Por Eduardo Ohana, Júlia Baruki e Matheus Izzo
A década de 80 foi marcada por renovação: o metal ganhou novas facetas, o pós-punk surgiu auxiliando a criação da new wave no Reino Unido e o grunge começava a aparecer em Seattle
Durante os anos 70, o punk estava explodindo tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido. A ideia de ser contra o sistema dos Sex Pistols conquistou a mente dos jovens, que começaram a montar bandas inspiradas por essa forma de pensar. Com cada vez mais grupos do gênero surgindo, isso também significa que elas teriam que se diferenciar das outras para poderem se destacar. Assim, esses novos grupos pegaram toda a bagagem que já possuíam ao ouvir The Stooges, The Clash e Ramones e juntaram com outros gêneros que ouviam, como música eletrônica, jazz e krautrock, por exemplo.
Os novos artistas fugiam desse caráter simplório de melodias que o punk possuía, pois somavam suas influências musicais com os livros e filmes que consumiam. O pós-punk acaba sendo uma versão mais refinada do seu antecessor, onde a ideia de se rebelar contra o sistema de poder atual não é a única coisa que o cantor deve cantar sobre.
Bandas como Wire e Siouxsie and the Banshees começaram a experimentar mais dentro do gênero, contudo, quem realmente o iniciou foi a mesma pessoa que deu o pontapé inicial para a popularização do punk: John Lydon. Com o fim do Sex Pistols, o vocalista estava ansioso para iniciar um novo projeto, mas que não o deixasse preso dentro do rock. Dessa forma, montou o Public Image Ltd.. Misturando punk, reggae, rock progressivo e disco, seu novo grupo experimental seria o pioneiro de um novo estilo
Depois, veio uma enxurrada de artistas influenciados pela nova forma de música desenvolvida por Lydon. O baixo como elemento de destaque, a guitarra em segundo plano e a voz séria ao mesmo tempo que despojada de seus cantores. Enquanto o Gang of Four cantava sobre amor e teoria marxista em seu primeiro disco, o The Cure explorava falar sobre existencialismo em suas músicas e o Bauhaus satirizava elementos do expressionismo alemão. Toda essa cena musical inglesa poderia ter sido perdida na história se não fosse o Joy Division. Ian Curtis, vocalista do grupo, é a principal figura do movimento.
Nascido na cinzenta Manchester, o filho de trabalhadores de classe média viveu uma adolescência normal até ir a um show do Sex Pistols e depois decidir montar uma banda com as pessoas que foram no show com ele. Junto com Peter Hook, Stephen Morris e Bernard Sumner, ele montou uma das bandas mais influentes do último século.
Inspirados por David Bowie, Kraftwerk, Iggy Pop e The Doors, eles buscaram um som que fosse bem obscuro e com letras intimistas. Assim, nasceu em 1979 o Unknown Pleasures, contendo músicas sobre o cotidiano triste e depressivo do homem inglês. Ian colocava nas letras tudo o que pensava, o sentimento de solidão e vazio existencial que o acompanhava na sua vida. Com o passar do tempo, seu quadro de epilepsia e seus relacionamentos começaram a perturbar sua cabeça, de modo que ele representava isso na sua obra. Com o sucesso do primeiro álbum, o grupo decidiu lançar seu disco seguinte, no entanto, ele acabou virando um trabalho póstumo, visto que Curtis se suicidou em maio de 1980.
“Closer” acabou sendo uma carta aberta da relação de Ian com o mundo e como ele não se sentia pertencido nele. O álbum se tornou importante por lidar com emoções e pensamentos de forma muito pessoal; é a carta final de Ian para o mundo. Mesmo com pouco tempo na ativa, o Joy Division se tornou referência máxima para grupos como The Killers, U2, The Smashing Pumpkins e até mesmo os brasileiros do Legião Urbana.
Atravessando o oceano, na mesma época, encontramos um sucessor mais colorido e engraçado do punk nos Estados Unidos. O new wave surgiu em um momento que o punk já era visto como algo simples e sem apelo comercial, o pós punk. Assim, para que as grandes gravadoras pudessem garantir uma renovada em seu catálogo de forma segura, elas foram atrás de bandas com um som acessível e sofisticado ao mesmo tempo.
Na década de 70, muitas pessoas não se identificavam com o som progressivo de grupos como Emerson Lake and Palmer e Pink Floyd, mas também não curtiam Sex Pistols, pois eles eram representados como violentos pela mídia. No entanto, de forma paralela começavam a chamar a atenção grupos que, mesmo com um som inspirado no punk, não tinham o visual de rebeldes. Assim, Talking Heads, The Cars e DEVO começaram a emergir no cenário com uma forma mais inofensiva de se fazer punk.
A obra do Talking Heads é conhecida por ser muito experimental, já que o catálogo diverso engloba vários gêneros e sempre numa construção mais rítmica: músicas que possuem algum significado mais profundo (“Once In A Lifetime” e “And She Was”) e faixas mais pops e engraçadas (“Burning Down The House”). O grupo de David Byrne comentava sobre a complexidade da vida nas letras de uma forma que nenhum artista da época conseguia.
Em 1978, The Cars lançou seu primeiro disco, que é uma obra-prima. “Just What I Needed”, “Good Times Roll” e “My Best Friend’s Girl” viraram clássicos instantâneos, ajudando transformar o new wave em um gênero cada vez mais popular. A mistura de sintetizadores, guitarra com uma pegada pós-punk e as melodias irresistíveis resultavam em um pop futurista, o que continuou durante os outros cinco discos da banda.
No caso do DEVO, álbuns como Q: Are We Not Men? A: We Are Devo! e Freedom Of Choice são grandes clássicos da música norte-americana. Em uma pegada mais humorística para tratar de temas sérios, o grupo começou a se apresentar somente uniformizados – declarando que a individualidade estava morta- e gravavam clipes estranhíssimos. Para David Bowie, o som do grupo representava o futuro.
Além do Talking Heads, a cena nova-iorquina também contava com o Blondie (que inclusive já ganhou post especial aqui no ROCKNBOLD). Liderados pela emblemática Debbie Harry, o grupo lançou seis discos entre o final dos anos setenta e o início da década de oitenta. Parallel Lines (1979) catapultou o sucesso da banda, os tirando da cena underground e os colocando nas principais rádios através de hits como “Heart of Glass”, “One Way Or Another” e “Hanging on The Telephone”. Como músicos inovadores, eles trabalharam com Giorgio Moroder no hit “Call Me”, regravaram um clássico do reggae “The Tigh Is High” e ainda foram os primeiros artistas nos EUA a terem uma música nº1 que possuía rap, como foi em “Rapture”.
Uma banda que percorreu um longo caminho para o reconhecimento foi The Go-Go’s. O grupo formado por cinco mulheres lançou o icônico Beauty And The Beat em 1981, que conta com o clássico “We Got The Beat”. Elas não eram levadas a sério pela cena punk local, não conseguiam organizar uma série de shows consistentes e a mídia não tinha interesse em falar sobre elas. Mesmo assim, quando o álbum foi lançado, as meninas obtiveram sucesso absoluto, ocupando o topo das paradas por seis semanas consecutivas. Considerado um dos maiores clássicos do new wave, elas passaram a serem um dos principais nomes do gênero.
Entretanto, mesmo com todas essas bandas no cenário, grupos que realmente representam o gênero são The B-52’s e Depeche Mode. Não dá para falar de punk sem citar The Clash, da mesma forma que não falar de The B-52’s e Depeche ao falar de new wave é um erro absurdo. Eles representavam toda a energia do estilo através de roupas muito coloridas, perucas extravagantes e músicas animadíssimas.
No disco de estreia dos B-52’s, eles já mostravam o seu caráter despretensioso, com letras bregas e até esquisitas, mas tudo muito inovador. O trio de vocalistas, em adição ao guitarrista e o baterista conseguiram criar um mundo totalmente novo para ser explorado. “Planet Claire”, “Rock Lobster” e “Dance This Mess Around” mostram que todo dia pode ser dia de uma festa descomprometida, focando sempre na diversão. O segundo clássico da banda é “Wild Planet” que pegou as melhores partes do disco anterior e as aprimorou. A ironia continuava presente em “Private Idaho” e “Quiche Lorraine”, mas temas como devoção e desejo apareceram em “Give Me Back My Man”.
No caso do Depeche Mode, a banda só explodiu no cenário mundial a partir da segunda metade dos anos 80 com Music For The Masses e o hit arrebatador Strangelove. A contribuição do grupo ao estilo, além de também ajudar a tornar os sintetizadores em um dos elementos principais da sonoridade da vertente, foi introduzir uma espécie de novo movimento ao mundo na transição dos anos 80 pros 90. Depois denominado synthpop, os britânicos influenciaram diretamente nomes como Nine Inch Nails, Marilyn Manson, Smashing Pumpkins e até mesmo The Killers, Coldplay e Rammstein. O clima e a atmosfera que o Depeche Mode tornou palatável ao grande público entregava um sentimento de suspense e mistério em relação às suas canções e histórias.
Com o final do new wave no fim da década, o gênero nunca teve o seu devido revival. Entretanto, segue sendo uma fonte de inspiração até hoje, como já foi mencionado e reverenciado pelos grupos No Doubt, Sleater-Kinney, Bloc Party e Chvrches. No Brasil, ele foi representado, principalmente, pela Blitz, Os Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Gang 90 e as Absurdettes.
As novas faces do metal
Ao mesmo tempo que tudo isso acontecia, o Metal (ou heavy metal) começava a ganhar mais notoriedade no mainstream por conta do surgimento de novas bandas que, naquele período, queriam que o estilo ganhasse uma nova abordagem, enquanto a disco music e o pop estavam dominando as paradas de sucesso com nomes como Michael Jackson, por exemplo. Foi então que a nova onda do metal britânico (“The New Wave Of British Metal“) apareceu, dando espaço como Iron Maiden, Judas Priest, Motörhead, Saxon, Venom e Def Leppard. Estes grupos foram responsáveis por moldarem uma nova sonoridade a esta vertente. As canções se tornaram mais rápidas do que já eram, os tons graves e menores ainda estavam presentes mas as influências do blues e do rock psicodélico foram completamente retiradas. Alguns desses nomes começaram a adotar também o visual glam que explodia meteoricamente nos Estados Unidos. A maioria destes grupos foram formados entre a segunda metade de 70 e início dos anos 80, mas foi a partir da década oitentista que eles lançaram seus maiores sucessos.
O Iron Maiden conquistava um público fanático por onde passava, mas o auge da carreira começou em 1982 com The Number Of The Beast. Os sucessores Piece Of Mind e Powerslave solidificaram o Maiden como um dos pioneiros desta nova safra de bandas britânicas. Contando histórias que abrangiam contextos e acontecimentos históricos, eles continuam sendo referências do metal até os tempos atuais. Em suas apresentações, o atual sexteto continua investindo fortemente em estruturas grandiosas de palco com elementos cenográficos gigantescos e muita produção em efeitos visuais.
Com influências do punk e de sonoridades interioranas, Lemmy Kilmister e Motörhead era uma das partes mais “sujas” do metal na época. Eles já haviam lançado alguns álbuns na segunda metade do período anterior, mas foi com Ace Of Spades, de 1980, que o trio se tornou um dos destaques da época.
Já o Judas Priest, que foi formado em 69 e até iniciou sua carreira no heavy metal nos anos 70, ganhou popularidade nos anos 80 com os excelentes British Steel e Screaming For Vengeance. Faixas como “Breaking the Law“, “Living After Midnight” e “Electric Eye” se tornaram hinos da geração apaixonada por metal. Com o passar dos anos, o quinteto começou a investir também em suas performances ao vivo que são muito bem elogiadas até hoje. Além disso, a banda foi uma das primeiras do metal a terem como frontman um homossexual.
A extravagância Glam e a vida de excessos
Se na Inglaterra as bandas ganhavam mídia por fazerem trabalhos grandiosos e estrondosos em relação a sonoridade, no outro lado do oceano, na Califórnia, as cores e roupas extravagantes continuavam um sucesso. Canções sobre curtição era divertimento entre a jovialidade dos árduos consumidores de música da cena, mas foi com a explosão do Glam Metal que os Estados Unidos voltou a produzir grandes grupos de rock. Na famosa Sunset Strip, os glams falavam sobre excessos: uso e abuso de drogas, muita bebida, festas e sexo. Influenciados por artistas do hard rock e do heavy da década anterior como Aerosmith e Kiss, a primeira leva de bandas do gênero que ganharam notabilidade foram: Mötley Crüe, Skid Row, Poison, Ratt, W.A.S.P e Quiet Riot, além do próprio Kiss que, em 80, partiu para uma atmosfera mais festiva e se modernizou no glam.
O estilo de vida do público desse cenário era refletido diretamente em suas maquiagens, cabelos e vestuários. Na segunda metade da década, dois dos maiores nomes da história do rock surgiram: Bon Jovi e Guns N Roses, bandas muito influenciadas por este movimento, mas também imersos na sonoridade hard rock de Aerosmith, Def Leppard e Whitesnake.
O grupo de Jon Bon Jovi lançou seu primeiro trabalho em 84, homônimo, e vendeu mais de meio milhão de cópias em sua estreia. Com o hit “Runaway”, a banda parecia estar se tornando um dos grandes nomes do hard e do glam naquele período, mas decepcionaram demais público e crítica com o sucessor 7800° Fahrenheit. Foi então que eles resolveram voltar a focar em sua música e produziram os dois melhores discos da carreira: Slippery When Wet e New Jersey. Com uma sonoridade que mesclava hard rock, glam metal e pop rock, eles alcançaram números incríveis e conquistaram uma legião de fãs ao redor do planeta. Faixas como “You Give Love A Bad Name“, “Livin’ On A Prayer“, “Wanted Dead Or Alive“, “Bad Medicine” e “Born To Be My Baby” se tornaram clássicos do subgênero.
No caso da banda de Axl Rose e Slash, o álbum de estreia, Appetite For Destruction, foi um marco na indústria da música. O trabalho estreou em primeiro lugar nas paradas americanas e já vendeu mais de 18 milhões de cópias só nos Estados Unidos. O Guns foi a primeira banda de hard rock dos anos 80 a alcançar o topo das paradas de sucesso. Este disco fez com que o grupo alcançasse o sucesso meteórico no país e no resto do mundo, enquanto eles ainda estavam abrindo shows para nomes como Rolling Stones e Iron Maiden. “Welcome to the Jungle“, “Paradise City” e “Sweet Child o’ Mine” são até hoje hinos do rock and roll.
Por um outro lado, os anos oitenta também foram MUITO marcados pelo surgimento de bandas proeminentes do metal que, a partir dali, viriam a ser muito importantes para o gênero, como Metallica, Megadeth, Anthrax e Slayer, o famoso “Big Four”, além da recém-lançada carreira solo de Ozzy Osbourne, que também foi um enorme sucesso.
O Metallica se tornou uma das maiores referências por seus arrebatadores trabalhos Kill ‘Em All, Ride The Lightning, Master Of Puppets e …And Justice For All, por mais que tenha conseguido um apelo comercial maior ainda no disco homônimo de 1991. Todos estes discos tornaram este novo estilo em um dos maiores movimentos dos anos 80, colocando as bandas de metal novamente nas rádios. O Megadeth com Peace Sells… but Who’s Buying?, o Slayer com Reign In Blood e o Anthrax com Spreading The Disease foram os percussores do estilo que posteriormente abriram as portas para dezenas de outras vertentes do gênero.
INÍCIO DO GRUNGE
Se em Los Angeles o Glam tomava conta, em Seattle as coisas acabaram indo por caminhos bem diferentes e até opostos, por assim dizer. Em meados de 1980, as primeiras bandas de um novo movimento começaram a se formar, um movimento hoje conhecido como Grunge: uma variação muito mais suja, lenta e pesada do punk rock, o grunge ganhou espaço de forma até silenciosa, já que pouca gente, além dos que estavam ali, sabiam o que de fato estava acontecendo. Nos anos que se seguiram, dos subúrbios da grande Seattle até à pequena cidade de Aberdeen, o estado de Washington foi sendo gradativamente contaminado por uma onda cultural que viria a tomar conta de praticamente o mundo inteiro. Em 1985, o primeiro lançamento grunge chegou às lojas, o visceral Come On Down do Green River, que trazia uma bela mistura de heavy metal, punk rock, tudo envolto em uma grande sujeira sonora. Meses depois, a C/Z Records lançou o que hoje é reconhecido como o disco mais importante daquela era, a compilação Deep Six, que tinha o intuito de mostrar ao mundo o que de fato estava acontecendo em Seattle naquele momento. As seis bandas contidas no álbum, Soundgarden, Malfunkshun, Green River, U-Men, Skin Yard e Melvins, trouxeram à tona uma sonoridade até então jamais vista, cada um à sua maneira, com elementos de heavy metal, hard rock, punk rock e momentos mais pesados que beiravam o sludge metal.
A identidade sonora de cada uma dessas bandas seria influente o suficiente para dar início a uma leva totalmente nova de artistas e, nesse meio tempo, das cinzas do Green River e do Malfunkshun, nasceram o Mudhoney e o Mother Love Bone, que por sua vez, com a morte de seu líder Andrew Wood, daria origem ao Pearl Jam e ao Temple of The Dog. No mesmo período, já no final da década de oitenta, surgiram Nirvana, Alice In Chains, Tad, Screaming Trees, Candlebox e Gruntruck.
Além da já citada C/Z Records, também existe uma gravadora que também foi responsável por lançar compilações e álbuns imprescindíveis do grunge, a Sub Pop, cujas compilações Sub Pop 200 e The Grunge Years foram de suma importância para a divulgação do gênero. O selo, que continua ativo até hoje, também foi responsável por lançar Love Buzz/Big Cheese, o primeiro single do Nirvana, Bleach, o álbum de estreia da banda, e os primeiros dois álbuns de estúdio do Tad, God’s Balls e 8-Way Santa, além do EP Salt Lick.
O ROCKNBOLD te conta mais sobre um dos maiores marcos da história do rock no próximo post!