Do acaso ao estúdio: A.F.U.G.A. lança novo single

Formada ao acaso, banda A.F.U.G.A. lança seu segundo single, “Filtros”, mais uma vez apresentando um tema social por uma ótica artística
Formada ao acaso, banda A.F.U.G.A. lança seu segundo single, “Filtros”, mais uma vez apresentando um tema social por uma ótica artística

Começar um novo projeto sempre traz um novo gás pro nosso cotidiano. Agora, começar um projeto do zero e ao acaso? Isso é coisa do destino. Foi assim que o trio da banda A.F.U.G.A. começaram, dentro de um estúdio, e seguem fazendo música com alma e coração, transbordando o que sentem e o que veem no cotidiano. A banda, que é formada por Dalton Hayashi (vocal), Tiago Hóspede (guitarra) e Neto Rodrigues (baixo), lançou seu primeiro single em janeiro deste ano, com uma história fruto de uma viagem que Neto fez ao sertão pernambucano, trazendo consigo na bagagem muitas histórias e uma gana de mostrar tudo o que viveu por lá, apresentando O Vencedor, escrita pelo vocalista Dalton.

Dando segmento ao trabalho, hoje a banda liberou o single Filtros, que conta com um tema super atual dessa era digital que vivemos; é sobre isso e outras coisas que trocamos uma ideia com o baixista Neto. Desce aí!

Foto: A.F.U.G.A. / Divulgação

ROCKNBOLD: A.F.U.G.A. é uma banda digamos que itinerante, digamos assim, certo? Conta pra gente como começou o projeto.

Neto Rodrigues: “Não diria itinerante exatamente.  A questão é que moramos em estados diferentes. O Hospede, nosso guitarrista e produtor musical, está em São Paulo, capital. Eu e o Dalton em Curitiba, no Paraná. A formação da A.F.U.G.A aconteceu durante a produção de outra banda, chamada Pasqualete. Era um projeto meu e do Dalton, só que mais descompromissado.  Um tributo ao punk rock dos anos 2000. Deu que nessa caminhada os caminhos se cruzaram. Tiago foi o produtor da música da Pasqualete. A gente não se conhecia até então.  Quem nos apresentou a ele foi o Marcelo Mancini (vocalista do Strike) e nessa primeira gravação a gente já teve uma conexão muito forte. Foi coisa de história de vida, de música, de espírito e temperamento ao mesmo tempo. Parecia que éramos amigos há anos. Um mês depois voltamos a São Paulo para gravar mais duas músicas. Nessa leva estava a que viria a ser a primeira single da A.F.U.G.A, “O Vencedor”. Só que a banda ainda era Pasqualete e tinha outros caras que tocavam junto.  Chegando na Guest House, que é a produtora do Hóspede, o Dalton e eu mostramos a ele um arranjo bem simples da “O Vencedor” e aconteceu a coisa mais louca da nossa vida. Lembro como se fosse hoje. Estávamos eu, o Tiago e o Dalton no estúdio e o Dalton começou a tocar a música. O Tiago pegou a guitarra e começou a fazer uns testes, criar uns riffs e a música tomou a gente pela emoção.  Produzimos com alma aquela música. Foi foda. Depois disso, não teve jeito. Chamamos o Tiago para fazer parte da banda. Ele topou, mas pediu que mudássemos o nome. Tinha que ser algo mais consistente, adulto. Deu que mudou não só o nome, mas a estrutura toda da banda. Nascia assim A.F.U.G.A um trio com uma puta energia para tocar e falar o que sente e pensa.

RNB: No começo do ano vocês liberaram o single “O Vencedor”, que conta com uma narrativa de esperança, e uma história bem peculiar. Conta pra galera o enredo que deu origem a música.

Neto Rodrigues: “O Vencedor é uma música escrita pelo Dalton. O cara é um letrista de alma. Ela nasce num período muito difícil que ele passava na vida e que coincidentemente eu passava também. Isso lá em 2017. Eu havia acabado de voltar a morar em Curitiba, passei seis anos no interior do Paraná, e o Dalton estava morando em Canoas, no Rio Grande do Sul. Somos amigos há 20 anos, mas naquela época tinha bem uns oito anos que não nos víamos. Falávamos só por mensagem e numa dessas conversas acabei contando a ele que estava em um momento de muita dificuldade. Vida de jornalista não é fácil. Na mesma sintonia, estava ele, lá no Rio Grande do Sul, ralando muito na área da gastronomia japonesa. Ele é um grande chefe de cozinha oriental, mas as coisas andavam difíceis. O Dalton é budista e lendo meu desabafo me aconselhou a ressignificar a vida, buscar algo que me ajudasse a ver as coisas de uma forma diferente. Ele me sugeriu uma jornada, algo que me conectasse novamente. Na hora lembrei que guardava um antigo sonho que era conhecer o Sertão Brasileiro. Ficou decidido naquela conversa que faria isso. Peguei um pouco de dinheiro que tinha, fiz uma vaquinha virtual com amigos e familiares e fui com a proposta de documentar a experiência pela rede social. A missão era: com uma mochila e um valor aproximado de R$ 50 por dia de despesa, rodar os Sertões de Pernambuco, Bahia e Piauí, além do Maranhão. Foram dois meses de viagem. Conheci o Sertão do Moxotó, no estado de Pernambuco, onde acabei ficando por um mês. Lá convivi com pessoas incríveis, aprendi que era um grande ignorante sobre a realidade do meu país e fiz amigos que mantenho até hoje. De lá fui ao Piauí, retornei pelo sertão da Bahia e desembarquei novamente em Pernambuco.  Não fui ao Maranhão por que o dinheiro tinha acabado e o estado passava por um surto de dengue. O Dalton acompanhou toda a jornada lá do Rio Grande do Sul e escreveu “O Vencedor” naquele ano. O Vencedor falar sobre resiliência, sobre superar os desafios da vida, as adversidades com coragem e bom ânimo. É sobre se adaptar e não perder a fé em si mesmo. Tudo isso os brasileiros do sertão nos ensinaram com maestria, com alma, com coração e bom exemplo. Então “O Vencedor” é isso! É sobre ser brasileiro e viver em meio a crises, a descasos, remar contra a maré, ter que fazer dez vezes mais para poder sobreviver, viver e vencer.

RNB: Hoje vocês liberam o segundo single desse primeiro EP, intitulado “Filtros”. Como é para vocês trabalharem com um tema tão atual, e por que a escolha dele?

Neto Rodrigues: “A “Filtros” tem uma energia especial. Lidamos com ela com serenidade, sem pressa e com bastante atenção.  É uma música que fala sobre como a pós-modernidade, a pós-verdade tem feito mal a sociedade. Em tempos de vida líquida, onde você precisa atualizar suas redes sociais com sucessos e sorrisos a todo momento, “Filtros” é um desabafo, um pedido de ajuda, uma mensagem de apoio, tudo ao mesmo tempo. Filtros vem do sentimento que temos de que a vida passou a acontecer na rede social e que aqui fora, na vida real, muitas vezes estamos no limbo.  Nas fotos e vídeos todos dançam, são felizes e belos. Do lado de cá da tela, a gente se vê diferente. As pessoas estão tristes, com raiva, com ódio. Estão produzidas por fora, mas tristes e feias por dentro. Falamos disso por que também carregamos um pouco disso, todos estamos carregando. O mundo está assim. Um efeito colateral dessa vida falsa é a realidade paralela que tem trazido a descrença em quase tudo. A sociedade levou séculos dedicando vidas para que pudéssemos ter esse mundo de hoje, com medicina avançada, conexões, comunicação, ciência e desenvolvimento. Não é ideal? Claro que não. Mas é real.  Tão real que vivemos a era da tecnologia avançada, dos milagres da medicina, da inteligência artificial, a sociedade evoluiu das ciências humanas, das sociais, das exatas, das biológicas. Mas no paralelo disso, a vida virtual trouxe pessoas que usam de toda essa tecnologia para negar uma realidade que está aos olhos. Vivemos um tempo tão triste e absurdo. Hoje no Brasil contamos corpos nos hospitais. São dois mil, três mil, quatro mil brasileiros mortos todos os dias. São mais de 350 mil mortes em um ano. Em um cenário desses você espera encontrar um país unido e solidário, mas é ao contrário.  Você entra nas redes sociais e encontra pessoas negando a realidade. Estão indiferentes. Espalham notícias falsas, disseminam o ódio, indicam medicações ineficientes. As bolhas digitais negam a vida concreta, negam nossa própria evolução como seres pensantes. Tudo isso nos fez ter por essa produção o maior cuidado possível. Filtros é uma música que não tem por objetivo atacar ninguém, mas sim estender a mão a todos nós que de uma forma ou de outra estamos angustiados em meio a tanto ódio, tantas máscaras e filtros para disfarçar a ansiedade, a tristeza, a raiva e a necessidade de ser visto e aceito. Filtros é uma forma de dizer “Ei, você tem valor! Você é precioso e pode sim fazer a diferença. Acredite. Seja você mesmo, escute seu coração, seu lado humano. O mundo nem sempre é generoso conosco, mas precisamos nos unir para viver bem e vencer o dia a dia”.

RNB: Nesses dois singles que já saíram, e acreditamos que nos próximos também, é evidente a preocupação de vocês em trabalhar pautas sociais. Nos tempos atuais, qual a importância disso?

Neto Rodrigues: “Nossa maior preocupação é em oferecer a oportunidade de reflexão, sair da bolha. Olhar o social não é fazer discurso populista, nacionalista, elitista, capitalista. Olhar o social é acreditar na equidade. Não se pode ter orgulho de um país onde os abismos existem desde a época da colonização. Não se pode ter orgulho de um país em que poucas e poderosas famílias controlam municípios, estados, a federação como um todo. Não é dar para quem não tem. É criar condições de que todos possam crescer e se desenvolver respeitando as necessidades e diferenças de cada um. É frustrante quando você escuta uma pessoa dizendo que quer o melhor para o seu país e que ao mesmo tempo diz que quem não tem sucesso não se esforçou o suficiente. Triste ver um cidadão clamando por um país mais justo e ao mesmo tempo comentar em uma rede social que na favela só morre quem é bandido, que gente de bem não fica na rua. É duro ver pessoas recorrendo a religião para se dizer um bom ser humano e aplaudir torturadores, ditadores, ações truculentas, desprezo aos vulneráveis e minorias. Como podemos querer um país igual para todos, se não conseguimos nos enxergar iguais mesmo com as diferenças, se nos falta empatia. Então é sobre tudo isso que a gente quer falar. Não é sobre seu espectro político, mas como ele pode ajudar o país a se ajudar. Não sobre sua sexualidade, sua raça, sua crença, mas sobre quem é você como ser humano e o que os seus atos fazem de bom e de mau para o todo. Somos artistas, somos músicos e com essa função nos cabe oferecer olhares que agreguem, buscar ao máximo trazer pensamentos que ajudem na reflexão de cada um sobre os problemas que todos nós enfrentamos, cada um à sua realidade. A lei mais eficiente do poder é dividir para governar. Casa desunida não prospera, a gente precisa aprender isso. Se eu olho só para um lado ou só para outro e me recuso a enxergar o todo, eu nunca vou resolver o problema e alguém com certeza estará ganhando com isso.

RNB: Pra gente fechar, o que a galera pode esperar ainda para 2021?

Neto Rodrigues: “Antes de mais nada, queremos agradecer vocês por esse espaço, pela vitrine que nos oferecem neste momento para expressar a nossa arte. Nosso trabalho é feito com sacrifício, à custa de abrir mão de muitas coisas para custear gravação, produção e fazemos isso com o coração cheio de alegria por que amamos o que fazemos e vamos fazer mais. Para esse ano temos outras cinco músicas para soltar. Teremos lançamentos até o dia 31 de dezembro. Esse primeiro álbum que está sendo divulgado tem sido produzido com muito cuidado, profissionalismo e seriedade. Como diz o Hóspede, não queremos ser ídolos de ninguém, queremos apenas cantar aquilo que vivemos e inspirar a quem nossa mensagem fizer sentido.

Cantar o cotidiano e espalhar empatia é algo que devia ser lei dentro de qualquer meio artístico. Valorize o artista que o faz, pois precisamos de união para superar as dificuldades do dia a dia.

Logo abaixo o single novo dos caras! Dá o play e vamos pra cima!

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