O Popload Gig Festival existe desde 2009 com a primeira edição tendo sido realizada na extinta Clash Club, que possuía capacidade de aproximadamente 700 pessoas. Hoje, o festival cresceu exponencialmente em dimensão, sendo realizado no Memorial da América Latina, com quase 15 mil pessoas. O seu grande diferencial é unir bandas que obtém destaque em diferentes cenários, mas que dificilmente tocariam no Brasil. Nesse ano, o evento contou com 10 atrações, sendo três nacionais e uma das bandas internacionais tocando em outro palco (o que causou certa polêmica).
Para os verdadeiros fãs do festival e das atrações que adquiriram o Early Entrance (ingresso que garante a entrada 30 minutos antes da abertura dos portões), foi perceptível que o dinheiro gasto não compensou. A desorganização resultou em atraso para a liberação deste público, que entrou apenas 15 minutos antes da abertura geral do local. Além disto, não obtiveram a meia hora garantida, já que não deu tempo de ir aos sanitários (que estavam localizados em uma área distante da grade) e muito menos de garantir o ingresso para ver Boy Pablo. O banheiro ficava distante da grade e a distribuição dos ingressos para o show do artista começaria à partir do meio-dia. Resumo: R$ 140,00 gastos, poucos privilégios. Na próxima edição, garanta-se na corrida!
Vamos falar sobre a parte boa do festival: os shows!
Little Simz
A cantora britânica de 25 anos Simba, mais conhecida como Little Simz, foi a primeira atração internacional a tocar no Popload. Previamente, Luedji Luna abriu o festival. Apesar da quantidade pequena de pessoas no evento, a rapper entregou um show primoroso! Após tocar em eventos como Coachella e Glastonbury, ela justifica em território brasileiro o seu destaque na mídia atual com o desempenho ao vivo. O show começou às 11:55 e mesmo com chuva, animou quem estava no Memorial desde cedo.
Podemos afirmar que seu primeiro show realizado no país teve excelente qualidade sonora e ela mostrou ao entrar no palco com um megafone para o que veio. A banda que a acompanha é igualmente talentosa. Little Simz foi muito aplaudida por quem preferiu almoçar no intervalo após seu show e impressionou pela qualidade e vivacidade quem não a conhecia.
Os destaques da apresentação ficam para “Boss”, onde a cantora reafirma sua posição como mulher e atualmente com um dos discursos mais singulares no rap. “Flowers” emocionou pelo gesto de agradecimento para todos que já morreram e que possibilitaram ela estar no palco nos dias de hoje. O coro no refrão de “Selfish” foi lindo de se presenciar.
Quem se interessar pelo trabalho dela, comece com Grey Area, um álbum redondo onde transforma sua vida em uma escala de cinzas: o arco-íris sem mensagem subliminar e mais complexo do que apenas o preto e o branco.
Khruangbin
Mark Speer, Donald Johnson e Laura Lee formam a banda que é, provavelmente, a atração mais exótica dessa edição. As perucas excêntricas de dois terços do trio chamam atenção ao entrarem no palco. O som sendo praticamente todo instrumental com poucas palavras sendo pronunciadas em algumas músicas já os classificariam como inusitados em relação as outras bandas.
Ouvimos referências de diversos gêneros musicais ao decorrer do setlist: funk tailandês dos anos 70, disco e surf rock são os predominantes. Khruangbin significa avião em tailandês e com certeza embarcamos nessa viagem com eles.
Laura roubou a cena com sua camisa dourada e trouxe o sol, já que quando a banda entrou, incrivelmente, a chuva deu uma trégua. Coreografias discretas eram realizadas pela dupla dos instrumentos de corda e trocavam de posição ao longo da apresentação. Os rostos com expressões blasé sorriram ao longo da apresentação. Sem artes visuais acompanhando no telão, o destaque era a musica e onde a sonoridade conseguia nos transportar. Senhores passageiros, se preparem para a decolagem.
Os destaques ficaram para “Maria También” e sua guitarra extremamente bem executada, digna de trilha sonora dos filmes do Tarantino. “Two Fish and an Elephant” veio suavemente embalando a brisa do início da tarde. “Dern Kala” com sua discreta coreografia e elegância chamou atenção do público que não conhecia a banda.
Após o show agitado de Little Simz, que fez o público pular, Khruangbin veio mostrar o apelo que um instrumental bem construído consegue ter.
Tove Lo
A cantora sueca já veio ao Brasil anteriormente, em 2017, e voltou dois anos depois. Ao longo do show, elogiou e afirmou que quando diz que o Brasil é melhor plateia que ela tem realmente acha isso. O público confirmou cantando e dançando ao longo de sua apresentação. A maior parte do público que verdadeiramente chegou cedo, foi para ver sua performance.
Tove sempre entrega um show esbanjando simpatia e sorrisos, além da sua energia e sensualidade que já tornaram-se marcas registradas dela.
As referências de seu pop quase grunge se fazem presente nas letras intimistas sobre suas vivências e experiências sobre o amor. Em clima de balada, arriscou fazer o “quadradinho” durante “Are You Gonna Tell Her?” com MC Zaac, que foi cantar no palco.
Os fãs entoaram animados os clássicos como “disco tits” e “Influence”. Mesmo que o seu ultimo álbum fora lançado em setembro desse ano, as músicas novas foram cantadas com mesmo fervor por quem aguardava a cantora. Em “Glad He’s Gone”, as mãos balançavam de um lado para o outro durante o refrão, mostrando em essência a conexão da música com os sentimentos de boa parte da platéia.
O destaque ficou para as últimas canções. Durante “Talking Body”, a sueca transformou o ambiente em uma balada a luz do dia, além disso, mostrou seus seios antes do último refrão. “True Disaster” e “Cool Girl” foram cantadas em alto e bom som, mas nada superou a última música.
O instrumental de “Habits” mal havia sido entoado e os fãs já sentiram o saudosismo que o single traz. Para todos os corações vazios do festival, que não sabiam escolher entre dançar ou chorar. N clima de afogar as tristezas nas festas da vida e com vazio existencial, Tove Lo despediu-se do público.
Cansei de Ser Sexy (CSS)
Os anos 2000 voltaram com força e mostra que ainda ocupa um grande espaço nos corações presentes no Popload. Posterior ao cancelamento de Beirut, CSS foi anunciado. A empolgação dos fãs no Memorial nos deixa afirmar que mesmo não pertencendo ao mesmo gênero, a escolha agradou o público que ali estava. Desde os mais novos até os 30+ estavam cantando as músicas e como disse a própria Lovefoxx “Feliz 2004!”.
No início do show, tudo seguia feliz. Em “Bezzi”, a vocalista tira sua calça e exibe seu shorts rosa. De repente, em “Alala”, Lovefoxx começa a tirar a roupa, mandando um recado na roupa que estava em baixo: “MST: Revolução Agroflorestal”. Durante “Fuck Everything”, imagens do atual presidente com emojis foram apresentados no telão. Até mesmo a HQ da Marvel que Crivella censurou por ter beijo gay durante a Bienal do Rio de Janeiro de 2019 apareceu no final de “Let’s Make Love and Listen Death To Above”. Anterior a “City Grrrl”, a vocal se emocionou ao dizer que não precisamos ir para a cidade grande nos expressarmos e que no momento atual do Brasil, “precisamos mais do que nunca de todas as esquisitonas”.
Ao final, disse que gostaria de fazer mais shows, mas não neste ano, encerrando com “Superafim” sendo cantada por boa parte do público, que ainda sabe de cor “sapatênis de vinil, bolsinha baguete, luvinha de pelica, você não me esquece! Lesbian chic, sapacaxa do Agreste. Superafim, Superafim, superafim de mim”.
Hot Chip
A banda britânica de eletroindie mostrou que ainda consegue fazer excelentes shows, apesar da maior parte do público não estar ali para vê-los, ou conhecem muito pouco sobre a banda.
O disco mais recente A Bath Full of Ecstasy foi muito elogiado pela crítica especializada, mas o público pouco conhece deles.
Apesar disso, a banda conseguiu animar quem estava ansioso pelos shows seguintes. Além de tudo, também foram reconhecidos após tocarem sucessos como “Over & Over” e “Ready for The Floor”, reafirmando que as festas frequentadas pelos Indies dos anos 2000 não foram completamente esquecidas.
Ao longo da setlist com 10 músicas, “Melody Of Love”, faixa do novo álbum, se destacou por ser umas das mais recentes que o público reconheceu e soube cantar.
The Raconteurs
Ao fim de Hot Chip, o público já começava a se aglomerar mais perto do palco para ver de perto Jack White e sua banda. A mistura de blues, Soul de Nashville e rock é o apelo da banda, além do instrumental muito bem executado. Jack White já veio ao Brasil anteriormente, mas essa foi a primeira vez com o The Raconteurs. O mais novo álbum alcançou a primeira posição na Billboard, levando o gênero rock para uma posição dificílima no cenário musical atual.
Os fãs estavam empolgados ao ouvir “Sunday Driver” e “Now That You’re Gone”, cantadas pela platéia em plenos pulmões. Ao longo do show, vemos que o rock ainda tem apelo e público, fazendo sucesso entre os mais velhos e mais novos que estavam presentes.
Apesar da qualidade do som maravilhosa, a iluminação escolhida pela banda é um ponto que pode ter atrapalhado. Por mais que combine com o clima musical que eles transmitem visualmente, a sobriedade dos tons infelizmente dificulta a visão do público em alguns momentos.
O ponto alto é ver não somente Jack, mas a sonoridade marcante da banda e a excelência musical de todos os membros. Espetáculo marcante e emocionante para todos aqueles que acreditam no rock e no barulho que ele ainda pode fazer.
Patti Smith
Rainha que não perde a majestade. Do início ao fim, uma das maiores artistas de todos os tempos entrega um show honesto, com hits e mensagens de empoderamento ao povo.
O espetáculo é um culto, com atmosfera semelhante à de Nick Cave, de estar vendo alguém que realmente é importante e se entrega em sua arte. Conforme o show seguia, Patti fazia discursos afirmado que o futuro é agora e sobre os governantes do mundo, que o poder é do povo.
Os destaques ficaram para “People have the Power”, primeira música da setlist. “Because the Night” foi cantada em alto e bom som pela platéia, assim como “Land: Horses/Land of a Thousand Dances/ La Mer(De)”. O encerramento ficou por conta de “Gloria: in Escelsis Deu”, onde a cantora puxou as cordas de sua guitarra com as mãos, destruindo-a após realizar o solo.
Patti Smith mostrou que a idade é insignificante quando a pessoa ainda tem mensagens relevantes para transmitir, não somente sua arte com a música. Por este motivo, continua atual, assim como sua obra literária.
boy pablo
Assim como dito anteriormente, os ingressos foram distribuídos somente à partir do meio-dia. Além disto, posso afirmar que muitos estavam perdidos, não sabendo como chegar ao Auditório Simon Bolívar. Alguns, inclusive, saíram do Memorial para procurar, mas não conseguiram retornar. Mesmo assim, deixamos um trecho desse show intimista.