Na estrada desde 1994, o Muse se consagrou no rock alternativo ao longo dos anos 2000, fortemente inspirados pelo pós-grunge de bandas como Nirvana, Radiohead, além de influências do rock clássico, alternativo e da música eletrônica.
Em quase 30 anos de carreira, a discografia do trio de Teignmouth é marcada por sons impactantes, riffs grandiosos, performances megalomaníacas, renovações, experimentações, e naturalmente, acertos e erros segundo a ótica dos fãs. Pensando nisso, o ROCKNBOLD decidiu rankear toda a discografia da banda do pior ao melhor álbum.
8 – The 2nd Law (2012)
Lançado há quase dez anos, The 2nd Law é considerado o auge do experimentalismo na discografia dos britânicos do Muse. O álbum reúne boas canções energéticas, cheias de riffs e falsetes, considerados a marca registrada da banda, como ‘Supremacy‘ e ‘Survival‘, mas também mergulha de cabeça em influências do pop e synth-pop em diversas faixas, tais quais ‘Madness‘, ‘Follow Me‘, ‘The 2nd Law: ‘Unsustainable’, e na divertida ‘Panic Station‘. O álbum ainda é marcado por canções mais amenas e carismáticas – esquecíveis, diga-se de passagem -, e por ser o único com duas faixas não interpretadas pelo vocalista Matt Bellamy. Em ‘Liquid State‘ e ‘Save Me‘ o baixista Chris Wolstenholme assume os vocais em duas propostas ousadas que arriscam em energia e carisma.
O fato de ter duas canções cantadas pelo baixista já fala muito sobre o experimentalismo e riscos que The 2nd Law assumiu desde a sua concepção. Para muitos, o álbum é encarado como uma aposta pouco consistente onde as canções não conversam entre si. Sendo verdade ou não, é inegável que o disco tentou construir um som mais comercial na tentativa de aproximar a banda a ainda mais do mainstream e dos grandes estádios mundiais. Para bem ou mal, The 2nd Law não é necessariamente feito de canções ruins, mas com certeza marcado por composições esquecíveis e desconexas entre si.
7 – Simulation Theory (2018)
Se The 2nd Law trouxe ao Muse a experimentação de algo dentro do pop, Simulation Theory permitiu que o trio mergulhasse de cabeça em sintetizadores esamples eletrônicos em uma experiência completamente temática. Isso porque o álbum traz um conceito retrofuturista que explora a hipótese da simulação digital, revolução e revolta cibernética e ficção científica. O disco é um prato cheio para qualquer fã de aventuras como “De Volta Para o Futuro”, ou qualquer outra ficção de viagem no tempo-espaço que flerte com tecnologia.
Musicalmente falando, Simulation Theory é um álbum bem construído, conciso e dramático no universo e história que se propõe a criar, com boas canções impregnadas de riffs e sintetizadores, como ‘Pressure‘, ‘Blockades‘ e ‘Algorithm‘, mas isso não o exime de ser cansativo. Apesar da sonoridade mais dançante ser muito explorada, a ponto das canções não serem necessariamente semelhantes, algumas canções pecam pelos excessos, tal como ‘Break It to Me‘, a cansativa ‘Thought Contagion‘, e as esquecíveis ‘Get up and Fight‘ e ‘Dig Down‘. No fim das contas, Simulation Theory se revela um disco divertido por seu universo ficcional e a experiência “synth-wave” proporcionada ao ouvinte em si, agrada os fãs do experimentalismo e do som imersivo de sintetizadores, mas se consagra mais por seus erros do que acertos.
6 – Drones (2015)
Drones, de 2015, se consagrou na discografia do Muse como a tentativa válida, porém falha, de retomar às origens da banda com um som mais encorpado, pesado e com influências do pós-grunge que consagrou os primeiros álbuns da carreira. O chute do álbum em si bateu na trave, mas a tentativa rendeu boas canções marcantes como a energética ‘Psycho‘, o melhor lead single da banda em muito tempo. Sendo honesta em uma avaliação moderada, o disco tem mais acertos do que erros. Seu conceito que busca questionar a violência e formas tecnológicas de guerra rendeu canções incríveis como ‘Reapers‘, ‘The Handler‘ e ‘Defector‘, nas quais os riffs de guitarra brilham longe do pop dos álbuns antecessor e sucessor.
O disco ainda traz a curiosa e complexa ‘The Globalist‘, dita pela banda como uma sucessora de ‘Citizen Erased’, e a carismática ‘Aftermath‘, mas na memória dos fãs, é principalmente lembrado pelas fracas e esquecíveis ‘Revolt‘ e ‘Drones‘. Em resumo, o sétimo disco do trio britânico não é exatamente ruim. Tem boas faixas e uma produção que torna a maioria delas energética e grandiosa, mas Drones peca ao ser prometido como um álbum revolucionário que traria a banda novamente à sonoridade que consagrou seus três primeiros e melhores discos. De uma perspectiva técnica, seu som traz a ponte perfeita entre o clássico e o moderno, mas ainda é lembrado no geral uma série de por faixas medianas.
5 – Showbiz (1999)
O primeiro álbum da banda, Showbiz, lançado em 1999, traz um som refinado, intenso e melancólico, influenciado fortemente pelo pós-grunge de bandas como Nirvana, Rage Against the Machine, U2 e Radiohead, banda a qual o trio foi fortemente comparada no início de sua carreira. Embora Matt Bellamy já tenha anteriormente também admitido inspiração de bandas clássicas do pop e rock, como Depeche Mode e Queen, o som pesado de canções como ‘Muscle Museum‘, ‘Escape‘, ‘Sunburn‘ e ‘Showbiz‘ demonstrava um Muse ainda inseguro para experimentar, e por isso mais “dentro da linha” do rock.
Embora muitas vezes esquecido pelos fãs, Showbiz é, sem dúvidas, um álbum que chegou com os dois pés na porta, mostrou ao mundo ao que o Muse veio, e do que ele viria a ser capaz. O disco traz canções que são pedradas atrás de pedradas, usando e abusando de riffs e falsetes que mais tarde se tornaram a marca registrada de Bellamy como frontman. Entre canções tristes e energéticas em uma sonoridade crua, os novatos do rock não pouparam energia no uso de pianos em arranjos bem elaborados e complexos, consagrando o disco como um dos mais bem compostos e produzidos instrumentalmente em toda a discografia do trio.
4 – Black Holes and Revelations (2006)
Consagrado como um dos álbuns mais completos e carismáticos do Muse, Black Holes and Revelations, de 2006, é marcado por hits que passeiam entre riffs pesados, sintetizadores e composições líricas capazes de unir multidões cantando em coro, como a apaixonante ‘Starlight‘ e a poderosa ‘Knights of Cydonia‘. Este disco também abriga a icônica ‘Supermassive Black Hole‘, que apesar de ser uma faixa sensual e dançante por si só, ganhou ainda mais notoriedade por ser parte da trilha sonora do filme “Crepúsculo”. Hits a parte, o disco também é visto como um verdadeiro divisor de águas entre o velho e novo testamento do Muse. Apesar das composições grandiosas e riffs de tirar o fôlego ainda estarem presentes e em peso, o álbum é o primeiro passo do trio em direção à um som mais maleável.
Black Holes and Revelations tem, sem sombra de dúvidas, mais acertos do que erros, e se demonstra um álbum envelhecido como o mais refinado vinho, ainda sim, os maiores tesouros deste álbum estão longe da superfície de hits. ‘Assassin‘, por exemplo, demonstra continuidade em relação às faixas bem elaboradas e completas apresentadas nos primeiros discos da carreira, já ‘Exo-politics‘ explora um lado mais dançante e descontraído da banda, sem necessariamente mergulhar no pop, bem como ‘City of Delusion‘, que somada à ‘Knights of Cydonia’, reforça a ambientação “faroéstica”, épica e megalomaníaca na qual o disco se estabelece.
3 – The Resistance (2009)
Inspirado no livro 1984, de George Orwell, The Resistance, de 2009, marca uma das melhores e mais sólidas fases do Muse, que após os quatro primeiros álbuns, já havia conquistado seu lugar ao sol tanto no rock moderno, na música, e em estádios internacionais. O disco mantém o som grandioso e energético construído ao longo da breve carreira até o ano de 2009 e reflete críticas modernas e políticas já conhecidas do álbum anterior, bem como a luta pela liberdade construída por Orwell em sua obra. Em uma tentativa de inovação e epifania contemporânea, o álbum ainda traz uma sinfonia de três partes que destaca o álbum como um terreno fértil para a experimentação de Bellamy, e consagra o disco como um verdadeiro novo clássico. The Resistance é também o álbum onde a banda também decidiu explorar sintetizadores e efeitos eletrônicos de forma mais explícita, tornando o som um tanto quanto moderno em relação a seus antecessores.
Entre greatest hits, sonoridade épica, e muito experimentalismo, o disco mantém o forte uso do piano em suas composições e se demonstra um ponto de encontro e inspiração entre o passado e futuro, especialmente em influências clássicas e modernas em faixas como ‘Guiding Light‘ e ‘United States of Eurasia‘, canção que escancara referência sinfônica à banda Queen e emenda ‘Collateral Damage‘, do pianista Frédéric Chopin. Hits como ‘Uprising‘ e ‘Undisclosed Desires‘ dispensam comentários, e até mesmo as canções impregnadas de efeitos eletrônicos como ‘Unnatural Selection‘ e ‘MK Ultra‘ soam grandiosas e autênticas antes de coroar o álbum com as três emblemáticas partes de ‘Exogenesis Symphony‘.
2 – Origin of Symmetry (2001)
Sendo um dos álbuns favoritos do fãs, Origin of Symmetry, de 2001, traz um Muse arrebatador e decidido a surpreender logo no segundo trabalho de sua carreira. Com canções fortes e poderosas, o disco marca a fase mais criativa e megalomaníaca do trio, que sem medo de experimentar, arriscou em influências psicodélicas, ultrapassando as barreiras do genial e atingindo o massivo – chegando ao cansativo em alguns aspectos. O álbum é marcado por riffs estridentes e afiados em quase todas as canções, mas também destaca o altíssimo desempenho e ambição vocal de Bellamy em agudos e falsetes surpreendentes, que repetidas vezes se misturam com a atmosfera apocalíptica e caótica do instrumental.
O disco abriga duas das melhores canções da banda, ‘New Born‘ e ‘Citizen Erased‘, que dispensam adjetivos pela genialidade e complexidade de suas composições e instrumental. Este álbum também carrega canções capazes de causar estranhamento nos ouvidos mais sensíveis, como ‘Space Dementia‘, ‘Micro Cuts‘ e a própria ‘Megalomania‘, que alterna a grandiosidade de órgão com samples eletrônicos em um som surpreendentemente único e complexo. Longe de ser um álbum ruim, Origin of Symmetry é um álbum extremamente intenso, eufórico e grandioso. Apesar de genial, a falta de um respiro entre as faixas resulta em uma quase epifania sonora. O que é uma faixa de destaque em um álbum onde todas as canções são exageradamente épicas à exaustão criativa?
1 – Absolution (2003)
O disco favorito de 4 em cada 10 fãs se destaca como o mais sólido e completo do trio britânico. Absolution não é tão psicodélico ou experimental quanto Origin of Symmetry, não traz tantos falsettos estridentes de Bellamy, mas se apresenta como o equilíbrio perfeito da banda ao reunir seus pontos mais fortes: boas composições líricas, sonoridade ambiciosa, instrumentais intensos, energéticos e variados. É como se o Muse tivesse reunido tudo o que aprendeu desde o lançamento de Showbiz, em 1999, para executar o som épico, complexo e polido que sempre buscou produzir em meio à riffs fortes e acordes carismáticos de piano. O resultado é um álbum grandioso da banda em sua melhor fase, e que alterna seu som entre momentos de caos, melancolia, fúria e energia.
Há quem acredite que o terceiro álbum de uma banda é sempre o mais desafiador, e nesse caso, o Muse transformou o desafio em oportunidade para mostrar ao que veio. O lirismo de Bellamy ainda era inspirado pela complexidade política, caos da globalização e seus conflitos, realidades utópicas, revolta, temores e violência. A criatividade, voz, e até mesmo a disposição de Matt Bellamy parecia estar em seu melhor momento, e isso reflete na atmosfera arrebatadora de faixas como ‘Apocalypse Please‘, ‘Sing for Absolution’ e ‘Butterflies and Hurricanes‘. Até mesmo faixas mais ‘esquecidas’ como ‘The Small Print‘ e ‘Thoughts of a Dying Atheist‘ soam épicas. Entre momentos intensos, mornos e depressivos, o disco extravasa o ápice de toda a genialidade e confusão criativa da banda, e canaliza tudo isso em um disco conciso e grandioso do início ao fim.