Faca Preta e o grito de resistência no punk brasileiro

Trocamos uma ideia com a banda de punk Faca Preta sobre a carreira, lançamentos e o futuro da banda após o último lançamento, o single “Dias Melhores”.

O punk surgiu em meados dos anos 70, e além de todo o visual afrontoso (piercings, moicanos, roupas rasgadas, coturnos e jaquetas cheias de patches), algo muito presente, e o que fez o movimento ficar forte, foi o questionamento constante em cima de temas como política, cotidiano, e o way of life da época que deixava a juventude altamente insatisfeita. No Brasil, o punk chegou como uma crítica ao regime militar, que veio com o golpe de 64, afrontando a população, calando e segregando o sonho de muitos jovens do país. Nesse sentido, em 1978 nasce a primeira banda punk brasileira, a Restos de Nada, e com ela, uma enxurrada de outras bandas que abraçaram o espírito de revolução cultural e, sem tempo, colocaram o governo para dormir com um olho aberto, só esperando quando outra letra ou performance contestadora surgiriam para colocar a tropa de choque na rua. Outros exemplos de bandas que nasceram nessa época são: Inocentes, Ratos de Porão, Aborto Elétrico (que mais tarde cederia membros para a criação do Legião Urbana) e os Replicantes.

Em meio a tudo isso, esse espírito punk respira até os dias atuais. Em 2013 nasce uma das bandas que se colocaram no circuito do punk brasileiro com louvor. Estamos falando do Faca Preta, que tem um self-titled na praça, e acabou de lançar o novo single de nome “Dias Melhores”, abordando o descontentamento e a insatisfação com o atual governo brasileiro. Por esse motivo, o ROCKNBOLD trocou uma ideia com o guitarrista Anderson Boscari. Vem com a gente!

Dias Melhores
imagem: Divulgação do single “Dias Melhores”

ROCKNBOLD – O Faca Preta começou em 2013, como foi o encontro para que o projeto tomasse vida?

Anderson – O encontro aconteceu em um show do Blind Pigs. Eu, Fabiano e Shamil, que tocou baixo com a gente, saímos do show com a vontade de voltar a tocar juntos, já que havíamos tocado no Inkognitta há alguns anos. Depois disso ainda demorou um tempo pra gente se organizar, achar um baterista e um outro guitarrista, mas a ideia inicial rolou nesse dia.

ROCKNBOLD – Com um único lançamento em 2015, o EP homônimo, vocês continuaram compondo e se preparando durante esses 5 anos? Além, claro, de fazer shows?

Anderson – Depois do lançamento a gente continuou compondo e fazendo shows, porém nesse período, 2 bateristas saíram da banda, o que sempre gerava um tempo maior pra gente se reorganizar, e começar a pensar nas novas composições.O Marcelo que está na bateria hoje, entrou pra cobrir um show quando estávamos sem baterista e depois da entrada dele, começamos a trabalhar novamente todas as músicas que tínhamos, de todas as fases, e deixar elas realmente finalizadas, prontas pra serem gravadas.

Faca Preta no palco
Foto: Faca Preta / Daniel Silva

ROCKNBOLD – O punk rock é, desde sua criação, contestador das hegemonias. Atualmente vivemos um momento difícil em questões sócio-políticas no nosso país. Na opinião de vocês, qual a importância de se posicionar quanto a isso, principalmente por meio da arte?

Anderson – Pra gente a arte é uma das principais formas de manifestação de opinião. É importantíssimo que nesse período todos os artistas se posicionem, sejam bandas de punk rock, ou de qualquer outro estilo. Alguns estilos têm um alcance muito grande, e o diálogo entre música e ouvinte é muito direto, o que torna esse entendimento mais rápido.

ROCKNBOLD – O brindado single “Dias Melhores” vem de encontro com a última pergunta. Como foi a receptividade do público quanto à música, mais especificamente com a letra e as palavras de ordem dentro dela?

Anderson – A receptividade do single e do clipe estão muito além do que a banda esperava. A gente recebe mensagem de amigos, de pessoas que curtem a banda, pessoas que começaram a curtir por causa da música… A nossa gravadora Hearts Bleed Blue tem feito um trabalho incrível na divulgação, e é muito legal ter um trabalho reconhecido. Um trabalho feito com muito suor e carinho por todos nós, e por todos os nossos amigos que abraçaram e se envolveram na ideia desde o princípio.  

ROCKNBOLD – Além do novo single, o que o Faca Preta está preparando pra galera que ficou entusiasmada com “Dias Melhores”?

Anderson – Estamos com nosso primeiro disco pronto, mas antes ainda vamos lançar mais um single, quem sabe acompanhado de um videoclipe. Tudo ainda sem data, devido principalmente a pandemia. A ideia é que possamos junto com o disco fazer uma tour de lançamento, passando por todos os lugares possíveis.

Pra quem pensa que o punk tá quietinho, se enganou em cheio! Criticar o governo é o atual passatempo preferido do brasileiro, e claro, de qualquer cidadão insatisfeito com tudo que vem sendo feito nesse mundo que vivemos. Pra quem interessou no trampo dos caras além do single “Dias Melhores”, é só descer e ouvir o self-titled dos caras. Como já diria o príncipe punk do Brasil: C’mon Kids!!

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