Year of the Knife amplia musicalidade sem abandonar suas raízes

“Internal Incarceration”, debut do Year of the Knife, esgota sua fórmula antes de se apresentar por completo, mas lida com temas relevantes sem cair na redundância

2020 tem sido um período prolífico e com bons frutos para o cenário do hardcore. No começo do ano tivemos o experimentalismo de Code Orange, em Underneath, logo em seguida recebemos os gigantes do August Burns Red, com Guardians. Houve também a surpresa do supergrupo END, no Splinters from an Ever-Changing Face e o elogiadíssimo Cannibal, de Bury Tomorrow. Em meio a tudo isso, Year of The Knife anunciou que se juntou a um dos maiores produtores do gênero, Kurt Ballou, e estão prontos para lançar seu primeiro disco.

Em 2019, Year of The Knife lançou um LP que compilava os formatos estendidos, os EPs, produzidos anteriormente, dessa forma, emergiram no cenário do metalcore produzindo um som que remete ao novo rumo do beatdown, com uma identidade própria destacando-se do restante. Neste ano, lançaram Internal Incarceration, no dia 7 de agosto, com 13 faixas novas.

Imagem: Capa do álbum “Internal Incarceration”

O disco começa com “This Time” que não desperdiça nenhum segundo em demonstrar o propósito da banda. A música começa com um groove agressivo e em seguida desacelera para desenvolver o build-up em um riff de slam, semelhante ao que Knocked Loose fez em A Different Shade of Blue.

A partir daí o disco não para e o ouvinte tem pouco tempo para respirar, tornando notável que o álbum seria beneficiado com uma mudança de ritmo para deixar as coisas esfriarem por alguns minutos.

A próxima música, “Virtual Narcotic”, lançada como single, demonstra que os estadunidenses ampliaram a gama de influências, como o death metal, o que se torna ainda mais evidente em “Manipulation Artist”, também lançada como single, uma das mais variadas do álbum, que caminha pelo death, hardcore e em seguida traz uma passagem que é puro punk.

Também é notável como o refrão de cada música é energético, fazendo com que você se flagre repetindo-o durante as primeiras vezes que ouve cada música. Os melhores exemplos são as faixas “Stay Away”, “Premonitions of You” e “Manipulation Artist”. Dá para imaginar um show com todo o mosh gritando as letras em uníssono.

Na segunda metade do disco temos “Eviction”, que produz uma maior versatilidade vocal, apesar do instrumental se manter o mesmo, atinge-se uma sonoridade semelhante ao black metal, trazendo um frescor ao som.

A produção é um ponto alto do disco. Ao escutar “Virtual Narcotic” pela primeira vez o que vem imediatamente à cabeça é o disco Resurrection Through Carnage, do Bloodbath, onde a sonoridade da guitarra é tão distorcida que mais parece uma arma de ataque do que um instrumento musical. Isso adiciona uma agressividade muito palpável ao som. Também há um destaque para os vocais, que além de demonstrarem uma boa variedade de técnicas, mantém-se na mesma tonalidade do restante dos instrumentos, dando espaço para todos os membros trabalharem em conjunto.

As letras abordam o luto, a depressão e os vícios mais diversos, refletindo e conversando diretamente com a realidade pandêmica que vivemos. Foi nesse período que houve um aumento de 38% na venda de bebidas alcoólicas no mês de maio, segundo a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, e um estudo da Pine Rest Christian Mental Health Services concluiu que a taxa de suicídio elevou-se em 32%.

Foto: Tyler Mullen / Hayley Fearnley

O disco é curto, com quase 32 minutos de duração. Algo surpreendente são quantas influências aparecem nas músicas que dificilmente ultrapassam três minutos, mas, ao mesmo tempo, as mesmas seguem um modus operandi muito semelhante, fazendo com que elas não se diferenciem umas das outras, já que seguem o padrão verso e refrão, intercalado com breakdowns. A primeira metade do disco soa melhor do que a segunda, já que a fórmula fica batida após as sete primeiras faixas.

O resultado final é positivo. Internal Incarceration é um disco que apesar de esgotar sua fórmula antes de se apresentar por completo, lida com temas relevantes sem cair na redundância, contando com ótimos riffs, um instrumental impecável e uma performance vocal que lidera, não só a banda, mas convida uma multidão a cantar junto e se empolgar em cada letra.

7/10

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