Após liberar alguns singles, os paulistas da banda Justa Vingança mostram sua força em mais 3 lançamentos inéditos de estúdio
O hardcore nasceu das ruas, e é nas ruas que ele deve seguir! Levantar bandeiras, apoiar causas e mostrar a força que a união tem, são princípios básicos que o gênero sempre se propôs a estampar. E é nesses moldes que o Justa Vingança?, banda de Indaiatuba, interior de São Paulo, que vem fazendo um barulho de respeito na cena de hardcore nacional, estruturando seu espaço e dialogando com todas as gerações possíveis. Após lançar um EP contendo 6 faixas (2018), gravadas ao vivo na terceira edição do festival Hardcore por um mundo mais digno, organizado pela banda paulistana Escombro, o Justa soltou dois singles de estúdio de músicas que também constaram nesse Ep, sendo N.D.P.A.” e “O Gosto do Desgosto”, movimentando as plataformas pra algo que viria mais pra frente.
No final do ano passado, os caras liberaram o single “Respeita Nós”, que gerou grande repercussão, e hoje liberaram o EP de mesmo nome, contendo a faixa homônima e mais três sons inéditos de estúdio, finalizando os trabalhos gravados ao vivo. Trocamos uma ideia com Hugo Milanio, vocalista do Justa pra saber um pouco mais sobre trajetória, inspirações e novidades. Cola aí e RESPEITA NÓS!
Rocknbold – Com quase 5 anos de estrada, conta um pouco pra gente como o Justa Vingança? começou.
Hugo – O Justa Vingança? inicia em 16, o centro e líder da banda é o meu parceiro de longa data William Caproni um irmão na música e fora dela, nossa parceria vem desde 1997, costumo dizer que quem tem o Caproni na banda tem 80% de uma banda pra colocar na estrada, o mano é correria! Ele tira foto, edita, faz vídeo, edita, posta nas redes, responde os comentários, corre atrás de shows, organiza evento para Extremamente Grave desde o início do século, faz arte pra merch, capa dos singles e o escambau e ainda é pai e marido, um homão da porra! Partindo da centralidade (William) vai sair o direcionamento das composições o Thiago traz a maioria das bases e o William faz a mágica acontecer, e ainda temos uma arma secreta nosso batera Raoni, um monstro, rápido, preciso e criativo nada passa despercebido da base pra ele, cada palhetada tem uma nota de batera, prestem a atenção e depois me fala, o Lu nosso baixista é um talento nato, toca com os dedos e com uma pegada descomunal, parte da nossa diferença, já que no HC a palheta é a regra no HC, eu tento cantar com clareza no meio de todo esse peso e tento a qualquer custo que entendam, isso é o meu objetivo, por onde passamos as pessoas entendem o que estamos fazendo, vai além de um show de HC é um ato político um ato revolucionário (vejam nosso show é muito bom). (Só depois da vacina beleza?)
Esse não é bem o início da banda, mas é o resultado de todo o processo, antes de fechar o time tínhamos uma ideia, a banda se forma com a consolidação dessa ideia, tivemos o Rodrigo na batera no início de tudo, amamos ele também, mas ele fez parte do processo, fez parte da ideia Justa Vingança?
Rocknbold – O cotidiano pesado está presente com força nas composições do Justa. Como as letras surgem pra vocês? E atrelado a isso, quais as referências musicais da banda?
Hugo – O Justa Vingança? se trata de uma banda de posicionamento e também de provocação, é importante deixar claro o viés da banda e ao mesmo tempo lidar com as feridas abertas, inclusive as nossas, as letras causam discussões nos ensaios, dúvidas surgem com frequência e as temidas contradições ficam expostas, sendo assim a responsabilidade de como a banda vai se expressar está em minhas mãos, e como bem sabemos juntar duas pessoas que pensam da mesma forma é impossível imaginem cinco. Normalmente eu exponho uma ideia de letra ou assunto e vou debatendo com a banda pra sentir se aquele assunto causa reações interessantes internamente, do mais lidamos com conjuntura, a arte é fruto do seu tempo e estamos vivendo um momento terrível desde o golpe de 16 e a eleição de Bolsonaro em 18.
Nossas letras além de expor os problemas também propõe soluções, acreditamos que estamos fazendo um bom trabalho, basta aliar tudo isso a atitudes para fazermos parte de uma mudança profunda na nossa sociedade, o brasileiro precisa se radicalizar e a banda vai ajudar nesse ponto custe o custar. Nossas influencias são bastante abrangentes musicalmente, vai do metal ao HC melódico, até por isso nosso som não tem uma cara, não reinventamos a roda, mas temos nosso estilo e nos orgulhamos disso!
Rocknbold – Hoje foi pro ar o primeiro EP de estúdio da banda, contendo músicas já existentes, mas que estavam disponíveis apenas em versões ao vivo. Qual o sentimento de vocês poderem fidelizar o som que vêm de anos?
Hugo – Pessoalmente, eu sinto que esse é o melhor material que coloco na rua, tive várias bandas, gravei com gente que admiro muito, mas hoje com 39 anos sinto que cheguei onde gostaria de estar musicalmente. Gravamos com o Márcio Pacheco Júnior em seu Home Estúdio, num processo bastante intimista a banda produziu junto com ele, principalmente o William que é bastante exigente e o Marcião não nos decepcionou, um amor de pessoa e bastante talentoso, fez uma mix monstra pra gente!
Realmente gravamos as músicas depois de um tempo de estrada, e como o Justa Vingança é uma banda de estrada ir pro estúdio eternizar essas músicas que funcionam tão bem ao vivo, confesso que não é fácil, afinal a música já não é só sua, quando vai pro palco o público também participa da lapidação da música, tem uma certa pressão sabe, tem uma responsabilidade a mais, afinal a experiencia tem que ser na mesma pegada do ao vivo ou superior e não é fácil, mas vou dar um spoiler, ficou foda! Escutem esse diacho e depois falem com a gente!
Rocknbold – O single “Respeita Nós” entrou para o canal Hardcore Worldwide, um dos maiores portais de hardcore da atualidade. Qual foi o sentimento com essa conquista?
Hugo – Foi insano, esse canal é especializado no estilo, muitas bandas fodas estão lá, sou inscrito do canal, foi realmente mais do que imaginávamos, o clipe chegou em vários lugares do mundo, orgulho de colocar essa música e esse clipe para o mundo assistir, Respeita Nós é muito importante pra banda, e o momento em que vivemos no Brasil de intensificação do racismo institucional e também do racismo cotidiano, afinal, nossos inimigos estão no poder e eles querem nos matar e o pior, estão conseguindo. Precisamos reagir, colocar esse clipe pra cena HC mundial poder assistir é importante! Só temos a agradecer ao Hardcore Worldwide pelo espaço e respeito.
Rocknbold – Existem outras composições inéditas que a galera pode esperar do Justa pra esse 2021?
Hugo – 2021 ainda é uma incógnita, a banda parou os ensaios desde o início da pandemia, estávamos trabalhando em novas músicas, algumas já em faze final de arranjo, mas é aquilo, o Justa Vingança? é uma banda de conjuntura, o que estava acontecendo no Brasil e no mundo no início de 2020 se agravou muito, depois de vacinados vamos juntar as ideias e colocar em pratica, mas se tem algo que vai acontecer serão os shows para lançar esse EP como ele merece em cima palco!
Rocknbold – Pra gente fechar, qual a mensagem e os planos futuros que vocês pretendem lançar pra galera que acompanha o trampo de vocês?
Hugo – O plano é participar da reconstrução da cena de Indaiatuba, nosso patrimônio underground o Plebe Bar foi vítima da pandemia e fechou as portas, vamos olhar pra dentro de casa primeiro falar com as bandas da cidade e começar a reconstruir uma cena muito potente que estava se formando na cidade, Indaiatuba tem bandas de muitos estilos e com ótimos músicos e com grandes pessoas, depois disso ou em paralelo a isso vamos cair na estrada e tocar, matar a saudade dos nossos amigos de outras cidades, berrar no microfone na fuça dos vocalistas (tudo) sem medo de vírus, colar com as Mina e com as Monas, aproximar o discurso da realidade e dar início a revolução brasileira!
O Justa faz um som sem medo de defender aquilo que pensa. Se identificou e curtiu a proposta dos caras? Dá o check nas redes sociais e nas plataformas que o sucesso é mais do que garantido. Deixo com vocês esse EP foda que acabou de sair e mais uma vez: RESPEITA NÓS!
