Japanese Breakfast e a tristeza que transcende em ‘Jubilee’

Após quatro anos, Japanese Breakfast entrega ‘Jubilee’, seu terceiro álbum de estúdio.
Japanese Breakfast Jubilee Capa

Assim como Wolf Alice, Japanese Breakfast entrega seu terceiro álbum, que os fãs esperam desde 2017. A banda já traz uma melancolia que permeia praticamente toda sua discografia. A capa de Jubilee já entrega como será o tom do álbum: a cor neutra do fundo e os tons quentes de laranja e amarelo criam uma falsa ilusão de alegria. Por cima da superfície, tudo parece tranquilo, mas a postura de Michelle transmitem a verdade por trás do novo trabalho ao ficar mais curvada, transmitindo recolhimento e introspecção. Outra imagem forte é do seu rosto parcialmente escondido por uma das frutas, como se deixasse apenas verem uma parte de seus sentimentos e o que passa em sua cabeça.

Decifrar a capa do álbum não é tão complicado após ouvir o mesmo, composto por melodias sutilmente alegres e upbeat, enquanto as letras carregam uma melancolia que já faz morada em Michelle Zimmer. Ao longo de Jubilee, as referências vão se mostrando, como Björk, Beach House e até mesmo um toque de Kate Bush. Wild Nothing sai da categoria apenas referência pois “Be Sweet” tem colaboração com Jack Tatum, que faz parte da banda. A música tem uma sonoridade de balada dos anos 80, um indie pop que reflete trabalhos anteriores de artistas como The 1975, com linha de baixo marcante.

Ainda na proposta mais upbeat e acelerada, temos “Slide Tackle” A letra mais densa com a batida mais alegre mostra a mistura agridoce de seu trabalho sobre sentimentos não tão nobres. A melancolia sofisticada com o trabalho dos metais na canção reforçam a ideia de happy/sad. “Savage Good Boy” é mais divertida, com ritmo acelerado e voz mais suave, a idealização na letra de uma vida financeira confortável num relacionamento hipotético. Além disso, o solo de guitarra ao final remete a bandas de rock grandiosas dos anos 70 e 80.

A escolhida para abrir o álbum é “Paprika”, com instrumental que se desenvolve aos poucos e torna-se grandioso: traduzindo um sonho em instrumental. Possui sonoridade grandiosa que remete desde Björk e até mesmo o início de Beirut. O toque mágico celebra sua própria trajetória e essa nova fase. O instrumento de corda que acompanha a melodia suave de “Kokomo, INB” dá o tom triste e nostálgico da perspectiva não pessoal de ter o outro partindo e as incertezas que em um curto período os sentimentos podem mudar com a distância, acompanhando de longe as conquistas de alguém que já se foi.

Densidade em Jubilee

Conforme o álbum avança, a temática e as melodias vão ganhando um tom mais pesado, ganhando mais texturas com sintetizadores, onde cada segundo do instrumental conta uma história também. “Posing In Bondage” possui contraste entre a voz doce e o peso dos synths densos e a atmosfera etérea de vocais em reverberação traduzem o sentimento de vulnerabilidade as poucas palavras do refrão impactante. Do mesmo modo, “Sit” transmite a atmosfera densa nas texturas dos sintetizadores pesados, com mais ruídos na composição.

“In Hell” e a dor do luto refletida não somente na sua construção, mas também nos vocais de Michelle. Neste caso, não foi sobre a perda da mãe, mas sim quando sacrificou seu cachorro de infância. O sintetizador mais agudo tem um toque nostálgico de tempos mais leves. Vozes de coral compõem trechos da música e do tempo os metais ganham espaço, sua voz ficando mais ofegante e acelerada. “Tatics” inicia limpa com violinos e o tom saudosista a transforma em uma balada triste, com vocal mais introspectiva e para dentro.

O encerramento ficou por conta de “Posing For Cars”, não trazendo um alento em sua letra, mas na melodia mais calma. É honesta por sobre suas necessidades e talvez por isso seja a mais brutal, pela sensibilidade e fragilidade que a cantora permite mostrar. Através do longo instrumental que segue até o final da música, transforma suas dores em uma odisséia que retrata sentimentos em notas e tempos, a dor crescente e ausência de palavras toma conta e preenche até virar confusão e transbordar, em “Posing For Cars” acabando apenas na microfonia.

O indie variado e emotivo que a cantora apresentou saiu da zona de bedroom pop que entregou em seus dois discos anteriores e trouxe algo grandioso para sua trajetória musical. Ao longo da obra, mostra não somente a luta de tentar sentir algo nem que seja através de personagens, mas também libertar de estigmas do passado. O sentimentalismo sempre tomou conta de suas composições, mas o verdadeiro destaque de Jubilee está na evolução das camadas do instrumental sofisticado por ser mais detalhado, elaborado e cuidadoso. O mais belo da arte de Michelle Zauner é a transformação de sua jornada de dor em arte, que pode servir de trilha sonora para os ouvintes que ganham dez novas faixas para relacionar com sua própria vida.

NOTA: 9/10.

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