro, como por exemplo, por meio das redes sociais e plataformas de música digitais. “Tive alguns fãs do Brasil que me procuraram pessoalmente. E esse foi um primeiro sinal de que talvez haja pessoas por lá que gostariam de ouvir mais de mim”, conta.
Acompanhe Wayfie nas redes sociais:
Spotify: Wayfie
Instagram: @itswayfie
YouTube: Wayfie
