Gorillaz, Rüfüs du Sol, Two Door Cinema Club e lineup de peso aqueceram o Brasil no MITA

Evento estreia em São Paulo com grandes nomes da música e cobertura do ROCKNBOLD.

Por Júlia Campos e Nádya Duarte

O Music Is The Answer Festival (ou só MITA) teve sua primeira edição em terras paulistas no final de semana dos dias 14 e 15 de maio, na Spark Arena, um espaço novo criado para grandes eventos na Vila Leopoldina. 

Com um lineup de peso e a premissa de oferecer uma experiência que só um festival “pequeno” pode fazer, o MITA certamente já entrou no calendário de festivais em São Paulo. Então, para você que não pode comparecer ou quer saber como foi essa primeira edição do festival, o ROCKNBOLD esteve lá e fez uma cobertura de tudo o que rolou. 

Dia 1

Ao chegar na Spark Arena, o público se depara com o Palco Villa Lobos, que recebeu os headliners do festival, e o Palco Deezer, que apesar de ser menor em tamanho, não devia nada para a estrutura do Villa Lobos. 

Além disso, haviam dois food parks, banheiros bem distribuídos, palcos bem posicionados, caixas ambulantes por todo o evento foram certamente um dos maiores acertos da produção, o que fez a experiência do primeiro dia do festival ser ótima. 

A cantora Day Limns abriu o festival sem medo de representar a cena emo com uma banda de peso a acompanhando: Gee Rocha, Vítor Peracetta e João Paulo dos Santos. Além de cantar e performar com muita energia suas músicas autorais, Day ainda cantou hits de sucessos de grandes artistas, como ‘Cedo ou Tarde’, do NxZero e fez um cover acústico de ‘Na Sua Estante’ de Pitty. Ao final do set, Lucas Silveira, vocalista da Fresno juntou-se à artista e juntos tocaram hits da banda, além de surpreender o público com um cover de ‘Helena’ de My Chemical Romance e finalizar com o single de Day, ‘Finais mentem’. 

Day Lims e Lucas Silveira no MITA Festival
Foto: ROCKNBOLD/Nádya Duarte

Xênia França inaugurou o palco Villa-Lobos com big band trazendo a MPB baiana em peso. Com vocais potentes, letras politizadas e muita força, a cantora performou os melhores hits com muita presença de palco e os músicos a acompanharam lindamente, promovendo um lindo espetáculo na tarde ensolarada do primeiro dia do festival. 

A introdução do rap nacional no festival ficou com Black Alien, que apresentou sucessos de seu último álbum, ‘Abaixo de Zero: Hello Hell’, lançado em 2019. O rapper mostra que não está confirmado em lineup de diversos festivais à toa, envolvendo o público e representando o rap nacional à altura dos artistas que viriam a seguir. Além das músicas recentes que contam com a produção do brilhante Papatinho, o rapper ainda performou grandes hits antigos, chegando em um ótimo setlist. 

A pŕoxima presença que iluminou o MITA com harmonias alegres e melodias sensíveis foi Luedji Luna e sua ótima banda de apoio que garantiu um toque especial à performance. A baiana apresentou quase todo seu último disco na íntegra, oferecendo ao público de maneira leve e cativante, além de contar com projeção no telão, que refletia o álbum visual que fora lançado junto de seu álbum, ‘Bom Mesmo é Estar Embaixo d’Água’ em 2020.  

Luedji Luna no MITA Festival
Foto: ROCKNBOLD/Nádya Duarte

Marina Sena demonstrou uma linda evolução ao se apresentar no MITA. Ao ver a apresentação da artista no Lollapalooza, é perceptível a leveza em sua performance, além de mais confiança no palco. No Lolla a cantora tocou seu hit, “Por Supuesto” três vezes, o que foi bem recebido pelo público, mas já no MITA era notável a confiança de Marina em não se sustentar no seu hit e performar mais músicas, sem repetir nenhuma conhecida. O palco ganha mais movimento com dançarinas e Marina as acompanha, mostrando carisma e autenticidade com um figurino belíssimo, com um verde brilhante que se destacava mesmo à distância. 

O grande Gilberto Gil esquentou o coração de todos na plateia. Ver o cantor com tanta energia e vitalidade com certeza promoveu um ar de alegria na atmosfera do festival. O show foi um grande espetáculo, com hits de todas as fases do músico tão emblemático na MPB. O artista ainda apresentou algumas canções com a participação da família: Bela Gil e Flor Gil. Foi uma performance para todos os gostos e muito family-friendly, já que não era incomum observar famílias com crianças na plateia. 

Gilberto Gil no MITA Festival
Foto: ROCKNBOLD/Nádya Duarte

A primeira apresentação internacional do festival foi Tom Misch, músico britânico que mistura diversos estilos como jazz, hip hop, disco e até harmonias que lembram a MPB. O destaque com certeza fica com o som impecável que o artista apresentou junto de sua banda, com uma performance muito bem feita, fazendo ainda mais admirável o trabalho do britânico que soava tão bem ao vivo quanto no estúdio. Misch entregou carisma, sendo super simpático com os fãs e parecia muito feliz ao se apresentar. 

E obviamente, o headliner do primeiro dia do MITA, o trio australiano Rüfüs Du Sol fez valer a expectativa criada pelo espetáculo visual e sonoro oferecido por eles para o público. Mesmo para quem não assistiu o show junto à multidão próxima do palco, era impossível se manter parado ou não ficar vidrado com os telões. Um destaque, sem dúvidas, é a presença etérea do vocalista/frontman Tyrone Lindqvist, a prova viva de que não é necessário lasers e acrobacias no palco para animar e manter a plateia engajada durante o show. 

Rüfüs Du Sol no MITA Festival no Brasil
Foto: ROCKNBOLD/Nádya Duarte

O show começou pontualmente às 20h e terminou às 22h. Perfeito para quem voltaria para casa de transporte público e só teria aquela oportunidade de ver o grupo. Duas horas de show não é algo comum em festivais e esse certamente é mais um acerto da produção. 

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Dia 2

Diferentemente do primeiro dia, onde se podia ver a Spark Arena cheia apenas à noite, ao chegar no festival por volta das 12h, o número de pessoas circulando por ali já era bem impressionante. Camisetas do Gorillaz e do Two Door Cinema Club eram bem comuns e frequentes de serem avistadas, mas mesmo estando mais cheio, o festival seguiu funcionando tão bem quanto o dia anterior.

O primeiro show visto pela equipe do ROCKNBOLD foi o do rapper Coruja BC1, que convidou Larissa Luz para o palco. Embora tenha sido bem no começo do dia, havia uma plateia considerável assistindo ao show e mesmo quem não cantava junto estava envolvido com a apresentação. A presença de palco de Coruja, somado ao excelente trabalho feito no álbum ‘Brasil Futurista’, lançado pelo artista em 2021, definitivamente fez com que chegar mais cedo ao festival valesse a pena.

Imediatamente após o fim do show do rapper, do outro lado da Spark Arena, Letrux começou sua apresentação – já com uma plateia considerável, diga-se de passagem – e fez o que sabe fazer de melhor: entreter o público colocando todo mundo para dançar. Passando por sucessos de seu primeiro álbum e hits mais recentes até o já esperado posicionamento político da artista, ela entregou um dos versos de ‘Que Estrago’. Um sucesso. 

Letrux no MITA Festival no Brasil
Foto: ROCKNBOLD/Nádya Duarte

Continuando com o clima de festa, o Heavy Baile mostrou a que veio e deu um gostinho do que é um baile funk para o público do MITA, que respondeu à altura. Com um setlist extenso, foi impossível não se render à energia de Mc Tchelinho e o belo beat envolvente do fundador do grupo, Leo Justi.

Liniker dispensa apresentações. Em turnê com seu álbum solo ‘Indigo Borboleta Anil’, a artista entregou tudo o que era esperado dela: uma banda impecável, uma performance intensa e um lugar cativo na memória de quem teve o prazer de ver o céu de São Paulo abrir e deixar o sol brilhar para uma das maiores vozes da nova MPB. 

Liniker
Foto: ROCKNBOLD/Nádya Duarte

Goste dele ou não, é inegável que Marcelo D2 sabe fazer um show. E mais do que isso, sabe oferecer um espetáculo. Lotando o Palco Deezer, o já muito experiente rapper começou a apresentação no MITA com ‘Qual É’, um dos maiores hits da carreira. Com um show bastante político e sem poupar críticas a quem quer que fosse, ele encerrou o show com clamor: ‘Desabafo’ foi ecoada em coro pelo público e apesar do teor pesado da maior parte do show, era impossível sair do palco sem sentir o sabor agridoce da esperança de um futuro melhor.

Enquanto o show de D2 foi pé no chão, o que o Two Door Cinema Club ofereceu foi quase uma hora e meia de fuga da realidade, colocando todo mundo para dançar com o seu excelente indie pop, muito bem executado pelo trio norte-irlandês. A ausência de Alex Trimble, vocalista da banda que não pôde viajar por questões médicas, embora tenha sido sentida, não foi prejudicada em nada, já que o substituto, David Clements, correspondeu à altura. 

Apesar da postura um pouco mais rígida do frontman no início do show, algumas músicas depois ele já estava mais solto e entregando uma performance mais teatral do que é o habitual da banda, o que de maneira alguma significa pior. A ausência de Trimble só reforça o quanto o grupo é excelente e sem dúvidas, a calor do público brasileiro foi grande responsável pelo sorriso no rosto do trio ao deixar o palco após tocar o hit ‘What You Know’. 

Two Door Cinema Clube no no MITA Festival no Brasil
Foto: ROCKNBOLD/Nádya Duarte

O show do fenômeno do trap Matuê foi exatamente como esperado: um sucesso. Mesmo com um setlist e tempo de palco mais curto do que os outros artistas que tocaram no mesmo dia, por mais longe que você estivesse do Palco Deezer, era impossível não sentir a vibração do grave e da plateia cantando os versos de seus inúmeros hits, entre eles ‘Máquina do Tempo’. 

A maior expectativa do festival era sem sombra de dúvidas a apresentação do Gorillaz e só uma palavra pode resumir o que Damon Albarn e companhia entregaram: um show. 

Com um público digno de Lollapalooza e uma animação que só se pode esperar dos brasileiros, é seguro dizer que o show entrou para a história. A apresentação deixou claro mais uma vez porquê o Gorillaz segue sendo relevante – e ainda atraindo um público jovem – mesmo com 24 anos de estrada. Albarn entregou carisma e retribuiu à altura a calorosidade dos brasileiros; indo para a plateia logo na primeira música do show, agradecendo em português e sendo adorável ao parecer surpreso com a plateia ensandecida cantando os maiores hits da banda em uníssono. 

Gorillaz no no MITA Festival no Brasil
Foto: ROCKNBOLD/Nádya Duarte

Embora seja impossível falar do grupo britânico sem rasgar elogios ao frontman, o sucesso da apresentação não se deve só a ele: desde as talentosíssimas backing vocals, o grupo de hip hop De La Soul que costuma acompanhar o Gorillaz em grandes apresentações e o exímio baixista Seye Adelekan que trabalha quase em simbiose com Damon Albarn. É uma combinação que eleva ainda mais a energia e qualidade artística que é sempre esperado do Gorillaz. 

Gorillaz no Brasil
Foto: ROCKNBOLD/Nádya Duarte

Afinal, o MITA vale a pena?

Se você é do Rio de Janeiro e está em dúvida se deve ou não ir ao festival, recomendamos fortemente a experiência. Embora seja um festival estreante, o MITA teve um grande êxito em trazer um lineup de peso em um espaço nunca usado antes para esse tipo de evento, teve aderência e validação do público, uma produção atenta para resolver problemas e fazer a experiência dos fãs a melhor possível. E, claro, o mais importante: terminou a edição paulista com o público já desejando a próxima. 

Com o adendo de que a edição carioca contará com os shows de The Kooks, Jão, Marcos Valle & Azymuth e Alice Caymmi convidando Maria Luiza Jobim, – Marina Sena, Luedji Luna, Day e Matuê não fazem parte do lineup – é definitivamente uma oportunidade imperdível de vivenciar a estrutura de um grande festival, com o conforto e comodidade que ainda é difícil de encontrar no calendário de shows brasileiros. O MITA mostrou a que veio e fez jus ao seu nome, mostrando que de fato, a música é a resposta. 

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