Amante de arte desde que se conhece por gente, Thalles Cabral traz toda a sua bagagem das artes cênicas para o mundo da música com doses de lirismo, dramas, paixões e personagens às canções de sua autoria. Seu primeiro disco, Utopia, explora um único universo cuja narração foi distribuída em 11 faixas que se dividem com dois atos: um mais solar e outro mais frio.
Desde 2016, Thalles lança seus videoclipes que, na verdade, são capítulos de uma mesma história. Dirigidos, roteirizados e estrelados por ele, Sad Boys Club dá início à linha do tempo, que se estende com You, the Ocean and Me, Just When We Were High, Olivia e I Have No Heart, seu mais recente lançamento.
Em I Have no Heart (assista abaixo), Thalles aborda questões sobre saúde mental à tona, como a transição do estado de luz para sombra, a luta interna pela sanidade e a dúvida do que é realidade ou não. Em entrevista exclusiva para o ROCKNBOLD, o artista declarou que não tinha a consciência que estava falando sobre saúde mental a princípio, “esse entendimento veio depois quando o clipe já estava pronto. O processo criativo, não só clipes, mas nas músicas e composições de qualquer projeto meu não é muito racional, eu fico pensando em sentimentos e em como processar algumas sensações, como criar um universo específico sobre aquele trabalho.”
“É importante falar sobre a nossa cabeça, nossa mente, principalmente porque esse era o intuito do álbum: falar sobre e para a minha geração”, ele continua, referindo mais tarde sobre abordar essa temática durante a pandemia do novo coronavírus, enquanto o mundo cumpre o período de isolamento social, mesmo que durante sua produção, no final de 2019, ninguém imaginava que a população global estaria nessa situação. “A gente ressignificou o clipe nesse contexto atual: de isolamento, empatia, cuidar de si, da cabeça, do corpo. O clipe ganhou outro lugar sendo lançado agora.”
Quanto a dirigir e roteirizar seus próprios trabalhos, Thalles é bem sincero: “No primeiro clipe eu caí de paraquedas, a minha intenção não era dirigi-lo, mas foi a maneira que eu encontrei de fazer acontecer.” O artista também conta que se viu rodeado de pessoas que apoiavam seu projeto, e isso acabou o incentivando a se descobrir como diretor e roteirista.
Falando sobre A Jornada Para Utopia, um filme musical que apresentará a narrativa completa de Utopia com cenas inéditas, Thalles revela que sua principal fonte de inspiração é sua caminhada no mundo da arte e sua paixão por contar histórias. “O mundo da música é uma extensão do cinema, que é do teatro, que é da dança. E eu fui juntando tudo isso e criando esse mundo novo”, explica.
O público faz parte da narrativa
Thalles também revelou na entrevista que nem o lançamento dos clipes e nem a tracklist do disco está em ordem cronológica, e é papel dos fãs tentarem descobrir e conectar a história, como um quebra-cabeça. “Isso não deixa o espectador num lugar passivo, ele também é agente ativo da parada toda”, comenta. “Ele tem a missão de tentar entender as metáforas, os símbolos e as pistas que são dadas. Então cada um pode criar a sua própria narrativa.”
Além disso, o cantor e ator iniciou um novo projeto nas redes sociais durante o período de isolamento social. Talvez Seja Agora é uma experiência para que as pessoas compartilhem mensagens anonimamente sem a intenção de que cheguem nos destinatários, mas sim de criar uma rede de mensagens nunca ditas que podem servir como um despertar de consciência para outras.
Inspirações e vida pessoal
Thalles admite que não tem um grupo ou banda favorita; em cada fase de sua vida, é um estilo diferente em sua playlist. “Cada artista acaba se encaixando na minha vida em momentos diferentes, existe esse movimento do que eu tenho consumido, escutado, lido e assistido.” Mesmo assim, ele conta que uma banda que sempre esteve presente em quase todos os estágios de sua vida é Radiohead. “Admiro bastante o Thom Yorke, as composições, a maneira como ele cria esse mundo paralelo dele nas músicas e acho que cada disco tem uma beleza ímpar. Eu poderia dizer que o Radiohead me inspirou, me inspira e ainda vai me inspirar.”
Já falando do outro lado de sua carreira, com televisão, cinema e teatro, Thalles conta que sua rotina sempre foi muito movimentada, o que torna fácil para ele conciliar e administrar todas os setores dela. “Não sei muito bem o que é ficar parado, e eu nem gosto muito”, comenta, “consigo levar essas carreiras diferentes de uma maneira muito natural.”
O artista faz parte do elenco de As Five, spin-off de Malhação com estreia prevista para o segundo semestre 2020 na TV aberta e que também será distribuído como série original do Globoplay. No ano passado, ele participou do longa O Homem Cordial, dirigido por Iberê Carvalho e estrelado por Paulo Miklos, que estreou na mostra competitiva do 47º Festival de Cinema de Gramado, em agosto. Seu trabalho mais recente no cinema é o papel como protagonista no filme Ecos do Silêncio.
Thalles também revela sua paixão em estar em palcos de shows. “Não faço tantos quanto gostaria, justamente pela carreira de ator que me ocupa bastante com as filmagens diárias, mas é muito legal porque sempre que eu consigo uma brecha eu marco um”, diz. “Os intervalos nesses shows ganham uma outra força, sabe? São encontros muito especiais e a gente nunca sabe quando o próximo vai acontecer. Então é muito legal ver como todo mundo se entrega, é tudo muito lindo.”