Darko (US) Estreia disco que dialoga com tempos conturbados

Projeto com membros do Emmure e Chelsea Grin pega a experiência do primeiro EP e eleva musicalidade apresentando um disco mais versátil e maduro.
Projeto com membros do Emmure e Chelsea Grin pega a experiência do primeiro EP e eleva musicalidade apresentando um disco mais versátil e maduro.

Já imaginou qual seria o resultado do professor Utônio de As Meninas Superpoderosas misturando três bandas como Meshuggah, The Dillinger Escape Plan e Whitechapel em sua fórmula? Nem precisa perder tempo imaginando isso, pois o resultado está entre nós e é o disco auto-intitulado do Darko (US).

Formado por Tom Barber, do Chelsea Grin, nos vocais e Josh Miller, Emmure, em todos os outros instrumentos. O projeto executa a abordagem do mathcore iniciada anos atrás e encabeçada por Joshua Travis no já extinto grupo The Tony Danza Tapdance Extravaganza. Ele pega todo o caos cacofônico do mathcore e funde com a complexidade da polirritmia tão popular no “djent”.

Darko (US) disco

O disco se inicia com “Splinter Cell”, que toma poucos segundos para se iniciar e já começa por desorientar o ouvinte nos seus primeiros segundos com a opressão das guitarras e tons sombrios dos teclados que vão se desenvolver durante toda a música. A próxima, “Fiend Dream”, vê mais uma avalanche cacofônica, com grande ênfase na dissonância das guitarras, enquanto os vocais cantados rapidamente, abordando a temática da saúde mental, acompanham o ritmo do groove que não desacelera.

Pouco explorado em outros grupos desse gênero, Darko possui faixas com um imenso peso que se mantém numa estrutura mais acessível, mantendo o formato padrão de verso e refrão que faz com que o caos musical se torne mais controlado e compreensível.

Eis que chegamos em “Donna”, um dos singles lançados antes da estreia do disco, que vê o grupo desacelerar um pouco o tom e trabalhar algo mais emotivo e frágil. A música retrata o falecimento da avó do instrumentista e conta com acordes melancólicos e vocais limpos mais íntimos e gritos de “médio alcance” que agregam na emoção. A faixa traz o peso no seu conteúdo e não nos instrumentos em si.

A partir de “Pretenders”, faixa em que o pedal duplo é contínuo e praticamente não se desliga, temos o primeiro feat. Sendo as participações, um dos maiores acertos do álbum, já que eles agregam uma presença considerável em toda a faixa. Aqui, Ben Duerr, do Shadow of Intent, traz seu icônico gutural para carregar a faixa da metade para o fim.

“Praise The Sun” é, não apenas no nome, mas em toda sua letra, uma homenagem ao jogo Dark Souls, mais especificamente à jornada de Solaire, amado personagem da franquia, retratando o seu destino cruel. O grande destaque nessa faixa é a ambientação incômoda produzida pelas guitarras que, além de tomar diferentes rumos, domina toda a faixa.

Em “The Last of Us”, a faixa mais curta e de longe a mais “revoltada”, a intensidade parece não ter limites à medida que ela se amplia a cada segundo. Ponto para a produção do disco que engrandece o som à medida que a faixa progride até todo esse frenesi ser interrompido por um dos breakdowns mais satisfatórios.

“Daniel” é uma das maiores obras do disco, pois além de ter os melhores feats – Courtney LaPlante, do Spiritbox e Johnny Reeves, do Kingdom of Giants – a música transporta o ouvinte para uma ambientação semelhante à Linkin Park com uma atmosfera à la Blade Runner 2049. Aqui os vocais limpos de Tom são diferentes dos apresentados anteriormente, diversificando ainda mais a tracklist e até remetendo ao tom de Mike Shinoda. LaPlante e Reeves assumem o protagonismo acompanhados pelo sintetizador que carrega o ouvinte até o clímax com uma explosão de feeling que encerra a faixa.

Em “Mars Attacks”, as guitarras carregam uma atmosfera que casa muito bem com um sentimento de paranóia ambientado em uma ficção científica, enquanto dispõe dos vocais utilizando os guturais para amplificar toda essa sensação. Isso sem falar que aqui incorporam um trecho que poderia facilmente estar presente em uma música de drum and bass.

Em seguida, mais dois singles: “Pale Tongue” e “Insects”. Enquanto o primeiro é mais centrado em um groove que é desenvolvido no decorrer de sua duração, o segundo já aposta em alterações de ritmo e também presenteia quem já estava com saudade dos abandonados “BLEGH!” do Sam Carter, do Architects.

A essa altura do campeonato, dá para perceber que seria possível gastar uma página inteira falando da performance vocal, que além de transitar por várias áreas, indo do vocal mais limpo e introspectivo até um pig squeal, é uma das melhores da carreira de Tom, mas o grande show aqui é de Josh Miller, que além de cuidar do restante, faz com que cada instrumento tenha algum momento para brilhar com uma fórmula musical que pode até soar repetitiva e cansativa, mas ele oferece suficientes variações para uma melhor experiência.

A penúltima faixa, “If This is Forever”, que parece ter alguma influência do liquid dubstep, é calma e gentil. Aqui somos levados por uma melodia de piano que é cada vez mais e mais presente, até se misturar com o restante dos instrumentos. Assim como “Daniel” e “Donna” esse contraste cai como uma luva para a experiência sonora proposta aqui. Além do senso melódico e da versatilidade musical, isso impede o cansaço da experiência que pode ser exaustiva se não bem dosada.

“Darko” encerra o disco com um ponto forte, contando com um começo mais desacelerado que vai se desenvolvendo até o dueto final, com a excelente participação de Nick Arthur, do Molotov Solution. A opressão sonora das guitarras dá espaço para efeitos que parecem sair de um sintetizador até se encerrar de forma consideravelmente abrupta, deixando um gostinho de “quero mais”, talvez proposital já que o próximo disco está muito bem encaminhado.

Darko cria uma atmosfera de ficção científica em sua duração fazendo com que todas as faixas pertençam a um quadro maior. Além disso, também utilizam o caos incômodo em momentos certeiros, ao mesmo tempo que o dosam e faixas que desaceleram e permitem o respiro do ouvinte.

Indiscutivelmente, essa é a melhor performance de ambos os músicos em suas carreiras, seja em composição ou execução. Além de ser um disco satisfatório pelo alto valor de replay proporcionado. A cada play, um novo elemento que estava “escondido” é descoberto. É um disco farto de pequenos detalhes que compensa mais de uma ouvida.

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