Monsta X aposta grande com “One of a Kind”

Não muito depois do lançamento de “Flavors of Love”, seu terceiro álbum japonês, o Monsta X está de volta adicionando um nono mini-álbum à sua carreira de crescente sucesso: o “One of a Kind”.

Por Ioná Corrêa

A palavra-chave para descrever o último lançamento desse grupo é adulto. Com um estilo característico que já demonstram ter encontrado há algum tempo, os membros do Monsta X comprovam com o One of a Kind que não é por já saberem quem são que vão deixar de buscar evoluir cada vez mais. O álbum é o que mais apresenta participação dos membros do grupo no processo de sua construção, contando com quase todas as suas canções produzidas pelo vocalista Hyungwon ou pelos rappers I.M. e Joohoney. O último foi, inclusive, responsável por “GAMBLER”, a primeira title da carreira do grupo a ser produzida por um de seus membros.

Inspirada pelo tom sensual e misterioso dos filmes de James Bond, “GAMBLER” segue criando uma atmosfera nessa mesma linha com sucesso. A canção relata uma história de uma atração tão forte que faz com que as pessoas envolvidas estejam dispostas a apostar tudo para estarem juntas, mesmo sem a certeza de que são correspondidas no sentimento. Diferentemente da fórmula normalmente usada pelas outras titles do grupo, onde o título da canção é geralmente um motivo repetido diversas vezes no refrão, a palavra “gambler” mal faz uma aparição, com o mais próximo sendo a frase “love is a gamble”, um dos últimos versos da faixa.

Marcada especialmente pelo característico baixo pesado que já é marca estilística do grupo, o single é uma excelente escolha para demonstrar a energia e os talentos únicos dos membros do Monsta X. Um dos elementos que mais chama a atenção de primeira é sem dúvidas a guitarra à la Aerosmith que, mesclada com as diversas harmonias dos vocais e com a batida extremamente marcada, cria um clima único e impactante. A canção é sem dúvidas merecedora de acompanhar a trilha sonora de um filme sobre um assalto elaborado – e, felizmente, é precisamente isso que eles buscam fazer com seu MV.

“GAMBLER” é a perfeita abertura para um álbum que fala sobre atração, amor e intimidade; tema esse que é seguido perfeitamente pela leve “Heaven”. Marcada pelo violão ao longo de toda a melodia, “Heaven” é a resposta da pergunta: o que aconteceria se juntássemos o estilo tradicional EDM do Monsta X com nada mais, nada menos, que Bossa Nova. O resultado é uma canção única e inesperadamente tranquila – uma faixa para se ouvir em viagens longas de carro enquanto o sol se põe na estrada. Apesar de ter uma sessão instrumental com um synth pesado de presença um tanto quanto questionável após o segundo refrão, a canção se recupera imediatamente com os vocais aveludados de Hyungwon e o retorno do violão como instrumento principal.

“Addicted”, a terceira faixa do álbum, brinca muito com elementos instrumentais espaçados e flutuantes, que contrastam com vocais e baixos intensos em diversos momentos. O piano que entra durante os versos de Joohoney e I.M. na segunda parte da música dá uma sensação um tanto quanto sombria, que faz jus ao tema da letra da canção. Essa faixa possui uma abordagem mais macabra sobre a temática da atração, trazendo uma narrativa sobre obsessão e toxicidade em um relacionamento onde o magnetismo entre as duas partes leva a pessoa a permanecer em um amor trágico – mesmo estando consciente das suas consequências. De forma geral, não é uma canção muito dinâmica, carregando mais ou menos a mesma intensidade durante toda a sua duração. No entanto, os sentimentos por trás da canção são ainda assim transmitidos com excelência pelos integrantes.

Desde os seus primeiros segundos, já é fácil entender que “Secrets” está encaminhando o álbum para um território um tanto quanto mais suave e sensual. A surpresa no caso é que esta é a primeira canção inteiramente em inglês que o Monsta X apresenta em um lançamento coreano. A melodia é dançante e, ao mesmo tempo, leve, o que cria uma atmosfera retrô e extremamente agradável de se ouvir. De certo modo, essa parece uma canção que se encaixaria facilmente no álbum previamente lançado pelo grupo, All About Love que, além de ser inteiramente em inglês, está repleto de outras faixas nesse mesmo estilo. 

monsta x one of a kind

O interessante é que não é de agora que nota-se como cantar em inglês deixa os integrantes do grupo mais confortáveis para abordar assuntos de teor mais sexual. As letras do All About Love são mais do que suficientes para provar esse ponto, e os versos do rapper I.M. costumam ser famosos por frases em inglês que são bastante sugestivas, especialmente em seus lançamentos solo. Diferentemente de outros grupos, o Monsta X não é de se distanciar de assuntos desse gênero em suas canções – e isso claramente não é diferente nesse álbum.

Numa mudança levemente drástica de abordagem, One of a Kind segue em frente com uma canção dedicada aos seus fãs, os Monbebes. Devidamente intitulada, “BEBE” traz de volta instrumentais flutuantes que lembram vagamente o estilo que já vimos em “Addicted”, só que dessa vez com uma pegada leve e carinhosa. As vozes suaves de Minhyuk, Shownu e Hyungwon dessa vez ganham mais espaço na melodia, sendo que o último foi também responsável inteiramente pela letra da música.

A intro tranquila e com notas em staccato é uma escolha um tanto quanto divertida, fazendo lembrar muito vagamente algumas faixas na trilha sonora de videogames como Undertale. A escolha de alguns sons peculiares, instrumentos inesperados e os efeitos presentes nas vozes em certos momentos se juntam para criar uma canção que é perfeitamente Monsta X e que é ideal para se ouvir num dia preguiçoso na cama.

Por ter sido colocada nessa posição no álbum, “BEBE” cria um meigo – e breve – intervalo no território luxurioso explorado pelo grupo ao longo da tracklist do álbum. “Rotate”, a penúltima faixa da obra, conta com o tom sensual que é classicamente atribuído ao baixo intenso e à batida marcada que se mostram principais na melodia. O contraste dos vocais suaves nos versos com os mais intensos nos refrões constrói uma dinâmica interessante que impede que a canção caia num estado de inércia, ao mesmo tempo que os instrumentais constantemente leves e ondulantes fazem com que a melodia se mantenha coesa do início ao fim.

Apesar de não chegar a ser o suficiente para ganhar a classificação oficial de “explícita” nos mecanismos de streaming, “Rotate” passa a sua mensagem de forma alta e clara para os ouvintes, certamente explorando uma área que é raramente abordada liricamente por outros grupos. O ritmo da canção é também extremamente contagiante e, apesar de não ser exatamente dançante – na verdade é, inclusive, bastante tranquila – faz com que quem a escuta facilmente se encontre balançando involuntariamente ao longo de sua batida.

One of a Kind não chega a ser um álbum perfeito: apesar de ter canções que sem dúvidas funcionam individualmente, a presença de faixas como “BEBE” atrapalha um pouco a coesão da obra como um todo. No entanto, a inclusão de canções para homenagear seus fãs é algo extremamente tradicional para grupos de K-Pop, então apesar de não fazer muito sentido tematicamente falando, a faixa ainda assim não atrapalha a tracklist.

A última faixa é a versão coreana do single originalmente lançado em japonês, “Livin’ it Up”. É impossível negar que a canção encerra o álbum em um ciclo perfeito, já que estilisticamente é um par perfeito para “GAMBLER”. Apesar de ser uma ótima música, a presença dela no álbum deixa a desejar que esse lugar tivesse sido ocupado por um outro novo lançamento que se encaixasse um pouco melhor à temática do resto do álbum.

One of a Kind pode não ser, de fato, o lançamento mais único do ano até agora, mas é sem dúvidas uma obra de altíssima qualidade. O Monsta X continua a demonstrar sua excelência e criatividade de maneiras novas e, sendo assim, só nos resta admirar o talento do grupo e observar o que o futuro reserva para a carreira do sexteto.

8/10

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