Wills Tevs transforma sentimentos em melodias em “Espasmonumental”

Para os fãs de rock nacional, Wills Tevs se demonstra um artista equivalente a uma banda completa, pronto para levar ao mundo suas poesias e reflexões contemporâneas transformadas em canções

Desafiando gêneros musicais e se recusando a se encaixar em uma caixa, o brasileiro Wills Tevs lança nesta sexta-feira (30) seu primeiro álbum de estúdio, “Espasmonumental“, que passeia de forma sublime entre o pop alternativo e o rock nacional, e já chama a atenção em playlists badaladas pela sua autenticidade e qualidade de produção. O artista ainda chama a atenção pelo lirismo envolvente, que transforma sentimentos em melodia, e de certa forma, resgata o sentimento nostálgico do rock nacional que se popularizou em meados dos anos 2010.

O talento do trabalho de Wills vai além do lirismo que conquista os ouvidos e corações. Apesar do disco envolver um time de peso na produção, com nomes como Gustavo Arruda (Plutão Já Foi Planeta) e Rodrigo Cunha, que ajudaram Wills a direcionar o trabalho dentro da sonoridade desejada, o cantor chama atenção pelos vocais completos que predominam acima do instrumental e protagonizam as composições. Nos arranjos, Wills conta com o suporte dos instrumentistas Pedro Amparo (Fôli Grio Orquestra), Renato Lellis (Androide Sem Par), Israel Galiza(Sax in the House) e Naldo Keys.

O resultado é um trabalho que transborda versatilidade ao passear por vários ritmos diferentes com naturalidade, e criativo em não cair na mesmice ao longo de suas onze faixas complexas. Para os fãs de rock nacional, Wills Tevs se demonstra um artista equivalente a uma banda completa, pronto para levar ao mundo suas poesias e reflexões contemporâneas transformadas em canções.

Não deixe de ouvir: “A sós“, “Pulo no Mar“, “(Des)congelar” e “Euforia

Olá, Wills! Muito obrigada por conceder esta entrevista, e muito obrigada também pela paciência!

Oi, Natália, eu que agradeço! Imagina (risos), eu sabia que na hora certa nosso papo iria acontecer e estou muito feliz pela oportunidade.

Apesar de ter conhecido seu trabalho através do single “(Des)congelar”, tive a oportunidade de conhecer outros de seus singles, como “Tetris”, “Pulo no Mar”, “Choque de Realidade” e “Obra do Acaso”. Eu gostei muito da forma como você se mantém fiel à uma sonoridade carismática e agridoce, misturando um pouquinho de rock, alguns elementos de indie nacional, praticamente fazendo o trabalho que uma banda inteira faria com tantas referências. Nisso eu fiquei muito curiosa para saber quais são suas referências artísticas e musicais. Quem você cresceu ouvindo ao longo do seu processo de se descobrir artista e como foi essa descoberta pessoal?

Primeiro, preciso confessar que só foi possível alcançar essa sonoridade graças à parceria com meu produtor, o Gustavo Arruda, do Plutão Já Foi Planeta, que chamou um time de peso pros instrumentais. Ele mesmo foi responsável pelas guitarras e baixos, tive Renato Lellis, também do Plutão, e Rodrigo Cunha na bateria, além do Naldo Keys no teclado. Essa foi a base! Vale a pena citar também a percussão do Pedro Amparo, da Foli Griô Orquestra em algumas faixas, como a própria ‘(Des)congelar’ e do Israel Galiza, do Sax in the House, que mesmo morando em Natal/RN, enviou uma contribuição fundamental pra música Pretérito Imperfeito. A versatilidade dessa galera casou bem com a dinâmica que eu queria pro álbum, gerando essa sensação de um trabalho de banda completa.

Cresci fascinado pelas bandas de rock dos anos 90 e 2000, quando o grunge deu o pontapé e muitas outras estabeleceram depois o que chamamos de rock alternativo e indie rock. Destaco as gringas Faith no More, 311, Incubus, Strokes, Queens of the Stone Age e as nacionais Cachorro Grande, Fresno, Scalene, O Terno. Acontece que eu perdi o timing de formar banda na adolescência e, sendo muito fã de música e texto, tentei suprir isso cursando Jornalismo (incompleto) e Letras (completo) e trabalhando em áreas de comunicação. Só aos vinte e poucos anos, em 2012, eu tive meu primeiro violão e percebi que era capaz de criar melodias. Isso me pareceu promissor na época, apesar de achar naquela ocasião que, sem formar uma banda, nada faria sentido. Então, fiquei anos tentando, tardiamente, ter uma banda em vez de me aceitar como artista solo.

Ainda falando sobre esse processo de se descobrir artista e apostar todas as fichas nesse sonho, você diz que a canção “(Des)congelar” fala sobre sonhos, desejos silenciados e superação, e até por causa disso eu acredito que ela é até então a sua canção mais profunda e sensível. Você também conta que antes disso estava focando em se dedicar à uma carreira empresarial e percebeu que sua missão era compor músicas e levar seu trabalho ao público. Eu gostaria de saber como nasceu a letra desse single que é tão linda, aliás, e qual foi sua reação quando você se deparou com o resultado e percebeu que de fato estava transformando seu sonho em melodia.

Muito obrigado! Eu percebo bastante sensibilidade nas suas palavras e me sinto bem à vontade de falar sobre essa característica da minha música com alguém que é sensível pra ouvir. Eu ainda tenho uma carreira empresarial, atuando em textos de jornadas digitais para clientes, que hoje é uma profissão que combina mais comigo do que algumas áreas que atuei antes, sem desmerecer nenhuma. Hoje, ainda bem, tenho nas carreiras paralelas (artística e empresarial) uma situação resolvida comigo mesmo, mas antes eu passei um bom tempo insatisfeito, sentia que só estava dando meu tempo pra gente rica ficar mais rica, sem ter meu prazer. O que eu estava fazendo da minha vida? Eu não me encontrava. E aí a música saciou as lacunas, me inspirando a compor esse som. Ver essa música lançada é como soltar um grito que estava preso.

E claro, é impossível falar de “(Des)congelar” sem falar da colaboração da Crizzan na música, que rouba completamente a cena durante o trecho com seu vozeirão e deixa todo mundo completamente arrepiado pela dinâmica muito legal que vocês têm juntos na música. Queria que você falasse um pouquinho sobre como surgiu essa parceria, se vocês já eram amigos, e queria que você comentasse também um pouquinho da importância dela nessa canção tendo em vista que ela é uma mulher trans e com certeza sentiu o mundo querer “congelar” muitas vezes ao longo da carreira artística dela também. 

Crizzan é uma cantora fantástica. Em breve, vai lançar o trabalho dela e vai deixar muita gente de queixo caído. A gente se conheceu assim: eu estava num karaokê do centro de São Paulo, há uns dois anos, quando a vi soltando a voz com Mariah Carey. Eu já estava gravando o álbum e buscava parcerias, então logo passei a segui-la no Instagram. No rolê, eu a reconheci como homem e não fazia ideia de que passaria por esse processo relacionado à sua identidade. Só fui tomando conhecimento pela rede social e, depois, quando nos reencontramos pessoalmente pra gravar, em que pude conhecer um pouco mais da história dela. O fato dela ter sua própria caminhada de descoberta e superação elevou o significado de (Des)congelar a um patamar acima do que eu tinha imaginado. Sem falar que a representatividade dela numa música de pop rock quebra barreiras importantes, pode abrir a mente de muitas pessoas, né.

Falando agora sobre seu álbum de estreia, “Espasmonumental”, que chega daqui a poucos dias, eu fiquei bastante curiosa em relação ao nome. Isso só aumentou ainda mais a minha curiosidade quanto ao álbum, por isso, gostaria de saber de você – antes de ouvir o álbum – qual o significado do nome e o que nós, admiradores do seu trabalho, podemos esperar desse tão aguardado álbum de estreia? 

Então, Natalia, eu sou obcecado por criar expressões autênticas (risos). Ainda quando queria formar uma banda, eu inventava nomes e ficava pesquisando no Google pra garantir que aquilo nunca tinha sido usado antes. Foi o caso do meu próprio nome artístico. De William Esteves, virou Wills Tevs, um nome que possivelmente vai travar línguas por aí. Já o título do álbum veio da junção entre as palavras espasmo e monumental. A ideia é mostrar que minhas músicas são curtas e impactantes, assim como o álbum, que tem pouco mais de meia hora mas é uma viagem diversificada. Quero que o ouvinte sinta que atravessou uma jornada curta, mas que mexeu profundamente com suas emoções. Sei que pode soar pretencioso, mas é esse o tamanho da minha ambição e eu boto muita fé nesse trabalho.

Ainda falando sobre o “Espasmonumental”, fiquei também bastante surpresa ao ver que o disco vai contar com a produção do Gustavo Arruda do Plutão Já Foi Planeta e Rodrigo Cunha, então eu acredito que trabalhando com pessoas experientes em rock nacional, com uma pegada mais indie e alternativa, reforça essa sua vontade de trabalhar com um som mais voltado para o indie e soft rock, correto? Como foi o processo de trabalho com esses produtores e como eles te ajudaram a atingir o resultado que você tinha em mente para o álbum?

Indie e soft rock, com certeza. Tem elementos de rock tradicional também, é inevitável pelas minhas referências. Mas, conforme fui amadurecendo, passei a ouvir menos música pesada e me permiti explorar mais gêneros como MPB e R&B. Meus produtores foram grandes incentivadores pra que eu deixasse de querer riffs roqueiros em todas as músicas (risos) e liberasse minha criatividade nas linhas de melodia vocal. Aí meu lado leve transpareceu e a canção virou o centro de tudo. Ter a expertise do Rodrigo, que trabalha há muitos anos com todo tipo de artista, e do Gustavo, que além de produtor é guitarrista de uma das minhas bandas preferidas, foi essencial pra construir minha identidade aberta a experimentações. Eles deram muitas ideias e me direcionaram corretamente pra que eu fosse o mais honesto possível comigo mesmo. Esse rock com pitada de outros gêneros deu a dinâmica que eu sonhava pra estrear com um álbum sem monotonia.

Para terminar, tendo em vista que nos aproximamos aos pouquinhos do fim da pandemia e da grande possibilidade de retomada de shows e festivais, eu gostaria de saber onde você se enxerga nos próximos meses, trabalhando e divulgando o disco “Espasmonumental”, se deseja fazer shows, festivais e apostar em parcerias com mais artistas ao longo dessa jornada.

Pra trabalhar da melhor forma o pós-lançamento, sei que é preciso atuar em diversas frentes. Uma delas, que eu adoro, é ter a oportunidade de falar com mais pessoas e, assim, ter mais gente em contato com a minha música. Então, a entrada nas mídias é algo que prezo bastante. Quem sabe ter especialistas resenhando o álbum? Já é um sonho pra alguém como eu, que sempre curtiu ler resenhas e descobrir novos artistas, ser o artista descoberto (risos). O momento da pandemia é igual para todos, vejo que nesse cenário existe um público disposto a consumir livestreams, ler matérias, ouvir o lançamento do seu artista preferido, tudo sem sair de casa, então é minha oportunidade de começar a criar uma base de ouvintes até chegar no momento tão aguardado por todos nós: a retomada dos shows e festivais. E aí, eu quero estar preparado pra conseguir meu espaço no circuito independente. Mas exercitando a paciência até lá, pois a imunização segura pros eventos rolarem pode demorar mais do que pensamos no Brasil. Sobre as parcerias, espero contar com a maior parte dos envolvidos na produção do álbum, pois os ensaios e preparação fluirão melhor, mas estou ciente de que será preciso conciliar agendas.

Ouça “Espasmonumental”:

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