Normandie reflete sobre problemas internos em seu intimista novo disco, “Dark & Beautiful Secrets”

Muitas bandas da nova geração demoram um pouco mais para encontrar seu som autêntico e essencial. Para algumas, esse é um processo que se desenvolve com maior tranquilidade, para outras nem tanto. Um grupo que demorou exatos três discos para realmente entender o que gostariam de produzir, de maneira até mais madura, foram os suecos do Normandie. Isso não quer dizer que os dois primeiros trabalhos foram fracos, muito pelo contrário, mas o contexto atual da banda é, claramente, o mais consistente e reflexivo, não só para eles, mas para quem escuta.

Neste dia 19 de fevereiro de 2021, o grupo lançou seu tão aguardado terceiro disco, Dark & Beautiful Secrets, sucessor do excelente “White Flag” de 2018. Muito além de dançante e veloz em praticamente todo seu percurso, o novo trabalho dos suecos se destaca pelas letras de muita reflexão sobre todos os problemas internos no ser humano, como ansiedade e autoexpressão, tudo partindo da ótica e vivências de Philip Strand, líder do grupo. Para os que não estão habituados, trata-se de uma banda com foco em vertentes do metal, como post-hardcore, que embarcou em uma cena mais alternativa do rock, que tornam seu contexto atual bem acessível para quem escuta.

Faixa a faixa

O álbum se inicia com “Babylon“, que de cara já pergunta ao ouvinte, de uma maneira enérgica, com riffs simples e efetivos, se ele vai até ao fim com a banda, independente do que aconteça. É uma faixa que chama atenção logo de início. Em seguida, uma das melhores músicas de toda a discografia entra em ação. “Hostage” tem um arranjo simples, mas um refrão simplesmente poderoso, carregado de muito sentimento na voz de Strand, que te faz cantar o mais alto possível. As letras aqui são fortes, com o vocalista baseando ela em sua experiência com ansiedade aos 22 anos, onde ele acabou se tornando “refém” (Hostage) disso. Ao longo do álbum, o cantor realmente trouxe líricas fortíssimas a mesa.

Uma verdade tem que ser dita: a primeira metade do álbum é a grande razão do seu sucesso. Na terceira faixa, “Jericho” tem uma produção e composição parecida com as outras, mas um refrão mais “pesado” e agressivo, em um riff até mais progressivo. Destaca-se, mais uma vez, Strand se entregando bastante. Depois, “Holy Water” é um grande exemplo dessa evolução no som da banda, com beats e “sons” que podem parecer estranhos, mas logo entram em um caminho certeiro. Aqui, a guitarra fica “a parte” em determinados momentos da música, inclusive. As letras são importantes de se destacar, pois fazem reflexão a um momento importante na vida de Strand, quando o vocalista deixou a igreja para tentar se descobrir.

Missing Control” é o primeiro “não-single” divulgado pela banda e nos mostra a vibe mais “pop” da banda, com uso de sintetizadores na primeira parte da música, mas logo encontrando um riff pesado, que lembra até Muse. É uma faixa que alterna algo mais “rádio”, com o eletrônico típico do Normandie. Música excelente, que chama muita atenção pela belíssima forma como é conduzida. Alegra os fãs dos primeiros trabalhos e os atuais. Depois, “Bury Me Alive” traz questões religiosas (ou contra, no caso) a mesa, em uma faixa boa, mas que parece um pouco bagunçada em certos momentos.

Chegamos, agora, em “Atmosphere“, canção mais linda em termos “calmos” de todo o disco, que não conta com guitarra, apenas elementos eletrônicos, um lindo piano e a bateria, que te levam a um universo que reflete sobre ansiedade e solidão. É verdade até que é uma música que poderia até estar no último disco do Linkin Park por toda sua leveza. É uma “calmaria” durante tanta energia. Porém, em seguida, “Thrown in the Gutter” é para acordar qualquer fã mais “xiita” dos caras, com um riff pesado e barulhento logo de cara. Típica canção que, tranquilamente, estaria no penúltimo álbum da banda.

Para finalizar com chave de ouro, mais duas excelentes faixas. Começamos com “Renegade“, mais uma faixa com toques religiosos e que também resume bem o atual momento do Normandie, com uma primeira parte de vocais velozes e riff simples, mas que logo entra num refrão forte e um riff pesado. Quem não está habituado, Normandie é uma banda que entrega muita coisa para você engolir ao mesmo tempo, mas de maneira organizada. Depois, “Chemicals” diminui um pouco o ritmo e fala sobre amor, porque nada melhor que terminar de maneira romântica. Não é leve como “Atmosphere”, mas tem toda uma vibe gostosa, com foco nos vocais de Strand e backings também.

Normandie
Foto: Divulgação/Normandie

Ele é dançante, pop, interessante, intimista, reflexivo e tem momentos pesados. O Normandie criou um disco onde o ouvinte escuta de tudo e pede por mais, sem sombra de dúvidas. Quando você piscar, ele já vai ter terminado. As letras são de pesar na mente e coração, principalmente por serem frutos de acontecimentos reais na vida do vocalista Philip Strand, ou seja, te fazem pensar. É uma mistura de metal alternativo com vertentes eletrônicas e do pop também, ou seja, agrada qualquer um pela sua versatilidade.

Como dito no início, os suecos parecem ter encontrado sem som perfeito e único. Os instrumentos não são os mais complexos do mundo, mas são sinceros e muito efetivos para criar uma atmosfera gostosa e dançante. Os vocais são de um nível único com Strand, que a cada música parece ficar ainda melhor. Resumindo: se você conhece o Normandie, com certeza está muito orgulhoso com este grande trabalho. Se não conhece, tenho certeza que vai atrás de saber mais e mais sobre os caras.

NOTA: 9.5/10

Faixas destaque: “Hostage”, “Holy Water”, “Thrown in the Gutter” e “Renegade”

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