De 2008 para cá, Lady Gaga se tornou uma diva das pistas de dança, lançou hinos que são entoados a plenos pulmões, gravou videoclipes que marcaram a década passada e até ganhou um Oscar. Com “Chromatica”, seu novo álbum de estúdio, a cantora viaja para outro planeta em uma tentativa de se reconectar com os fãs.
A carreira de Gaga é marcada por altos e baixos. Surpreendendo todos com “The Fame” e “The Fame Monster”, ela entrou no mundo do pop como protagonista. Tudo o que a artista lançava era aclamado: seus vídeos, músicas, apresentações e estilos. Através de letras divertidas e batidas que deixavam ninguém ficar parado, passamos a admirar “Bad Romance”, “Just Dance” e “Poker Face”.
A ousadia artística se repetiu em seu álbum seguinte. “Born This Way” foi um marco no pop, uma Gaga além do que já tinha sido apresentado, mostrando suas influências de rock dos anos 1980, country e baladas ao redor do piano. Entretanto, com o “ARTPOP” ela tentou mudar sua música eletrônica dançante, mas também artificial. O resultado foi um álbum incompreendido tanto pelos seus fãs quanto pelo seu público. Assim, Lady Gaga decidiu tomar novos caminhos para sua carreira.
Para dar uma nova interpretação ao seu título de diva, ela deixa de lado suas tendências ao eletrônico e lança “Cheek to Cheek”, formado por duetos de jazz com Tony Bennett. Depois veio “Joanne”, que engavetou de vez seu estilo de sucesso nas pistas de dança para encontrarmos uma Lady Gaga mais adormecida com sua guitarra. Contudo, em seu novo disco, ela decide retomar ao dance-pop a fez ser reconhecida no mundo todo.
Desembarcando em um novo planeta
“I live on Chromatica, that is where I live. I went into my frame. I found earth, I deleted it. Earth is canceled. I live on Chromatica. ”
Lady gaga descrevendo o conceito de seu sexto álbum de estúdio
Ao falar sobre o disco, Lady Gaga nos mostra que ele é sobre realmente se reconectar com a música. Chromatica é um local inclusivo no som, nas cores e nas pessoas, a forma como a cantora mostra que quer viver e ser feliz após momentos conturbados em sua vida. E de qual maneira ela deve nos apresentar seu novo conceito? Dando de presente aos little monsters o melhor que ela encontrou da música eletrônica.
Com produtores como BloodPop, Skrillex e Axwell, a nostalgia de sua própria carreira é abraçada, retomando suas referências anteriores e as adaptando para o novo mundo. Soma-se ao disco artistas como Ariana Grande, Elton John e BLACKPINK. Dessa forma, a artista mostra que quer não só agradar seus fãs, mas também todos os ouvintes de música pop.
Welcome to Chromatica!
A introdução do disco é uma faixa instrumental que te leva para o espaço. Somos transportados ao novo mundo da artista através da tensão que as cordas trazem, de modo que o ouvinte se questiona no que o álbum irá apresentar. A resposta vem logo na animada “Alice”, faixa dançante que já mostra que Lady Gaga voltou para o pop pela porta da frente.
“Stupid Love” é a mais comercial dentro de um disco totalmente voltado para os charts. A música é produzida para funcionar bem, com vocais marcantes da cantora, mas ao mesmo tempo ela é desestimulante, com uma letra simples e um refrão desinteressante que só serve para ficar na sua cabeça e te incomodar.
Já em “Rain On Me”, o vocal agressivo de Gaga se encontra com a voz suave de Ariana Grande. Enquanto a primeira artista passou por problemas pessoais de forma menos pública, Ariana teve seu luto tanto em relação ao atentado que ocorreu em seu show em Manchester quanto ao falecimento de seu ex-namorado bastante explorado pela mídia. Mesmo as duas lidando com situações complicadas de formas opostas, elas se unem para relatar a nova força que elas possuem da maneira mais pop de balada possível. O segundo single do “Chromatica” mostra que a união faz a força – e da melhor maneira que existe.
“Free Woman” poderia ser uma das faixas mais esquecíveis do álbum. Contudo, podemos relevar as batidas eletrônicas genéricas se analisarmos a letra da canção. Relatando sobre o abuso sexual que sofreu aos dezenove anos, Lady Gaga nos apresenta como a música e a dança a ajudaram a ser uma mulher livre. Por outro lado, “Fun Tonight” não consegue surpreender. A tentativa teatral da música é decepcionante. Do início até o refrão, ela cria uma expectativa crescente no ouvinte que não é alcançada. Aquém de seu potencial, “Fun Tonight” não faz falta e só desanima.
Retomando a coesão do disco com “Chromatica II”, o interlúdio cria a tensão necessária para “911”. Através de sua voz robotizada, Gaga presenteia seus fãs. A música é como se “Born This Way” e “ARTPOP” se unissem. A sonoridade futurista é o que encanta na oitava faixa do trabalho, uma das mais surpreendentes do “Chromatica”. Em “Plastic Doll”, ela se une ao renomado DJ Skrillex para uma música exagerada no pop eletrônico, mesmo assim, a animação passa despercebida perto de outras faixas do álbum.
Explorando o mercado do K-POP, “Sour Candy” conta com a participação do grupo BLACKPINK. Nesse ponto podemos perceber qual o principal objetivo da cantora em seu novo trabalho: entreter todos. Lady Gaga é conhecida por perturbar, as partes mais criativas de sua carreira não serviam para alegrar a totalidade de ouvintes de música. Porém, “Chromatica” é um álbum pensado para agradar por completo, as músicas são para o público se deleitar, fugindo de críticas e permanecendo em uma zona de conforto. “Sour Candy” mostra essa questão, ela é divertida e fica na cabeça, mas ao abraçar o estilo que está cada vez mais presente no pop, a cantora some na música e só conseguimos lembrar das partes cantadas pelas coreanas.
Mais uma vez satisfazendo seus fãs, outro fan service é “Enigma”, que parece ser uma versão revisitada de “Fashion Of His Love” de seu trabalho de 2011. “Replay” é agitada e empolgante, a pegada disco music serve para dar volume ao disco. O conteúdo da faixa fica para a letra, apresentando os monstros internos da cantora. Para quem esperava uma música ao piano ao lado de Elton John, “Sine From Above” veio quebrar essa expectativa. Voltada para as boates, o eletrônico pesado cativa, sendo uma surpresa positiva da parte final do disco.
“1000 Doves” apresenta uma Gaga vulnerável, típica música para se dançar sozinha dentro do quarto. A mais transcendental do “Chromatica”, é um respiro em meio a todas as batidas eletrônicas intermináveis. Encerrando o disco com chave de ouro, o house music de “Babylon” é uma mistura do melhor que o Pet Shop Boys e a Madonna já fizeram. O problema é que a música é curta demais, ficamos passando vontade.
Explorando sua zona de conforto, “Chromatica” é um álbum coeso e pronto para as baladas. Entretanto, a tentativa de distrair seu público não tem descanso, com todas as faixas sendo feitas somente para dançar. Logo, em seu sexto disco, Lady Gaga mostra que quer ser relevante de qualquer forma para a música pop.
7,5/10