Texto enviado pelo colaborador Luis, do Entre e Ouça; clique para conferir seu trabalho
Em 1999, o Slipknot fez sua estreia na música pesada com o lançamento de seu disco homônimo, ganhando notoriedade e gerando grandes expectativas no cenário metal. A banda foi rapidamente associada ao nu metal, gênero que estava em ascensão na época e ganhando cada vez mais espaço na mídia. Com uma sonoridade experimental e diferenciada, feita por 9 membros criativos e misteriosos, usando máscaras e apelidos para ocultar suas identidades, o Slipknot deixou todos ansiosos pelo lançamento de seu segundo disco de inéditas, o agressivo e pesado Iowa.
Lançado em 28 de agosto de 2001, o disco traz um bode em sua capa, deixando evidente o clima obscuro da obra. Devido a grande pressão em torno da banda, o período de gravação do álbum foi sombrio e conturbado. O relacionamento entre os membros do Slipknot não era dos melhores, com vários conflitos internos, além de vários problemas gerados por vícios com drogas. Toda essa raiva e hostilidade foi transportada para as músicas presentes em Iowa, deixando a atmosfera do álbum pesada e intensa.
O produtor Ross Robinson, que também produziu o disco de estreia da banda, fez um ótimo trabalho, deixando evidente a habilidade técnica dos integrantes. Iowa é totalmente preenchido, onde cada integrante tem seu destaque e todos os instrumentos são bem trabalhados, mostrando que os 9 membros são altamente criativos e ativos nas músicas. A dedicação de Ross ao trabalho foi tamanha que, mesmo sofrendo um acidente de Motocross durante as gravações, resultando em uma fratura de compressão vertebral, o produtor retornou ao estúdio depois de apenas um dia de tratamento hospitalar.
O título do álbum é uma homenagem ao estado onde a banda foi formada e o conteúdo lírico é focado em metáforas que abordam temas como misantropia, psicose, fúria, rejeição e hostilidade. O disco abre com a faixa “(515)”, que é o código de área de Des Moines (cidade de Iowa) e tem a palavra death (morte) repetida várias vezes durante a canção. Quem faz os vocais da faixa é Sid Wilson (DJ), que perdeu o avô durante as gravações do álbum e ao receber a notícia de sua morte, o músico entrou no estúdio e gritou repetidamente a palavra “death”, dando assim origem a sombria faixa.
Na sequência, a furiosa “People=Shit” vem com uma dose absurda de brutalidade e peso. Com um instrumental agressivo e técnico, a faixa é uma bela amostra do conteúdo que o ouvinte irá encontrar ao longo da obra. Os vocais guturais de Corey Taylor estão bem marcantes e poderosos, caminhando em sincronia com a força do instrumental.
“Disasterpiece” segue com o instrumental pesado e energético, acompanhada dos vocais viscerais de Corey, a música é um dos destaques do disco. Sendo o segundo single de trabalho, “My Plague” segue uma estrutura diferente das anteriores, já que em seu refrão, Corey usa seus vocais limpos e melódicos, o que dá um belo contraponto com os momentos de fúria presentes na música. A track também fez parte da trilha sonora do primeiro filme da franquia Resident Evil.
Outra canção que apresenta momentos pontuais de melodia é “Everything Ends”. Com uma atmosfera de desilusão e revolta, a performance instrumental do Slipknot é impecável. “The Heretic Anthem” tem um refrão memorável onde Corey berra “If you’re 555, I’m 666” (Se você é 555, eu sou 666), além de ter um instrumental insano e de tirar o fôlego. Antes do lançamento do álbum, a banda distribuiu gratuitamente em seu site uma tiragem de 666 cópias de “Heretic Song”, que seria renomeada como “The Heretic Anthem” em Iowa.
Com um clima claustrofóbico e perturbador, “Gently” quebra o ritmo acelerado do álbum para trazer uma atmosfera sombria e intensa. Um momento diferenciado, porém não menos furioso e catártico. “Left Behind” foi o primeiro single de trabalho e novamente os vocais limpos de Corey marcam presença. Apesar do peso inegável que a música tem, ela tem uma abordagem mais radiofônica em comparação ao resto do álbum. A melodia no vocal, atrelada ao instrumental hipnotizante, deixam a faixa completamente viciante. Facilmente um dos melhores momentos do disco.
“The Shape”, ainda que seja uma boa música, não tem a mesma intensidade e energia das outras, tendo um ritmo menos acelerado e com passagens mais limpas. Em seguida, “I Am Hated” chega com atitude e velocidade. Facilmente uma das melhores faixas de Iowa, é pesada, veloz e contagiante, tirando o fôlego do ouvinte. O disco desacelera em “Skin Ticket”, que vem com um instrumental cadenciado e com vocais que vão conduzir o ouvinte para o momento da explosão.
A dobradinha “New Abortion” e “Metabolic” são duas pedradas musicais. Ambas são carregadas de peso e fúria, mantendo a essência predominante do álbum com maestria. Fechando o disco, “Iowa” reserva uma experiência única e completamente inesperada. Com pouco mais de 15 minutos de duração, a faixa reserva uma atmosfera inquietante e perturbadora, com Corey cantando de forma limpa. Ao final da música, o vocalista berra com intensidade, encerrando Iowa de maneira catártica. Corey revelou que enquanto gravava os vocais da canção ele estava nu, vomitando sobre si mesmo e se cortando com vidro quebrado, dizendo que é de momentos assim que as melhores coisas vem.
O Slipknot conseguiu transformar o momento mais sombrio de sua carreira em um dos seus melhores trabalhos. Iowa consegue transmitir toda a raiva, hostilidade e desgosto que a banda sentia naquele período, transformando todos esses sentimentos negativos em arte. É um trabalho extremo e intenso, com um alto nível de qualidade e com a produção certeira de Ross Robinson.
IOWA é até hoje um dos favoritos entre os fãs e recebeu várias críticas positivas em seu lançamento. Passando pela prova de fogo do segundo disco na base da raiva, o Slipknot entregou uma obra arrebatadora e cravou seu nome na história da música pesada.