Cinco álbuns curtos para você conhecer

Escolhemos cinco discos que não atingem trinta minutos de duração de artistas que vão do punk até o death metal e valem cada segundo do seu tempo nessa semana!

O ditado popular mundial onde se afirma que “tempo é dinheiro” nunca foi levado tão ao pé da letra quanto na realidade caótica do mundo moderno. Assim como na vida, a indústria fonográfica tem cada vez mais entregue inúmeros trabalhos extensos, de gêneros e estilos variados. Entretanto, há certo apelo público por trabalhos que possuam duração menor que os padrões comercializados por aí nos tempos atuais.

Dito isto, o ROCKNBOLD separou cinco discos que não atingem trinta minutos de duração de artistas que vão do punk até o death metal e valem cada segundo do seu valiosíssimo tempo (fãs de outros estilos, a vez de vocês vai chegar em breve)!

Confira a lista abaixo:

Unsilent Death, do Nails, com 13 minutos e 52 segundos

A Look Back At Nails' Harrowing Debut Album 'Unsilent Death' With Vocalist  Todd Jones - Features - Rock Sound Magazine

Formada em 2009 pelo ex-guitarrista do grupo de hardcore Terror, Nails é o projeto criado por Todd Jones que abrange outra faceta do gênero que o mesmo tocava anteriormente. Trazendo hardcore e o punk de forma muito mais abrasiva possível, a sonoridade do grupo se encaixa no que é chamado de powerviolence, gênero que alguns definem como um crossover do grindcore com o metal extremo, e talvez não há melhor forma de descrever a musicalidade de Nails.

O primeiro disco, Unsilent Death, que fica pouco abaixo da marca dois catorze minutos traz uma experiência insana e rápida, com poucas músicas ultrapassando a marca dos dois minutos, a velocidade do hardcore punk fundida aos riffs de metal responsáveis por imensos moshpits em apresentações ao vivo chamaram toda a atenção da comunidade do desses gêneros pela capacidade do grupo em escrever músicas extremamente curtas que possuem uma imensa brutalidade sonora, sabendo dispor cada qualidade do grupo cada faixa.

A produção do disco é feita por Kurt Ballou, do Converge, e aqui ele executa sua marca registrada de amplificar a cacofonia musical. Espere por gritos maníacos que fazem parecer que Todd está revoltado logo ao seu lado, uma bateria com blast beats fervorosos e grooves potentes, guitarras com riffs que, apesar das durações das músicas, tendem a ser infecciosos, e um baixo onipresente, que amplifica toda a insanidade proposta. São catorze minutos de uma morte nada silenciosa mesmo, que satisfaz enquanto exige por um replay.

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Shadow of Life, do Umbra Vitae, com 26 minutos
Album Review: UMBRA VITAE Shadow of Life

Umbra Vitae é um supergrupo de death metal formado em 2020 e conta com membros Converge, Job For a Cowboy e The Red Chord. Também produzido por Kurt Ballou, que mais uma vez utiliza o melhor do background de cada um de seus membros, que vai do hardcore e death metal, até o grindcore e post-rock.

Com 26 minutos de duração, Shadow of Life é um grande assalto de death metal que utiliza do melhor que cada um de seus membros tem para oferecer, especialmente a bateria de Jon Rice. Mas o disco não fica apenas na abrasividade e peso, também utilizando de momentos melódicos para criar ritmos atmosféricos e sinistros de forma que a musicalidade respire novos ares com essas passagens.

Um ponto positivo no disco são as letras, compostas por Jacob Bannon, endereçam problemas atuais de forma a escapar do padrão gore imposta pelo gênero, que apesar de menos presente, ainda compõe muitos nomes do cenário hoje. Além das letras, a performance vocal é amplificada com os presentes back vocals, tornando essa área mais dinâmica.

Ele não reinventa a roda do gênero, nem abusa no experimentalismo, mas é um disco de death metal extremamente consistente em sua qualidade ao contar com um dos melhores arsenais do underground. Tendo uma proposta clara e objetiva e usando do seu tempo de duração de forma direta sem se prolongar desnecessariamente.

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Canada Songs, do Daughters, com 11 minutos e 12 segundos
Canada Songs | Daughters

Antes de se tornarem o grande nome do noise rock que são hoje, Daughters, soava como a banda de mathcore mais imprudente de seu período. Esse álbum  é um filho entre Napalm Death e The Dillinger Escape Plan,  com estruturas musicais não ortodoxas e com trocas de andamento súbitas, tudo isso em faixas que dificilmente ultrapassam 1 minuto de duração.

Aqui tem de tudo um pouco do que se apresenta no mathcore, só que basicamente tudo comprimido dentro de poucos segundos. Devido a duração das faixas, não há tempo de se criar uma antecipação para um breakdown, mas quando eles vêm, eles são potentes. As guitarras passam boa parte do tempo produzindo melodias dissonantes e incômodas, enquanto os vocais, que hoje o grupo mais adota de uma forma “falada”, aqui parecem algo do disco Jane Doe, gritos incompreensíveis que casam com o caos controlado, que apesar de parecer aleatório, é bem executado.

O disco, apesar de toda qualidade, se demonstra datado principalmente nos nomes das músicas, com aqueles nomes absurdamente grandes e até estúpidos que tanto permearam o metalcore nos anos 2000. Mas a grande qualidade do Canada Songs é seu descompromisso com as normas do gênero, soando  estranho e inacessível até para um dos subgêneros menos convidativos da música e isso diz muito sobre sua sonoridade. São 11 minutos de duração que, obviamente, passam voando, mas satisfazem em sua visão artística.

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Reign in Blood, do Slayer, com 28 minutos e 55 segundos
Reign In Blood - Album by Slayer | Spotify

Claro que não poderia faltar um dos mais lendários da história do thrash metal, ora, do próprio metal mesmo, nessa lista. Com quase apenas 29 minutos e produzido pelo mestre Rick Rubin, Reign in Blood catapultou Slayer do status de grupo promissor no thrash metal para provavelmente um dos maiores e mais influentes nomes do metal extremo, com grande atenção no mainstream. E essa influência se estendia além da visão musical, mas também na estética visual.

Rápido e potente, a dupla Kerry King e Jeff Hannemman funciona como uma força imparável, seja nos riffs que tornam impossível a tarefa de não se banguear, ao mesmo tempo que os solos frenéticos casam perfeitamente com a sonoridade. Isso tudo sem contar a performance de Dave Lombardo, que acaba com a necessidade de qualquer exercício físico por anos, pedais duplos e velozes viradas na bateria são o mínimo que ele faz aqui.

A verdade é que a influência de Reign In Blood no mundo do metal é incomparável. Sim, muitas bandas inspiradas nele surgiram, mas desde 1986 esse disco continua único e por mais que muitos tenham tentado, nenhum chegou próximo disso aqui. E a verdade é que o disco já é curto, mas ele nem utiliza de todo seu tempo de duração para se marcar na história do metal, já que o grito de Tom Araya nos primeiros segundos de “Angel of Death” ecoam até hoje. É um clássico absoluto e o rumo do gênero teria sido muito, mas muito diferente sem ele.

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Out of Step, do Minor Threat, com 21 minutos e 40 segundos
Minor Threat - Out Of Step - Vinyl LP – Rough Trade

Minor Threat é, sem dúvida, um dos maiores nomes de toda história do punk e hardcore. Estabelecendo uma visão criativa no nicho, além de ter inspirado o movimento “straight edge” dentro do punk com uma única faixa em um EP anos antes, o grupo, que infelizmente não teve muitos lançamentos e só lançou esse álbum, viu seus membros se distribuindo pelo cenário em bandas como Bad Religion e Fugazi e carregando o legado do gênero.

Começando pela capa que apresenta uma ovelha negra se distanciando do rebanho. A escrita das letras enfatiza de forma revoltada questões pessoais como problemas de amizades, dificuldades em se sentir parte de algum grupo e arrependimentos passados. Todo esse sentimento, altamente identificável, é ampliado pelo vocal raivoso e preciso de Ian MacKay, auxiliado pelos back-vocals ao fundo em uníssono que pavimentaram o que Hatebreed propõe nos dias de hoje.

Minor Threat produz um álbum direto e reto, atingindo quase 22 minutos de duração, conseguindo ser coeso e rápido de forma acessível, ao mesmo tempo que demonstra uma clara evolução musical dos lançamentos anteriores dos estadunidenses. E as músicas se apresentam de forma variada e versátil, mas em meio aos riffs viciantes e enérgicos de punk, o grupo também demonstra que sabe desacelerar. 

Assim como o disco anterior dessa lista mudou o jogo para o metal, Out of Step é o equivalente para o hardcore e punk, definindo uma fórmula que seria replicada, expandida e alterada no decorrer dos anos, mas nunca repetida e assim como a história da carreira do grupo, que apesar de curta, mudou os rumos da música.

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