Após três anos do lançamento de seu primeiro álbum, I Love My Mom, Indigo de Souza nos surpreende com um trabalho impecável ao nos apresentar seu novo disco, Any Shape You Take. O nome já diz tudo, sem abandonar o mix de sonoridade entre neo-soul, indie rock e pop, e expressando com muita transparência seus sentimentos mais profundos, Indigo não tem medo de experimentar e se arriscar, trazendo diversos formatos, gêneros e muita honestidade através de suas músicas.
Ao escutar esse trabalho você vai embarcar em uma verdadeira jornada, experienciando todas as emoções de Indigo no decorrer das melodias e harmonias que se completam perfeitamente. Amor, raiva, medo, angústia, tristeza, solidão, felicidade, ansiedade, desejo, excitação. Com certeza é possível sentir todas as 27 emoções nessa montanha-russa de comoções que ela tem a coragem de compartilhar e nos dá o privilégio de vivenciar.
Após lançar os 3 primeiros singles, “Kill Me“, “Hold U” e “Real Pain“, Any Shape You Take chega confirmando o que já estávamos sentindo ao escutá-los: Indigo não se prende a estilos musicais e não possui receio em assumir sua vulnerabilidade, detém uma intensa liberdade de permitir suas músicas alcançarem diferentes formatos.
No contato com a primeira faixa do álbum, 17, Indigo inicia sua narrativa com experimentações nas vozes acompanhadas de timbres leves de sintetizadores. Com a segunda faixa já escutamos o primeiro contraste, em Darken Than Death, com a bateria mais marcada, guitarras com distorções e palavras pesadas. Ao longo do álbum encontramos diversas oposições, remetendo à grande contradição, que nós, seres humanos, vivemos constantemente.
Em entrevista exclusiva ao ROCKNBOLD, Indigo de Souza mostra sua gratidão em fazer parte da gravadora Saddle Creek, revela detalhes do seu processo criativo de composição e comenta suas raízes, inclusive brasileiras! O ponto de destaque é sua integridade, a qual é sempre respeitada, tanto em suas produções, quanto em suas palavras.
NÁDYA (ROCKNBOLD): Primeiro quero perguntar um pouco sobre o seu background. Eu sei que sua mãe te incentivou muito para você começar a compor, e o seu pai é um músico brasileiro… Isso teve um impacto na sua jornada musical? Seu primeiro álbum “I Love My Mom” foi uma carta de amor dedicada à sua mãe?
INDIGO DE SOUZA: Metade da minha família mora em Vitória no Espírito Santo e meu pai é um guitarrista de Bossa Nova, mas não acredito que ele tenha sido uma influência no meu trabalho porque ele esteve ausente a maior parte do tempo em minha vida. Mas eu tenho vídeos de quando eu era pequena e ele estava tocando violão para mim, então eu gosto de pensar que ele indicou algo dessa forma. E sim, minha mãe é uma artista vibrante e maravilhosa, principalmente com arte visual, e eu escolhi esse nome ao álbum como uma dedicatória sim, mas também para simbolizar a mortalidade dos pais. Minha mãe vem como um símbolo no meu trabalho para destacar a mortalidade, especialmente pois eu penso de uma maneira pesada sobre a morte das pessoas amadas e é algo que sempre fica aparecendo em minha vida, e na vida de todos, que temos que enfrentar luto, perda… então por isso esse nome.
NÁDYA (ROCKNBOLD): Falando agora do novo álbum “Any Shape You Take” que foi lançado dia 27 de agosto! Quais são suas expectativas dessa nova fase, principalmente agora fazendo parte da gravadora Saddle Creek? Você sempre teve como objetivo produzir esse tipo de música, um mix de neo-soul, pop e indie rock? Ou aconteceu naturalmente?
INDIGO DE SOUZA: Com certeza aconteceu naturalmente, é muito inexplicável para mim as diferentes formas que minha música tomou, porque é algo muito natural que ocorre de um jeito livre e com um certo mistério para mim. Eu amo fazer música, é muito divertido, eu tento me expressar da maneira mais verdadeira possível. Eu estou muito empolgada sobre o futuro da minha carreira, eu trabalhei minha vida inteira para conseguir fazer música e não ter que fazer outras coisas como trabalho, porque eu sempre senti que era isso que eu queria fazer com a minha vida. Então me sinto muito bem ao perceber que outras pessoas reconhecem isso e me dão a oportunidade de fazer isso.
NÁDYA (ROCKNBOLD): E o primeiro single que você lançou, “Kill Me”, foi relacionado à uma experiência específica de relacionamento romântico que você viveu anteriormente? Sobre amar uma pessoa mas ao mesmo tempo viver com uma dor que você não consegue fugir? Para mim, eu senti que você estava tentando se livrar disso durante essa música e no final você de fato consegue e está livre. O que te inspirou a compor essa faixa?
INDIGO DE SOUZA: Sim, isso foi muito perspicaz, você acertou no ponto. Eu acho que escrevi essa música em um período muito tenebroso quando estava em um relacionamento longo e pesado, com muito amor mas muita disfunção, e difícil de se desconectar. Quando eu compus essa música eu acho que foi mais meu subconsciente porque eu na verdade não lembro desse período, eu achei um vídeo meu cantando essa música alguns anos depois e aí escrevi a letra e gravei para esse álbum. Mas sim, vem de um período escuro e pesado.
NÁDYA (ROCKNBOLD): Agora falando de “Hold U”, minha favorita, é uma música que remete tanto ao amor e à felicidade. Me lembrou o último álbum do Paramore, “After Laughter”, pela vibe dançante. Como você chegou à essa música? Quais são suas maiores influências por trás da produção de “Any Shape You Take”?
INDIGO DE SOUZA: Eu nunca sei como responder as perguntas sobre influências porque a ideia de influência vem de pegar alguma referência da produção de outras músicas e outros álbuns que eu tenha escutado. E eu realmente não consigo me identificar com isso, porque especialmente quando estou gravando um álbum, eu não escuto nenhuma outra música ou tento me inspirar em outros mundos musicais. Eu foco em tentar criar um cenário, e permitir o meu cérebro e minhas emoções se transformarem.
NÁDYA (ROCKNBOLD): Eu amei o videoclipe de “Hold U”. Transmite uma sensação tão boa ao assistir, de ser livre e se soltar! Qual foi a ideia por trás desse clipe?
INDIGO DE SOUZA: Eu tenho uma comunidade muito bonita a minha volta onde eu vivo hoje, e as pessoas são muito solidárias uma com as outras, e elas realmente celebram os corpos e vidas uma das outras e sustentam um lugar para as emoções e um espaço para todos se expressarem de um jeito honesto, sem julgamento e competição. Então eu acho que quis destacar esse aspecto da comunidade e o quão especial é isso. A música pareceu um reflexo de um amor simples e sem barreiras.
NÁDYA (ROCKNBOLD): Seu último single, “Real Pain”, parece uma montanha-russa de emoções. Você consegue experienciar isso ao ouvir, não apenas com sua voz, mas com o instrumental que acompanha. O que te ajudou durante o processo criativo dessa música, quais foram as inspirações? A parte na qual você grita já estava na sua cabeça quando você estava compondo a música?
INDIGO DE SOUZA: Eu acho que aconteceu depois, é difícil de lembrar. Porque eu lembro de estar escrevendo a primeira parte da música e ficar pensando o que aconteceria depois, acho que a ideia de gritar surgiu nesse tempo. Sim, a música surgiu como a ideia de uma jornada que eu queria levar o ouvinte ao invés de ser apenas uma música. Eu imaginei com diferentes camadas e energias e como eu queria transmitir algo verdadeiramente honesto e real para algo sombrio e pesado e depois em algo feliz e leve no final. Foi muito especial receber a gravação das pessoas, especialmente durante a pandemia, porque foram gravações pesadas de pessoas que estavam tristes e algumas que estavam felizes. Juntá-las em uma sessão do meio termo foi muito especial.
NÁDYA (ROCKNBOLD): Você irá iniciar uma turnê no fim do mês! Saindo de uma pandemia, como você sente que isso impactou a sua vida, tanto como artista quanto como ser humano? O que mudou para você? Quais são suas expectativas sobre as performances?
INDIGO DE SOUZA: Musicalmente foi muito estranho ver a indústria musical indo para baixo para pessoas que não conseguiam lançar o quanto estavam acostumadas ou saírem em turnê, e fazer as coisas que as sustentavam e permitiam o dinheiro para a sobrevivência. Mas pessoalmente a pandemia me deu a oportunidade de desacelerar e me manter mais pé no chão e conectada à minha comunidade e focar nas minhas composições e em mim por conta do isolamento. Tem sido muito triste e pesado, foi também um expurgo, como um novo começo. E eu me senti inspirada ao ver as pessoas se unindo e cuidando uma das outras.
Eu espero por confusão, muitas pessoas não sabem como se comportar com as performances voltando. Eu estou só seguindo o fluxo, eu quero que as pessoas estejam seguras e quero que elas tenham a oportunidade de experienciar a música de novo, porque eu sei que é uma espécie de cura para as pessoas e é importante. Eu sei que os shows vão ser diferentes todos terão que usar máscara, ou serem vacinados e testados, mas pelo menos teremos a oportunidade de estarmos juntos de novo.
NÁDYA (ROCKNBOLD): E além do álbum e da turnê, quais são os planos futuros para a sua carreira?
INDIGO DE SOUZA: Eu não sei… vai acontecer o que tiver que acontecer. Eu vou apenas continuar fazendo música e ser honesta com minhas palavras, minha vida e esperar que coisas boas cheguem, mas sim, não tenho previsões.
NÁDYA (ROCKNBOLD): Agora se tiver algo para falar aos seus ouvintes brasileiros, essa é a hora!
INDIGO DE SOUZA: Obrigada por escutar e estou enviando muito amor a todos vocês! Eu sei que tem sido um tempo muito difícil no mundo, especialmente no Brasil. Meu coração está com todos por aí. Também quero dar um oi para a minha família, se alguém ler isso, eu amo muito vocês.