Lorde e seu Devaneio Luminoso em “Solar Power”

Lorde Solar Power | Capa

Lorde colocou a cara no Sol em seu novo álbum. O terceiro projeto sempre soa desafiador, ainda mais para alguém que encantou tantos dentro e fora da indústria. Após dois álbuns aclamados pela crítica e pelo público, a cantora aceita o desafio e apresenta um respiro em sua discografia. A própria libertação da sombra que a acompanhou como uma bela amiga.

A confusão entre fãs e críticos se instaurou a partir do momento que as reviews saíram na mídia, muitas vezes com notas menores que as esperadas para o álbum de uma das artistas mais aclamadas da década passada. Será que Bowie estava errado?

Primeiros singles

Em 10 de julho, “Solar Power” foi revelado e dualidade do projeto já apareceu. Muitos não entendiam por que tanta semelhança com “Freedom” de George Michael e “Loaded” de Primal Scream. Antes de mais nada, a vibe violão acústico e verão contemplativo deixou os fãs antigos confusos e intrigados. Ao mesmo tempo, nos convidava em várias camadas de vocais: “It’s a new state of mind / Are you coming, my baby?”. Quantos realmente embarcaram nessa de primeira?

O medo sobre envelhecer não abandonaria Lorde tão cedo. Em “Stoned at the Nail Salon” a garota de batom roxo do Pure Heroine que tinha receio de envelhecer encontra acalento. A cantora abraçou a maturidade e sua reflexão melancólica quebra o clima do single anterior. A balada sobre ficar chapada e reflexiva também é sobre aprender a valorizar cada fase da nossa existência. Ideal para ouvir com os bons amigos em torno de uma fogueira, mas se não der, apenas uma boa companhia e bons drinks resolvem.

“Mood Ring” surgiu três dias antes do lançamento do álbum e foi uma confirmação: Ella embarcou no pop acústico dos anos 2000 em uma letra satírica criticando o misticismo controverso, a cultura do bem-estar e práticas pseudo-espiritualistas em que muitos tentam encaixar em suas vidas.

“Solar Power” – O álbum

“The Path” inicia em um instrumental que contempla sua crise e narra a triste jornada a respeito de uma adolescência sob os holofotes. Depois de tempos difíceis, busca o novo caminho na natureza (“Let’s hope the Sun will show us the path” / “Vamos torcer para que o sol nos mostre o caminho”).
Ao referenciar o filme do Tarantino “Era Uma Vez Em Hollywood” nos versos iniciais bem como Carole King entregar o Grammy para Ella indica os rumos da música: o rompimento entre Lorde e a cidade que acolheu, personificando a costa dourada. Ao mesmo tempo que tem sonoridade litorânea e valoriza a praia em sua terra natal, desdenha e se despede das ilusões da costa oeste em “California”.

O devaneio psicodélico melancólico de “Fallen Fruit” ganha força nas vozes reverberadas. O bip insistente e sutil ao fundo com o cenário das frutas caídas retratam um futuro ainda incerto sobre nossa existência e tentativa de ajudar o planeta.

Lorde Solar Power | Foto: Divulgação

“Secrets of A Girl (Who’s Seens It All)” é uma resposta para “Ribs”, orientando em relação a viagem curiosa que é a vida. A garota que já viu de tudo conta seu segredo ao final através de uma comissária de bordo dando instruções curiosas sobre bagagem emocional e ficar a vontade no destino final (seja ele qual for). “The Man With the Axe” é um desabafo por ter sua genialidade questionada e se questionar também, além de cantar suas dores e a ansiedade que toma conta antes de grandes eventos.

“Dominoes” soa como uma música demo. Cita os recomeços e reconstruções de gostos e hábitos de uma pessoa que ainda não formou quem realmente é, sempre reinventando e experimentando rumos diferentes em uma jornada inacabada.

Pessimismo alegre

“Big Star” traz uma melodia lenta e apresenta uma analogia sobre seu cachorro Pearl que “virou estrelinha” em 2019. A canção melancólica o personifica como um amigo mais extrovertido que a cantora. “Leader of A New Regime” é a mais curta do álbum e provoca a quebrar o ciclo de paranoia e esgotamento psicológico das redes sociais e viver a vida fora da internet. Aparentemente ainda não temos pessoas o suficiente ou “influencers” divulgando sobre os benefícios desse estilo de vida “alternativo” em um mundo conectado.

“Oceanic Blue” possui uma linha de baixo marcante e expurga um fluxo de pensamento sobre sua ancestralidade. O futuro e o passado conversam em mais um fluxo de pensamentos sobre a felicidade que podemos alcançar de formas diferentes. Abandona na gaveta aquela Ella que usava “cherry black lipstick / batom cereja” ao sintonizar e respirar novos ares.

A reflexão de dizer tudo e nada resultou no “Solar Power”, que ao dividir as críticas, mostra a verdadeira genialidade do que apresentou. Bowie não estava errado, apenas a controvérsia do projeto mostra que Ella provocou uma reflexão e fez as pessoas ouvirem sua obra. O rumo instrumental não esperado chocou os que esperam tendências, apesar de trazer um pouco dos anos 90, mas não do jeito que ouvimos atualmente. Talvez muitos de nós ainda não conseguimos atravessar o oceano de incertezas para chegar no “peaceful state of mind” que Lorde nos propõe, mais preocupados com aquilo que nos conecta e nos é comum, a natureza. Em tempos melhores, desfrutaremos do nosso planeta e sintonizaremos com o mundo lá fora em uma vida levemente menos online com as companhias de quem amamos ou passaremos a amar nessa nova fase.

Lorde Solar Power Lorde Solar Power Lorde Solar Power

5/5
Total Score
Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Related Posts