Na manhã do dia 23 de julho, todos os fãs de Taylor Swift amanheceram com uma boa notícia: o anúncio de seu novo álbum. Normalmente, quando um artista vai lançar um novo disco, ocorre toda uma promoção dele antes, com singles, clipes e apresentações. No entanto, com a pandemia do Corona vírus afetando todos os continentes, o mundo da música teve que criar soluções para situações que antes eram do cotidiano. Não podendo realizar os seus shows, a cantora partiu para uma nova forma de se conectar com seus fãs.
Um trabalho totalmente escrito, gravado e lançado durante a quarentena não é uma novidade mais. Por exemplo, em maio, Charli XCX lançou um ótimo disco com essa proposta (com direito a review aqui no ROCKNBOLD). Entretanto, a surpresa de Taylor está no fato de que ela não anunciou nada antes, somente um dia antes do lançamento que ela compartilhou em suas redes sobre “folklore”.
Em novembro de 2018, a americana assinou um contrato com sua nova gravadora e no ano seguinte lançou “Lover”, um disco que celebra o amor passando por faixas numa pegada mais country e outras totalmente pops. Com uma mais liberdade criativa e maior domínio de sua carreira, seu sétimo lançamento é uma amostra de como ela consegue se manter relevante após mais de dez anos de carreira.
Folklore mostra que ela não só sabe se manter interessante, mas manifesta um lado de Taylor que ficou meio perdido desde que ela passou a se aventurar no pop: a simplicidade. Ao abandonar o pop que a consagrou nos últimos anos, Taylor se volta a uma aventura pelo indie-folk que deixa o ouvinte de boca aberta devido a tamanha sofisticação tanto na produção quanto nas letras introspectivas.
Essa mudança de sonoridade não viria de Jack Antonoff, que mesmo produzindo os principais nomes do pop mundial, não é ousado o suficiente para mudar os rumos da carreira de uma das maiores performers do século XXI. O responsável por tirar ela de sua zona de conforto foi Aaron Dessner, membro do The National. Com a maioria das faixas com o dedo dele, Taylor conseguiu explorar todo um território folk necessário para fazer esse álbum acontecer da maneira mais intimista possível.
Logo na primeira faixa, podemos perceber que o caminho que Taylor quer trilhar em sua nova obra é diferente dos anteriores. “the 1” já apresenta, através a atmosfera pura e delicada que a cantora quer propor, a qualidade etérea do disco que faz o ouvinte flutuar pelas dezesseis faixas. O novo som não é uma surpresa para os fãs de The National, visto que o trabalho da cantora possui muitas similaridades ao “I Am Easy to Find”, lançado pelo grupo no ano passado. Contudo, a genialidade de “folklore” não está em ser diferente de tudo o que já foi lançado, mas em ser o momento mais ousado da trajetória de uma pop star que nos últimos anos só visou encher estádios com fãs histéricos. Ao dar um passo para trás e fugir do pop clichê, Taylor Swift lança o melhor trabalho de sua carreira.
Em “Reputation” e “Lover”, Swift decidiu por ser muito direta na sua forma de cantar, optando até por algo mais falado do que harmonioso. Claro que com letras muito detalhistas para uma música pop, ela teve que acelerar seu jeito de cantar. Porém, agora, o ouvinte consegue compreender tudo o que ela está nos dizendo e aproveitar o melhor trabalho vocal da cantora. Faixas como “cardigan” e “the last great american dynasty” contam histórias completas que prendem a atenção e ainda te deixam cantarolando a melodia rapidamente.
Em uma combinação de vozes improváveis, Justin Vernon (Bon Iver) acompanha Taylor em uma das faixas mais bonitas de 2020. Mesmo sendo artistas com propostas diferentes, eles se complementam ao pensarmos que da mesma forma que Vernon usou da floresta para se afastar e superar sua separação no “For Emma, Forever Ago” (2008), a quarentena colocou Swift na mesma mitologia de como o isolamento pode afetar a produção de um artista. Parece inacreditável que em um pouco mais de um ano, a artista saiu de uma parceria chata e fraca com Brendon Urie em “ME!” para uma aula de como lidar com sentimentos e suas dores mais profundas em “exile”.
Mostrando-se versátil em suas referências, músicas como “mirrorball”, “seven” e “august” possuem uma pegada bem próxima aos últimos lançamentos de Phoebe Bridgers e Soccer Mommy, mas também mostram que ela também checou o catálogo do Mazzy Star, grupo estadunidense influente no cenário alternativo dos anos noventa. O folk se mistura perfeitamente com o dream pop, apresentando um reverb na voz que parece como se Swift estivesse nos dando um abraço muito apertado, é a forma perfeita de escrever músicas reconfortantes.
Não dá para dizer que o disco é inteiramente impecável, mas ele não perde sua essência dentro dos seus 63 minutos de duração. Em todas as músicas, Taylor entrega o melhor de sua voz, e composições bem acima de todos os seus outros lançamentos. Até em momentos menos inspirados, ela apresenta suas emoções de forma arrasadora para o ouvinte.
Chega a ser bonito pensar que “folklore” foi o resultado desse tempo lento e reflexivo, visto que em discos que demoram anos para serem concebidos, a cantora não chegou nem perto de realizar um feito da mesma beleza. O turbilhão de sentimentos, nostalgia e arrependimentos faz com que você espere que ela realize fugas do pop com mais frequência. A sutileza do disco e a capacidade de percepção de detalhes faz com que essa seja a obra-prima de uma artista que já possui dois grammys de álbum do ano. No final, você só quer agradecer por ter tido a chance de conhecer esse lado mágico de Taylor Swift.
10/10