Quando o assunto é versatilidade musical, a Daparte cumpre bem a tarefa. A banda mineira formada por João Ferreira (voz e guitarra), Juliano Alvarenga (voz e guitarra), Bernardo Cipriano (voz e teclado), Daniel Crase (bateria), e Túlio Lima (também chamado de “Cebola”, voz e baixo) lança nesta terça-feira (15) o “Lado B” do trabalho que reuniu os singles “Acrobata” e “Pescador” — este último disponibilizado na semana passada.
Apostando num formato totalmente novo na carreira, a banda assume riscos num lançamento cheio de “primeiras vezes” que acerta em cheio ao tentar atingir novos públicos: com os singles sendo disponibilizados e agrupados num formato bundle digital; os clipes utilizando tecnologia de animação e as composições apostando numa narrativa mais down e melancólica.
“A gente compôs elas na mesma época, elas têm o mesmo mood”, revela o vocalista João em entrevista exclusiva ao ROCKNBOLD. “Sempre quisemos que existisse uma ligação entre elas”, refere-se o músico à conexão entre ambos singles, que são praticamente irmãos siameses. “O João me mostrou essa música [Pescador] numa época que a gente tava indo para o sítio do nosso tecladista, e lá eu comecei a tirar a cifra no violão e depois comecei a compor uma música do zero, que virou Acrobata”, complementa Juliano, também vocalista da Daparte. “Elas são irmãs, uma inspirou a outra.”
As músicas mostram uma discrepância entre o último lançamento Nunca Fui Desse Lugar (com a banda Lagum) e o EP lançado no final de 2020, Como Não Se Lembram, que traz mais referências no rock ‘n’ roll. Dessa vez, apostando num tom mais melancólico e instrospectivo, a Daparte aposta em multi-interpretações que viajam desde a composição e se extendem à arte visual da capa e mídia que a acompanha. Dirigido por Lucas Siqueira, o clipe traz a estreia da banda num formato novo e sem a presença dos músicos, com uma história em animação digital que pode muito bem ser considerada um curta-metragem.
Interconectados, Pescador e Acrobata trazem uma narrativa abstrata e uma direção de arte assinada pelo próprio Lucas Siqueira, que brinca com a linguagem de opostos: claro e escuro; cores quentes e frias; enquadramentos fechados e abertos; o monocromático e o colorido. A experiência é quase imersiva e propõe uma reflexão silenciosa e particular, fugindo do repertório de canções da banda “para dançar chorando”.
Mesmo compostas em 2018, bem antes da pandemia de COVID-19 ser uma possibilidade, o período de isolamento social foi um elemento que impactou os lançamentos de certa forma, fortalecendo ainda mais esse tom solitário dos clipes. “É uma comunicação mais indireta. Com a animação é mais interessante, explora mais o imaginário pra quem quer viajar e refletir, que é impacto que a gente quer ter na vida das pessoas”, revela Juliano, referindo-se ao experimentalismo proposto nos clipes animados, visto que a tecnologia tende a alcançar elementos que dificilmente as câmeras conseguem.
Já Acrobata também propõe uma viagem, mas por um caminho diferente da sua irmã, o que é nítido já pelo videoclipe: utilizando uma paleta de cores mais vibrantes e uma animação que pode facilmente ser comparada ao stop-motion, o vídeo brinca com o conceito de amplitude ao mesmo tempo que propõe uma reflexão sobre equilíbrios (o que dá jus ao próprio nome da música).
“São duas músicas que a gente tem o sonho de serem tocadas numa hora emocionante do show: não ter bateria, só voz e violão com as pessoas cantando”, revela Juliano.
Com Acrobata e Pescador, a Daparte expande seu acervo musical e prova mais uma vez ser um artista sonoramente versátil. Numa geração em que muitos nomes exigem rótulos, os mineiros optam por viver esse desafio de fazer algo diferente todos os dias, abertos ao que o inesperado possa vir a oferecer. “Você vê bandas pelo mundo inteiro que tem um público muito nichado, outras pegam pessoas de várias idade, e a Daparte tem essa vontade de ser uma banda que muitas pessoas gostem”, explica Juliano Alvarenga. “Somos cinco pessoas que ouvem de tudo, então de certa maneira a gente tenta sem perder a identidade fazer com que as pessoas conheçam outros lados da banda também, acho que pro público isso é muito legal.”
Essa liberdade criativa na hora de escrever é o que torna a Daparte um nome a se prestar atenção nesse cenário atual da música brasileira. E como esses dois lançamentos afetam o futuro da banda? Juliano reflete na hora de responder. “[Pescador e Acrobata] são duas músicas do nosso disco que talvez se a gente lançasse ele sem tê-las como single, ficariam perdida no meio da tracklist”, diz o vocalista. “São duas músicas que são muito importantes pra gente, elas valorizam o nosso lado da canção — coisa que no Brasil as pessoas não têm feito muito, canções.”
“O disco tem uns grupos de músicas: mais alegres; mais porrada; e tem músicas mais introspectivas”, complementa João. “Essas músicas reafirmam para nós que a gente não precisa ficar no mesmo ritmo. A é de verdade: não estamos felizes o tempo inteiro, então tem muitas faixas que é pra pirar na solidão e refletir.”
O Futuro da Daparte
Com o segundo álbum da carreira planejado para ser lançado ainda esse ano, os fãs podem se preparar ainda para mais um single “totalmente diferente desses que foram lançados”, como adianta João, antecipando o trabalho. O álbum de estúdio ainda não possui o nome divulgado, mas tende a ser mais leve e dançante do que o grupo ofereceu no EP Como Não Se Lembram, mas que ainda conte com faixas introspectivas.
No ano passado, em entrevista ao ROCKNBOLD, João Ferreira descreveu o disco como “homogêneo, robusto, com uma cara de Daparte.” Com canções já lançadas anteriormente, como Iaiá, Calma, 3 da manhã, Segundas Intenções, Nunca Fui Desse Lugar e os dois novos singles, o álbum chegará em algum momento do segundo semestre.
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