Lana Del Rey talvez não esteja tão errada assim

Artista se envolveu em polêmica após divulgar carta aberta na qual fala sobre o direito de ser frágil e se defende das acusações que alegam que suas músicas romantizam abusos; cantora citou outras artistas mulheres e gerou debates nas redes sociais de todo o planeta
Artista se envolveu em polêmica após divulgar carta aberta na qual fala sobre o direito de ser frágil e se defende das acusações que alegam que suas músicas romantizam abusos; Lana Del Rey citou outras artistas mulheres e gerou debates nas redes sociais

[OPINIÃO]

Já há algum tempo pretendia falar sobre Lana Del Rey. Por ser uma das minhas artistas favoritas, obviamente sei muito sobre sua carreira e vida, portanto, acho que essa conexão poderia render eventuais bons conteúdos. No entanto, na ultima quinta-feira, (21), a cantora postou algo interessante em seu Instagram que tem correlação com um dos tópicos que gostaria de abordar. Então, aqui vamos nós.

Lana iniciou sua carreira há mais ou menos 10 anos. Desde então, ela pode ser considerada uma figura ignorada e/ou julgada pela indústria fonográfica. É meio complexo falar sobre a também produtora e compositora pois ela pode ser considerada – no contexto do que o público mainstream mais consome na atualidade – uma artista independente que, dentro do alternativo, dream pop, indie e vários outros estilos com que sua sonoridade flerta, está no topo dos charts do mainstream. Ela é como o rosto do underground em um contexto geral, por mais que ainda assim seja um dos nomes mais badalados dentro do estilo: todos nós a conhecemos, mas na verdade não ouvimos os seus trabalhos a menos que realmente gostemos. Não é o tipo de música que se escuta em uma festa por estar tocando na rádio ou nas maiores playlists do Spotify. Lana faz parte de um nicho específico.

(Lana Del Rey em entrevista)

Elizabeth Grant, nome verdadeiro da artista, geralmente canta sobre relacionamentos com homens mais velhos, sobre submissão em relações casuais ou sobre flertar com a própria tristeza solitária. Ela tem um estilo muito particular, então, às vezes pode parecer que está sempre em sua zona de conforto ou até mesmo que nunca quer se reinventar, mas… essa é sua principal característica. Então, por que outras mulheres na indústria sempre tem permissão para cantar sobre sentimentos e serem sensuais e ela não? O feminismo só é feminismo quando encaixado em um comportamento específico?

Sinto que ainda estamos entendendo o que é o feminismo e eu obviamente na minha posição de mulher levanto a bandeira do movimento, anseio por igualdade e liberdade, e com franqueza me defendo, mas preciso entender que nem todo mundo é assim. Portanto, pedir a Lana que se comporte de uma maneira específica não soa justo ou feminista. E isso também pode ser aplicado em relação à suas limitações criativa. Uma vez que a julgamos pelo fato de não estar se comportando como pintamos o feminismo em nossas cabeças, não estamos permitindo que ela seja livre da forma que bem desejar, não estamos sendo muito acolhedoras, tornando nossa irmandade seletiva. Então, não estamos sendo nada além de mulheres oprimindo outra mulher.

Algumas mulheres se sentem empoderadas vestindo o que querem e mostrando seus corpos, algumas como eu se sentem empoderadas ao dizer o que querem falar e outras como Lana se sentem melhor escrevendo músicas sobre seus sentimentos negativos. E tudo bem.

O que as pessoas geralmente pensam é que a cantora não é muito feminista pois em suas músicas expressa o anseio pela submissão ou a “glamourização do abuso”, como a mesma disse em seu post no Instagram.
Na postagem em questão, inclusive, ela escreveu algo que acho pessoalmente muito poderoso: “deve haver um lugar no feminismo para mulheres como eu, o tipo de mulher que diz não, mas os homens ouvem sim”.

Na verdade, um grande número de mulheres são assim, então qual é o problema de Lana dar voz a elas? Esse é o ponto e o que seus fãs sempre falaram. Basicamente: a cantora é constantemente limitada em sua própria arte. Lana é sensível, delicada, romântica e infelizmente parte do público mainstream não suporta essa fuga dos padrões do que hoje é produzido e consumido na indústria. Bem, não em público, pelo menos.

Me incomoda um pouco esse “dar de ombros” das pessoas quando se trata de Lana Del Rey: extremamente autêntica e emocional, cantora escreve suas próprias músicas sobre seus próprios sentimentos e experiências. Se é isso que ela viveu e sente, POR QUE não pode ter a liberdade de falar sobre sem ser julgada ou limitada?

Bem, eu particularmente sou uma grande admiradora de sua carreira por muitas razões, mas a maior delas é porque ela é real. Sempre honesta com suas palavras, não finge que o mundo é perfeito e as pessoas são sempre legais, reconhece e dá importância para as lutas internas e emocionais (como relacionamentos abusivos). Eu nunca estive em um relacionamento romântico deste tipo, mas isso não é empecilho para não me enxergar em varias de suas outras faixas quando tudo que eu precisava era de um pouco de conforto e compreensão.

Lana também mencionou nesta carta que abriu o caminho para muitas novas artistas do sexo feminino para que elas pudessem falar sobre o que quisessem e este é um pensamento que passou pela minha cabeça quando o Grammy aconteceu no começo deste ano e Billie Eilish recebeu todos os maiores prêmios enquanto Lana nenhum após ter lançado o excelente Norman Fucking Rockwell. Não me entenda mal, nada de errado com Billie, mas o que eu disse lá atrás é que me pergunto se a jovem Eilish teria sido tão bem aceita se não fosse também por Lana, que deu a cara a tapa no mainstream há anos atrás.

Entretanto, parte do motivo das criticas relacionadas a Lana atualmente são porque em seu post ela menciona nome de algumas das artistas femininas mais populares da atualidade e a maioria delas são negras, o que deixou tudo muito confuso uma vez que colocamos muitas causas em um único tópico e honestamente, eu não posso dar a minha opinião em um lugar onde não possuo fala, mas todos sabemos que Lana definitivamente não é racista. Pelo contrário, a cantora já se manifestou diversas vezes publicamente contra diversos tipos de discriminação e discursos de ódio. Entendo também que é muito problemático “invalidar” outra mulher para dar voz a minha, mas, ainda assim, não acredito que Lana del Rey tenha tinha tido essa intenção.

Bem ou mal, não paramos de falar sobre isso e toda publicidade é bem-vinda, já que a rainha marketeira ainda anunciou no fim desta mesma publicação que finalizou seu próximo álbum, Chemtrails Over The Country Club, será lançado ainda em setembro deste ano.

Se Norman Fucking Rockwell já quase beliscou uns Grammys ano passado, há de se esperar que o próximo trabalho de Lana continue no mesmo nível de seu antecessor e que a cantora, finalmente, possa criar a própria arte longe de rótulos, definições e julgamentos.

QUER SABER MAIS? VEM ASSISTIR O MEU VÍDEO SOBRE O ASSUNTO:

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