Amenra entrega obra intensa e única em “De Doorn”

Banda belga lança novo trabalho pela Relapse Records, refinando ainda mais seu som e trazendo uma nova experiência para o público
Por Luis Antonio
Conheça o trabalho do autor no Entre e Ouça!

O Amenra é um dos nomes mais interessantes do post-metal e da música extrema. Com uma sonoridade intensa e visceral, que coloca banda e público em um transe quase espiritual para expurgar suas dores e sofrimentos, guiados pelos vocais desesperados e caóticos do vocalista Collin H. Van Eeckhout, os álbuns e apresentações da banda são uma experiência única. Quebrando a sequência de discos com o título Mass, os belgas lançam seu mais novo trabalho, De Doorn, o primeiro via Relapse Records.

Em entrevistas recentes, Collin explica o conceito de De Doorn (“The Thorn“), que parte de sua obsessão pelos espinhos criados pela natureza para proteger suas flores e frutas. O vocalista faz uma comparação com os humanos, que também cultivam seus próprios espinhos para se proteger de tudo que causa dano, ao mesmo tempo que carregam feridas infligidas por outras pessoas. É um álbum que está atrelado a dor, mas diferente de outros títulos do Amenra que mergulham nesse sentimento de maneira catártica, De Doorn carrega uma certa leveza e é como uma longa caminhada na escuridão até a chegada em um local iluminado.

Ogentroost” abre o álbum de maneira climática e introspectiva. A faixa tem uma pegada spoken word, que logo dá lugar aos vocais sufocantes e angustiantes de Collin. A agressividade do cantor contrasta com os cânticos suaves da vocalista Caro Tanghe (Oathbreaker), acompanhados por um instrumental denso e arrastado. Um começo impactante digno de uma obra do Amenra.

Em sequência, “De Dood In Bloei” é basicamente um diálogo intimista entre Collin e Caro. “De Evenmens” foi o primeiro single do álbum e é sem dúvidas uma das melhores músicas da obra. Instrumental pesado, intenso e melancólico, com os vocais marcantes de Collin. O spoken word marca presença no meio da música, sendo um momento de respiro para o ouvinte, dando espaço então para o vocal limpo do artista para encerrar de maneira catártica com toda potência do grupo.

Het Gloren” é outra música excelente presente no disco. Lenta e hipnótica, a faixa carrega uma dose de melancolia que, atrelada ao vocal desesperador de Collin, deixa o ouvinte completamente imerso.

Encerrando o álbum, temos a canção “Voor Immer”, que foi o segundo single de trabalho. Foi uma das primeiras faixas escritas para o álbum e segundo o vocalista, o tema foi inicialmente escrito para uma cerimônia de comemoração do fim da primeira guerra mundial. É uma música sobre esperança e força para seguir em frente. A faixa encerra com maestria o disco, finalizando o trabalho de maneira catártica e épica.

De Doorn é uma obra incrível. Um álbum imersivo e com várias camadas que são encontradas a cada audição. Como todo trabalho do Amenra, não é algo fácil de ser consumido, principalmente para os navegantes de primeira viagem. Mas assim como seus antecessores, o disco entrega um momento de reflexão e descoberta aos ouvintes mais dedicados. A banda que é famosa por suas performances épicas ao vivo, transformando a conexão com a música em um momento sagrado, consegue entregar o mesmo nível de qualidade e cuidado em seus álbuns.

Diferente de tudo que o quinteto já lançou, o novo disco dos belgas é mais um acerto em sua impecável discografia. Uma experiência única que só uma banda como essa pode entregar: um trabalho acima da média, denso e falsamente esperançoso que os consolida como um dos nomes mais interessantes do metal.

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