Após muitas complicações e reviravoltas em sua vida pessoal, Louis Tomlinson finalmente lança seu primeiro álbum da carreira solo: Walls. Ao mesmo tempo que os fãs ansiavam pelo novo projeto, a crítica também aguardava quais ventos guiariam o último ex-integrante do fenômeno One Direction a lançar seu voo solo. O escolhido foi a zona de conforto.
Sonoramente, tenta recapitular o BritPop dos anos 90/2000. Remete-nos ao One Direction, o que foi uma brisa suave ao ver que, diferentemente dos outros membros, ele não buscou uma mudança brusca no início de sua carreira musical sozinho. Conforme ouvimos o álbum, observamos o quão crucial letrista ele foi para as músicas da ex-boyband.
O álbum não possui grandes variações e diferenciações melódicas e vocais, embora seja pasteurizado, não atrapalha no desenvolvimento, já que o cantor soube administrar positivamente. Sua identidade, entretanto, ainda está coberta por uma névoa, não sabemos distinguir até que ponto é uma referência e a linha tênue entre One Direction e Louis Tomlinson ainda é um borrão . Esta é sua verdadeira identidade musical ou ainda é cedo para afirmar que ele conseguiu se distanciar da boyband?
Sobre o álbum:
“Kill My Mind” foi o quinto single do cantor (“Just Hold On” com Steve Aoki; “Back To You”, com Bebe Rexha; “Just Like You”; “Miss You” e “Two Of Us”), mas foi o escolhido para abrir o álbum. A princípio, é fervoroso e imaginamos como será durante o show a reação do público. Ao mesmo tempo, a letra animada e atrevida têm vestígios de One Direction, como “No Control”.
“Don’t Let It Break Your Heart”. Isso mesmo, mal começamos a ouvir e já temos um rompimento. Os versos que antecedem o refrão são fortes, ao mesmo tempo que Louis soa como se apenas falasse. O tema central é relacionamento, mas principalmente a superação. A letra honesta não choca, já que ele sempre foi o mais direto nas entrevistas com o grupo, mas a maneira que ele se porta sobre superação, como ele sente tudo tão profundamente que compara a morte. A melodia me levou para a batida de “Steal My Girl”, mas em uma versão suave e lenta.
“Two Of Us” foi o quarto single lançado por ele (07 de março de 2019) e segundo a entrar no álbum. A música mal começou e eu já estava emocionada. Escrita em homenagem à sua mãe, que faleceu repentinamente de leucemia em 2016 aos 43 anos. Exatos sete dias depois do lançamento do single, sua irmã Felicite Tomlinson faleceu por uma combinação letal de drogas, incluindo cocaína, Xanax e Oxicodona. Provavelmente após essa morte, a música ganhou um significado ainda maior para ele. O mais impressionante é a poética e crua letra em um dos momentos considerados mais tristes para o ser humano: o rompimento causado pela morte. Sentimos Louis de corpo e alma, a batida combinada ao piano guia a música para algo dramático e forte, emocionalmente grandioso.
Mesmo quando estiver só, eu sei que não vou estar sozinho
Tatuadas no meu coração estão palavras da sua música favorita
Eu sei que você vai estar olhando para baixo, juro que vou te deixar orgulhosa
Eu estarei vivendo uma vida para nós dois”.
Trecho do refrão de “Two Of Us”.
“We Made It”. O single é, inegavelmente, uma homenagem ao Oasis, banda que marcou o Britpop dos anos 90/2000 e ajudou a moldar o rock alternativo do final do século passado. A ressalva é não ter algo que reforce o refrão, apenas “yeah, yeah, yeah”. O instrumental é uma mistura de “Wall Of Glass”, do Liam Gallagher com “Wonderwall” do Oasis. Entretanto, essa não é a música creditada por Noell Gallagher (sim, ele conseguiu este feito). Como resultado, temos um lindo tributo á banda mais briguenta da Grã-Bretanha.
“Too Young” me levou direto para “I Want To Write You A Song”, do último álbum do One Direction. A maneira que ele encaixou a letra na melodia prova, novamente que é um excelente letrista. Um bom exemplo de storytelling simples, mas efetivo. Assim também, me transportou para “Free Fallin”, do Tom Petty: Voz e melodia bem colocadas e em perfeita sintonia.
“Walls”, faixa que carrega o título do álbum e é a semelhante com Oasis de todo o projeto. O clipe foi gravado no deserto do Marrocos e possui diversas referências visuais de videoclipes do Oasis, como “Live Forever” e “Wonderwall”. Não só a entonação escolhida para a música, mas também os arranjos. Não apenas se assemelha, mas também conta com Noell Gallagher no crédito da canção como letrista e compositor, o que significa que ele também se beneficia dos royalties feitos por “Walls”. A música se assemelha ao primeiro trabalho solo de Noel, “Noel Gallagher’s High Flying Birds”. Louis admitiu que ficou surpreso pelo irmão Gallagher aceitar o crédito, já que é a única musica em que ele aprovou sem estar diretamente envolvido, já que normalmente possui ao menos seus vocais no fundo.
Por carregar o título, podemos deduzir que é uma faixa muito importante para o cantor, que teve muitos obstáculos antes do lançamento, principalmente em sua vida pessoal. Realizar um projeto solo após tanto tempo em uma banda com certeza é algo desafiador mas, a primeira vista, está sendo um bom processo para ele, que tem uma fã-base muito fiel.
“Habit”: se fosse mais rápida, claramente se encaixaria num álbum do Liam Gallagher (sim, ainda falaremos muito de Oasis, fazer o que, o Louis gosta demais deles). O vocal está mais profundo e pesado, inicialmente a letra parece ser falada, como uma conversa. O reverb na guitarra acaba se destacando na música, onde a melodia parece apenas ser um pano de fundo para a letra, que muitas fãs dizem ser para Harry Styles, companheiro de sua antiga banda, pois possuir algumas referências que elas conectaram.
“Always You” mal começou e novamente: One Direction? “Walking In The Wind”? Consigo ver o refrão ser entoado pelas multidões que estarão no seu show durante a próxima tour, acompanhado por palmas. A quantidade de sílabas repetidas: “oh oh oh” e “go, go, go” lembrou-me The Lumineers, que também usam esse recurso em algumas músicas.
“Fearless” é densa em todos os sentidos. Desde o vocal (novamente trabalhando no grave) à melodia. Visualizei a plateia com as luzes do celular acesas e balançando criando ondas e mostrando todo a apoio ao Louis, ainda mais por expor seus sentimentos honestos e crus sobre certos aspectos da vida.
“Perfect Now” é mais uma balada, diferente de “Fearless, o violão acústico traz a tona algo ainda mais intimista sobre a canção e letra, uma mistura perfeita entre o revelar para outra pessoa que ela é bonita de forma alegre como em “What Makes You Beautiful” juntamente com a sensibilidade e dor de “Diana”.
“Defenceless” começa tímida, nesse meio tempo ela vai engrandecendo, em contrapartida, continua suave. Uma música que mostra sua vulnerabilidade em um relacionamento, quando insistimos em algo que já pode estar perdido.
“Only The Brave” é curta, com uma mensagem direta. Em conclusão do álbum, a música mais curta (1’44”). Usa diversas transições de sua voz falada para a cantada. Visto que seus músicas vem de um lugar mais profundo, escuro e secreto do cantor, onde vemos que ele ainda não está bem, mas continua lutando para melhorar.
Toda sombra solitária dança do berço até o túmulo
É uma música solo e é apenas para os corajosos
Trecho final de “Only The Brave”
Ao terminar de escutar o projeto solo de Tomlinson, senti que as músicas podem simbolizar muito mais do que só a tentativa de traduzir sentimentos. Os momentos bons e ruins que ele descreve frequentemente para quem ouve. Em cada nova transição, não só tentamos imaginar como ele se sentiu, como também lembramos de capítulos de nossas próprias vidas. Frequentemente visitamos sua alma e, consequentemente, do One Direction. Mostra para o público em cada nota e transição como transformar as dores, tristezas e a alegrias de um ser em algo tão verdadeiramente genuíno, puro e cru.
Definitivamente haverá quem diga que não será um álbum memorável, todavia, ele vem de um lugar tão autêntico e genuíno que até seu amor pelo Britpop ele explorou (de todas as maneiras, incontáveis vezes). Do mesmo modo que lembrei de diversas canções e fases da boyband a qual Louis pertencia, creio que e assemelha sonoramente aos rumos que a própria banda trilharia, pricipalmente após o “Made In The A.M.”. Entretanto, não demonstra sua total independência musical, não conseguiu se libertar das amarras antigas, a zona de conforto que acalanta os corações dos fãs que sentem falta dos tempos dourados… ou vermelhos e azuis.
Louis realizará dois shows no Brasil nesse ano. O evento no Rio de Janeiro já encontra-se esgotado, mas ainda existem ingressos para o setor pista comum inteira para o show de São Paulo. Maiores informações no site da Livepass.
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