Joshua esbanja amargura e potencial em “Joshua Bassett”

Depois de animar nosso início de ano com rumores de um triângulo amoroso com as também cantoras Sabrina Carpenter e Olivia Rodrigo (seu par romântico em ‘High School Musical: The Musical: The Series’ e dona do vozeirão de ‘drivers license’), Joshua Bassett finalmente lança seu EP de estreia. No disco autointitulado, o ator fala sobre traições e relacionamentos amorosos anteriores com uma expressividade impressionante, variando entre a doçura de uma pessoa que está descobrindo o amor à sagacidade de quem já viveu muitas decepções nesta área da vida.

Não há dúvidas de que uma das maiores expectativas para este álbum vinha de quem esperava por mais um capítulo do drama entre os artistas de HSMTMTS. Contudo e apesar de o artista ter afirmado em entrevista ao Buzzfeed que prefere não dar informações sobre o contexto em que as músicas foram compostas, boa parte das composições são anteriores à linha do tempo do drama – o álbum já estava praticamente pronto e programado para sair no meio do ano passado. Ainda assim, as faixas surpreendem e encantam por si só.

Em uma mistura de influências que vão desde Billy Joel a Harry Styles e Ed Sheeran, “Joshua Bassett” conta com seis músicas em sua maior parte já conhecidas do público e carregadas por um som acústico, um pouco inesperado para o ano de 2021.

Joshua Bassett

‘Sorry’, faixa que abre o EP, o faz de uma maneira um tanto singular ao resto do álbum. Diferente do material mais conhecido de Joshua, a música não é um poema em primeira pessoa. Aqui, o cantor faz o narrador onisciente do término de namoro conturbado de uma amiga do artista. A faixa é carregada pelo piano, abre com licks à Billy Joel, e acelera mais à frente com a entrada dos demais instrumentos. A música é aguçada com a letra perspicaz de Bassett e com as alterações de tom e produção a cada pré-refrão. ‘Sorry’ tem um grande potencial para um futuro single e é uma das mais cativantes do álbum.

A segunda faixa, ‘Do It All Again’ é uma canção doce, mas mais fraca. O cantor recorda um relacionamento passado e como, apesar das dificuldades, faria tudo de novo. Às raízes, Joshua traz uma balada de som acústico, conduzido pelo violão e a seguir pelo piano. A música é provavelmente a mais fraca do álbum, mas é também injustiçada pela sua posição no álbum. Logo após uma entrada animada e carismática, ‘Do It All Again’ ainda é sucedida por ‘Lie Lie Lie’, o primeiro single do EP e uma das preferidas do público.

‘Lie Lie Lie’ tem uma grande história por si só. Anunciada no mesmo dia que ‘drivers license’, a faixa é estigmatizada por muitos que a veem como uma resposta fraca de Bassett às acusações de Rodrigo. A faixa, no entanto, é animada e muito boa. A entrada tem um quê de John Mayer, mas o tom acústico com que a música se inicia é muito mais “decorativa” e complementar. A música é catchy e a expressividade de Joshua é impressionante: é palpável o desgosto do cantor pela pessoa para quem canta.

Esta expressividade é mais uma vez triunfante em ‘Only a Matter of Time’. Segundo o artista, a música foi escrita no verão americano de 2020 – provavelmente em resposta à acusação de assédio sexual que o cantor recebeu na época. A música é inundada pelo piano e parece ser composta pelo próprio carma. A instrumentalização e produção são bem sucedidas em trazer a sensação de passagem de tempo e a voz de Bassett traz o peso impiedoso e cruel do carma. Promissora, a música só desliza no final anticlimático.

‘Telling Myself’ é o mais recente e, também, o mais agitado single do EP. A música é inédita e veio para tomar o lugar de ‘We Both Know’, dueto de Bassett com Sabrina Carpenter que foi descartado após a atenção em volta do possível casal. A decisão final é uma bela adição ao EP, trazendo um som mais atual e carregado de pop-rock para o álbum. Os elementos orquestrados (o contrabaixo e a trompa sintetizada) são uma ótima variação ao piano e violão, favoritos do cantor, e guiam a narrativa de uma maneira energizada.

O EP finaliza com ‘Heaven is You’. A música foi composta por Bassett e Carpenter na mesma época em que escreveram a rejeitada ‘We Both Know’. É uma faixa mais calma, doce e romântica do que as três anteriores. Enquanto as antecessoras falam das mágoas em um relacionamento, ‘Heaven is You’ fala sobre encontrar o paraíso na pessoa amada. No instrumental, a guitarra e o piano fazem aparições ilustres, mas fazem um papel complementar aos vocais. É uma bela maneira de terminar um álbum que, de outra forma, poderia deixar um gosto amargo demais.

Em suma, “Joshua Bassett” é provocante, animado e sincero. O som ao longo de todo o disco é muito bem construído e coeso entre si, mesmo que isto signifique que, com apenas seis músicas, o álbum não consiga trazer grande variação. Ainda assim, o EP faz um trabalho excepcional em apresentar o artista às massas.

Bassett segue fazendo o que conquistou o público de sua série, cantando canções honestas e um tanto inocentes ao som do violão, mas também traz esta honestidade e estilo marcantes a um tom mais venenoso e ressentido de quem aos poucos perde a ingenuidade sobre o mundo. O EP traz um gosto de “quero mais” à audiência que, espera-se, logo será atendido. O cantor revelou recentemente estar trabalhando em seu primeiro full-album.

9/10

Ouça o EP “Joshua Bassett”!
Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Related Posts
[ANÁLISE] Billie Eilish, a rockstar da geração Z
Leia mais!

Billie Eilish: A rockstar da geração Z

Billie Eilish já era conhecida nas profundezas dos adolescentes amantes de pop alternativo, com suas letras melancólicas e voz harmônica (que, mesmo que não atingindo notas altíssimas ou difíceis, o que muita gente usa como argumento para desmerecer os prêmios vencidos, é capaz de construir camadas excelentes). Mas foi com o álbum de estreia que ela criou essa esfera meteórica ao redor de si.