Origin of Symmetry: 20 anos de um dos melhores álbuns do Muse

Vinte anos após a concepção do trabalho mais audacioso do trio de Teignmouth, Origin of Symmetry ganha um som reimaginado no relançamento “XX Anniversary RemiXX”, além de um novo e grandioso significado no coração dos fãs. O disco se consagra como a evolução necessária e ambiciosa que escreveu o nome do Muse na história do rock, marcada pela ousadia e megalomania de três mentes que se recusavam a fazer mais do mesmo.

Em uma realidade longe de smartphones e redes sociais, mais precisamente há 20 anos, o Muse entregava ao mundo seu segundo disco de estúdio, o aclamado Origin of Symmetry, alvo de adoração e discussões acaloradas por partes dos fãs, que geralmente têm o álbum como o primeiro ou segundo melhor da carreira do trio. Se hoje o Muse é uma banda reverenciada e constantemente associada ao som envolvente do rock alternativo, shows megalomaníacos, óculos coloridos e sintetizadores, as coisas já foram bastante diferentes no passado. Em 2001, o trio de Teignmouth ainda colhia os frutos do seu primeiro e bem sucedido disco, Showbiz (1999), era bastante comparado com Radiohead, chamava atenção como atração em festivais e se via diante do desafio de produzir um segundo álbum tão autêntico quanto, sem deixar de lado os elementos do rock alternativo que tanto agradaram naquela época.

Pensando no contexto do momento, 2001 também foi o ano em que o indie rock dava seus primeiros passos rumo à ascensão, inspirado pelo que tinha restado do punk, grunge e pelo desejo de jovens que sonhavam com o sucesso fazendo música em suas garagens. Com um pouco de tudo acontecendo no momento, não era simples para uma banda como o Muse, que recém tinha conquistado notoriedade, reinventar a roda dentro do gênero em seu segundo álbum, mas eles tentaram. Se Showbiz foi um trabalho carregado de lirismo, melodias tristes e riffs energéticos, chamando também bastante atenção pela voz estridente de Matt Bellamy, Origin of Symmetry tentou ser o oposto, se arriscando em uma sonoridade distorcida e excêntrica, ambiciosamente arquitetada para ser grandiosa, divagando entre o rock progressivo e alternativo.

A partir dali, o Muse tinha o desafio de repetir o sucesso e conquistar novos públicos. Origin of Symmetry chegou às lojas do Reino Unido em 18 de junho de 2001, e contou com a produção de David Bottrill, John Leckie, além da própria banda. Devido a desentendimentos com a Maverick Records na época, que teria pedido que Matt não usasse tantos falsetos em suas canções, o álbum só foi formalmente lançado nos Estados Unidos anos mais tarde, em 2005, o que para alguns, teria atrapalhado na tentativa da banda em atingir o mercado mainstream norte-americano.

O segundo disco já apresentava suas diferenças e peculiaridades desde as suas primeiras faixas, “New Born”, “Bliss” e “Space Dementia”, trazendo um som frenético de sintetizadores, riffs distorcidos e pianos que pareciam querer anunciar a chegada do apocalipse, beirando a psicodelia se comparado ao mar de melancolia e lamentações do álbum anterior. Não é a toa que, até hoje, o Origin of Symmetry é o álbum favorito de seis em cada dez fãs de Muse, principalmente por toda a sua ousadia e boa dose de experimentalismo em seus traços megalomaníacos. O nome referencia o livro ‘Hyperspace’, de 1994, escrito pelo físico teórico Michio Kaku, que sugere o título para a descoberta da “supersimetria”. Para o jovem rockstar em ascensão, Matt Bellamy, muito havia sido dito e escrito sobre a origem da vida, e a partir dali, teóricos voltariam seus olhos para a origem da simetria: “Há uma certa estabilidade no universo e descobrir de onde ela se origina seria descobrir se Deus existe“.

Em meio a teorias da conspiração, experiências de controle da mente por forças estatais, contatos com seres interplanetários, entre outras temáticas delirantes abordadas no disco, reza a lenda que Origin of Symmetry foi responsável por, na época, introduzir o jovem trio ao mundo das drogas ilícitas. Matt Bellamy, inclusive, teria feito uso de cogumelos alucinógenos para ajudá-lo a conceber o som audacioso que o disco carrega. Não que sua mente tenha sido menos criativa na época. Em suas primeiras entrevistas como rockstar, Bellamy já demonstrava seu interesse por temáticas políticas distópicas, existencialismo, além de se revelar um grande entusiasta de teorias alienígenas.

A incrível viagem pela origem da simetria começa nos pianos frenéticos de “New Born”, que evoluem para uma das composições mais geniais e intensas da carreira da banda, aclamada por fãs até hoje. “Bliss” é igualmente introduzida por pianos e sintetizadores que dão um ar “espacial” para a faixa, característica essa bastante usada para para descrever a experiência que a banda buscava criar em suas músicas. Em “Space Dementia” as coisas começam a se tornar mais ousadas. A faixa dá abertura ao que vem a ser uma sucessão de falsetos de alta performance de Bellamy nas faixas seguintes. “Hyper Music” assusta pelos riffs agudos, mas também embarca na aventura quase psicodélica, guiada pelos gritos desnorteados e distorcidos de Bellamy, que canta sobre conflitos afetuosos.

“Plug In Baby” se consagra como uma das canções mais amadas da carreira, e os riff carismático somados aos vocais intensos justificam o título. Já “Citizen Erased” ostenta um solo progressivo de tirar o fôlego, cheio de efeitos e distorções, que também se destaca por ser o mais querido entre os fãs. “Micro Cuts” talvez seja a faixa mais ambiciosa por seu tom vocal, que costuma causar estranheza entre os fãs de primeira viagem, mas leva os veteranos ao delírio. “Screenager” retoma a experiência especial por meio de samples e efeitos, enquanto “Darkshines” conduz o ouvinte pela megalomania desértica na cabeça de Bellamy. O álbum desacelera no clássico de Nina Simone, “Feeling Good”, repaginado aos parâmetros ardilosos do disco. A penúltima faixa leva o nome da característica mais destacável do que o Muse desejava atingir, “Megalomania”, e não por acaso dá continuidade ao som majestoso construído durante todo o trabalho. “Futurism” encerra Origin of Symmetry da mesma forma que abriu: energética e impecável.

Em celebração aos vinte anos do disco que escreveu uma página fundamental no que viria ser o futuro do Muse, a banda relança nesta sexta-feira (18) o álbum com faixas remasterizadas, remixadas e reimaginadas, com nova arte e o título Origin Of Symmetry (XX Anniversary RemiXX). Nas rede sociais, Matt Bellamy fez questão de explicar que o projeto não adiciona novos elementos às masters antigas, mas reedita e destaca elementos que ficaram “escondidos” no lançamento oficial de 2001. Para os ouvidos dos fãs mais atentos, a busca por diferenças e realces nas novas versões é uma experiência imersiva entre o passado e o futuro da banda, quase como uma viagem no tempo.

Apesar das controvérsias, Origin of Symmetry se consagra como a evolução necessária e ambiciosa que escreveu o nome do Muse na histórica do rock, marcada pela ousadia e megalomania de três mentes geniais que, diante o desafio do segundo álbum, se recusava a criar mais do mesmo no início de sua longa e aclamada carreira.

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